Durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais, na noite desta quinta-feira (29/9), o presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a subir o tom contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Na live, o chefe do Executivo federal criticou, mais uma vez, a quebra de sigilo bancário de seu principal ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid. A quebra de sigilo foi autorizada por Moraes, após a Polícia Federal ter encontrado no telefone do auxiliar de Bolsonaro mensagens que levantaram suspeitas sobre transações financeiras feitas no gabinete do presidente da República. A investigação foi revelada pelo jornal Folha de S.Paulo.
Segundo o titular do Palácio do Planalto, Moraes “abusa” do poder que tem como ministro do STF para “tripudiar em cima das pessoas”. Bolsonaro ainda chamou o magistrado de “moleque” e “patife”.
“O Alexandre de Moraes vem com essas baixarias. Quebra o sigilo do meu ajudante de ordens. Quebrou foi o meu sigilo, Alexandre. Isso não é papel de homem, é papel de moleque. É de moleque. […] Seja homem uma vez na vida, Alexandre de Moraes. Deixa de ser um patife, Alexandre de Moraes. Um patife”, afirmou.
Desde que a investigação veio à tona, Bolsonaro tem dito que a quebra de sigilo de seu ajudante de ordens é uma “covardia” e tem acusado Moraes de vazar a informação para a imprensa. Nessa quarta (28/9), após as acusações de Bolsonaro, Alexandre de Moraes determinou que fosse instaurada uma investigação para apurar vazamentos sobre o caso.
Entenda a investigação da PF
O material analisado pela Polícia Federal indica que as movimentações financeiras se destinavam a pagar contas pessoais da família presidencial e também de pessoas próximas da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
A investigação identificou pagamento fracionado para uma tia de Michelle, que cuida da filha do casal, Laura, de 11 anos, quando a primeira-dama está em compromissos ou em viagens. Realizações de depósitos fracionados e saques em espécie chamaram a atenção da polícia, que desconfia da tentativa de ocultar a procedência do dinheiro.
Na terça (27/9), a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) negou irregularidade nas transações. Em nota à imprensa, alegou que o auxílio financeiro da primeira-dama à tia se dá “por questões de confiança pessoal e segurança”.
Conversas por escrito, fotos e áudios trocados pelo tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, ajudante de ordens, com outros funcionários da Presidência sugerem a existência de depósitos fracionados e saques em dinheiro. Há um inquérito policial analisando as transações sob suspeita, mas ainda não há acusação formal. A PF quer descobrir a origem do dinheiro e investigar se há uso de verba pública.
A quebra de sigilo bancário ocorre no âmbito do caso que apurava o vazamento de uma investigação sobre um hacker no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Moraes compartilhou a apuração, que agora tramita no inquérito das milícias digitais.
Nessa investigação sobre o vazamento do caso do ataque ao TSE, Cid virou alvo por ter atuado no episódio e teve o sigilo telemático (e-mails, arquivos de celular e nuvem de armazenamento) quebrado por ordem de Moraes. Na análise desse material, a PF se deparou com as movimentações financeiras que considerou suspeitas.
Em conversas por aplicativos de mensagens, integrantes da Ajudância de Ordens trocam recibos de saques e depósitos e abordam o pagamento de boletos.
A Ajudância de Ordens é uma estrutura que funciona dentro do gabinete pessoal de Bolsonaro e cujos servidores, em sua maioria militares, atuam diretamente no dia a dia do presidente. Ele é considerado um dos funcionários mais próximos de Bolsonaro no Palácio do Planalto.