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Atos pelo impeachment testam capacidade de aglutinação da esquerda

Tentativa é focar na única pauta em comum: o “Fora Bolsonaro”, mas disputas eleitorais e pressão do eleitorado conservador embaralham jogo

atualizado

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Manifestação contra bolsonaro 12 de setembro (1)
1 de 1 Manifestação contra bolsonaro 12 de setembro (1) - Foto: null

Ausentes dos atos convocados pelo Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem Pra Rua, as militâncias do PT e do PSol tentam agora atrair siglas da centro direita para a próxima manifestação pró-impeachment, que acontecerá no dia 2 de outubro. Para cativar defensores de outras matizes ideológicas, o objetivo é manter o foco exclusivo no “Fora, Bolsonaro”, sem deixar que a defesa da candidatura do ex-presidente Lula (PT) domine as bandeiras.

A convocação para os atos, porém, testa a capacidade de aglutinação da esquerda. Pressionados pelo eleitorado conservador, partidos de centro direita ainda resistem a participar.

Nove siglas de oposição — PT, PDT, PSol, PSB, PCdoB, PV, Rede, Solidaderiedade e Cidadania — se reuniram na semana passada na Câmara dos Deputados e resolveram aderir ao ato unificado pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no primeiro domingo de outubro.

Movimentos sociais e organizações sindicais também estão confirmados, e a organização busca agora adesão de outros espectros políticos, mas, entre as siglas do campo da direita, há uma avaliação de que os protestos de outubro já possuem a digital do PT.

Em setembro, os atos convocados pelo MBL acabaram esvaziados depois que PT e PSol decidiram não participar formalmente ao lado dos movimentos gestados no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). A defesa do “Nem Lula nem Bolsonaro” foi um dos fatores que mais afastou a militância petista.

O deputado Junior Bozzella (SP), vice-presidente do PSL, partido que agora busca fusão com o DEM, avalia que tanto as legendas de esquerda quanto as de direita precisam ter desprendimento. Ele é um dos parlamentares da direita que pretende participar dos atos. “Sou a favor de uma discussão ampla, eu acho que tem de ter desprendimento”, assinalou.

“Para um processo de impeachment, tem de ter um desprendimento dos partidos de esquerda, de direita. Acho que a gente está maturando, já esteve pior esta discussão”, avaliou Bozzella.

Os parlamentares de siglas mais à direita e que são favoráveis ao impeachment defendem que o mais confortável seria que os atos fossem convocados por múltiplas lideranças, não apenas encabeçados pelo PT.

O ato unificado do primeiro domingo do mês de outubro, organizado pela Frente Povo Sem Medo, seria um ensaio geral para o do dia 15 de novembro, quando se comemora a Proclamação da República.

A manifestação de novembro possui organização mais difusa, com centralização na entidade Direitos Já, cujo nome faz alusão ao Diretas Já. Alguns parlamentares avaliam que, se a convocação partir de um grupo tido como isento, que é o caso em tela, os protestos poderão atrair mais movimentos sociais e partidos políticos e, consequentemente, ter mais sucesso.

Figuras políticas, como o líder do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), Guilherme Boulos (PSol), defendem que os atos não virem palanque eleitoral. Boulos é pré-candidato ao governo paulista e deve estar do lado do PT na disputa nacional em 2022, mas pondera que o fundamental no momento é se unir em torno da pauta comum.

“Temos de acabar com Bolsonaro antes que Bolsonaro acabe com o Brasil. É isso que está em discussão hoje. Para isso, todos que são contra Bolsonaro são bem-vindos em manifestações, desde que com foco na pauta do impeachment e da defesa da democracia. Manifestação não é nem pode ser palanque eleitoral para 2022”, disse Boulos ao Metrópoles.

“Se Bolsonaro não sair da Presidência, podemos nem ter eleições em 2022 — e todos sabem disso. O foco é o Fora Bolsonaro, não 2022”, frisou.

Frente ampla?

O PSDB ainda não fechou questão sobre se marcará presença nos atos. Em coletiva de imprensa em Brasília na última terça-feira (21/9), o presidente do partido, Bruno Araújo, reforçou que grande parte da sigla resiste a participar de atos ao lado do PT.

“Dentro do PSDB, apesar de não ter havido ainda essa discussão, há majoritariamente uma grande parte refratária a participar de atos políticos com o Partido dos Trabalhadores”, disse Araújo, citando a perpetuação da pandemia no país e a preocupação com aglomerações.

Em outra linha, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que é presidente de honra do partido, defendeu a presença do tucanato nas manifestações das siglas de oposição.

“Não importa quem convoque. Havendo uma convocação que seja possível de participar, dizer o que pensa é bom”, disse FHC em entrevista ao jornal O Globo divulgada na quinta-feira (23/9).

“É bom que se crie uma frente ampla. Que haja diversidade de opiniões, mas que sejam todas a favor da democracia. Eu não discrimino (o PT). O PT não é intrinsicamente contra a democracia. Nunca foi. O governo do PT muitas vezes dava a sensação de (ser). Mas não há um sentimento genuíno do PT de ser contra a diversidade de opiniões”, pontuou o ex-presidente.

Com as disputas eleitorais já batendo à porta, é tida como incerta a presença de nomes que se vendem como terceira via para 2022 e que estiveram presentes nos atos de 12 de setembro, na Avenida Paulista.

Candidato nas prévias do PSDB, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, afirmou que as manifestações são “absolutamente legítimas”, mas se esquivou de dizer se irá ou não participar. Sustentou que, se o partido decidir compor os atos, será preciso avaliar as condições de uma eventual ida.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), também presente nos atos do MBL, ainda não indicou se tem disposição para participar das manifestações mais amplas.

Organizadores dos protestos esvaziados de setembro e críticos ferrenhos do PT, MBL e o VPR não devem participar dos protestos da oposição.

“Muito difícil [participar dos atos convocados pelo PT]”, disse o deputado e cofundador do MBL, Kim Kataguiri (DEM-SP). “Os blogueiros petistas nos chamaram de fascistas e até chegaram a fazer acusações de estupro e de agressão contra membro do MBL. Não dá pra se juntar com quem joga sujo assim, ainda mais sabendo que o interesse verdadeiro do PT é deixar Bolsonaro sangrando até 2022.”

Depois de ter criticado a ausência de petistas na Paulista em setembro, Ciro Gomes (PDT) deve se fazer presente nos atos de outubro. Na ocasião, o pedetista afirmou que “ainda há tempo para o PT amadurecer” e se aliar com desafetos para conseguir tirar Jair Bolsonaro do Palácio do Planalto.

Já tendo dito que não concorrerá novamente à cadeira presidencial, Marina Silva (Rede) não participou dos atos de setembro e ainda não deixou claro se pretende estar nas próximas manifestações.

Outros nomes que ainda não indicaram participação são os do ex-ministro de Bolsonaro Luiz Henrique Mandetta (DEM), do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e do empresário João Amoêdo (Novo), que concorreu a presidente em 2018 e enfrenta agora um imbróglio interno no partido que ajudou a fundar.

Termômetro do impeachment

Levantamento do Metrópoles realizado em setembro mostrou que o impeachment não tem votos suficientes para passar hoje no Congresso.

“O povo na rua pressiona os parlamentares, mesmo os de direita, a se posicionarem contra Bolsonaro. Quando começamos os atos, lá atrás, ninguém imaginaria que hoje Bolsonaro estaria tão enfraquecido. É uma construção gradual que dá resultado”, avalia Boulos.

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