Zeca Dirceu vai ao Paraguai tentar “importar” escândalo de Itaipu
Deputado petista se reuniu com parlamentares do país vizinho para juntar denúncias e tentar convencer seus pares no Brasil a investigar
atualizado
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No Brasil, o assunto despertou pouco interesse. No Paraguai, porém, o acordo – agora desfeito – com o governo brasileiro para a distribuição da energia da Usina de Itaipu continua sendo o tema mais debatido e ainda ameaça o cargo do presidente do país vizinho, Mario Abdo Benítez. Para tentar movimentar no Brasil as denúncias sobre o favorecimento de uma empresa ligada a políticos do PSL, o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR) passou a última quarta-feira (21/08/2019) em Assunção.
O parlamentar paranaense, filho do ex-ministro José Dirceu, que está preso cumprindo pena por condenação na operação Lava Jato, se reuniu com parlamentares e investigadores paraguaios do Ministério Público.
No Congresso do país vizinho, está funcionando uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o ato bilateral de distribuição da energia de Itaipu, assinado em maio pelos dois países e anulado no início de agosto após a divulgação dos termos do acordo, que seriam prejudiciais ao Paraguai.
O Ministério Público e os parlamentares do Paraguai investigam também o possível favorecimento pela estatal de energia paraguaia à empresa Léros, ligada ao político Alexandre Giordano (PSL-SP), suplente do senador Major Olímpio (PSL-SP), e que, segundo mensagens vazadas pela imprensa paraguaia, seria considerada representante da “família presidencial brasileira”.
“Eles (paraguaios) estão com as apurações bem mais adiantadas, eu estou coletando informações. A gente precisa tratar com prudência e não vou dar publicidade agora, porque carece de um aprofundamento”, afirma Dirceu. “Mas considero grave o que aconteceu. Está evidente que se buscava beneficiar uma empresa privada em detrimento dos interesses de Brasil e Paraguai. Precisamos entender e questionar a conivência ou participação do governo brasileiro nisso”, completa o petista.
O PT pediu à Procuradoria-Geral da República (PGR) que investigue a denúncia, e promove requerimentos para convocações nas Comissões de Relações Exteriores do Congresso. Até agora, porém, o assunto não decolou. “O que tirei daqui (do Paraguai) foi a sugestão de um trabalho conjunto com deputados e senadores brasileiros e paraguaios. Isso, claro, vai depender dos líderes partidários e da presidência da Câmara, que analisa inclusive um pedido de formação de comissão externa”, afirma Dirceu.
Protestos
Partidos de oposição no Paraguai organizam para o próximo sábado (24/08/2019) uma mobilização nacional de protestos contra o presidente Mario Abdo Benítez e o vice, Hugo Velázquez. Os políticos pretendem construir apoio popular para retomar o processo de impeachment contra os dirigentes do país.
A possibilidade de reabertura desse processo foi aventada na última quarta-feira (21/08/2019) pelo presidente do Senado paraguaio, Blas Llano. “A Câmara resolveu arquivar, mas o processo pode ser reiniciado se houver elementos novos. Existe a possibilidade”, disse ele, segundo o jornal local ABC Color.
Outro lado
A Léros tem negado irregularidades e afirmado que apenas estava interessada em uma licitação aberta pela estatal energética paraguaia. Segundo informações obtidas pelo jornal ABC Color em colaboração com o jornal O Estado de S. Paulo, Alexandre Giordano viajou duas vezes para Assunção em jatos particulares acompanhado de executivos da Léros.
O político disse que não houve irregularidades na negociação. “Não tenho nenhuma relação com esse acordo. A Léros me chamou e eu fui lá escutar a proposta da Ande (estatal paraguaia) sobre venda de energia. Existe uma licitação aberta, que é pública. Eu não comprei nada. A própria Léros não assinou nada”, disse ele, ao Estadão.