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Temer apela a Alckmin e Doria para manter PSDB na base aliada

O presidente quer mostrar que o governo ainda tem força para aprovar as reformas defendidas pelo prefeito e pelo governador

atualizado

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NEVES/A7 PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Doria é eleito prefeito de São Paulo no primeiro turno
1 de 1 Doria é eleito prefeito de São Paulo no primeiro turno - Foto: NEVES/A7 PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

O presidente Michel Temer (PMDB) apelou ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e ao prefeito, João Doria, ambos do PSDB, para que eles trabalhem para esvaziar o caráter deliberativo da reunião da Executiva ampliada do partido, marcada para esta segunda-feira (12/6). O encontro pode definir a saída dos tucanos da base aliada ao Palácio do Planalto.

Após a vitória de Temer no julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na sexta-feira (9), o presidente, por meio de aliados e ministros do PSDB, pediu a Doria e a Alckmin que deem mais tempo a ele para reorganizar sua base. Além disso, o peemedebista quer mostrar que o governo ainda tem força para aprovar as reformas defendidas pelo prefeito e pelo governador, principalmente a da Previdência. Dentro do próprio PSDB é dado como certo que Temer não conseguirá fazer as reformas sem o apoio dos tucanos.

O medo de Temer é de que a saída do PSDB do governo crie um “efeito manada”, na expressão de um senador do PMDB próximo a Temer, às vésperas de a Câmara dos Deputados analisar uma eventual denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente. Ou seja, a saída dos tucanos pode motivar outros partidos a seguir o mesmo caminho.

Na avaliação do Planalto, se os dois tucanos paulistas trabalharem para esvaziar a reunião ou para cabalar votos pela permanência do PSDB na base, a vitória de Temer estará garantida na Executiva, que tem 17 integrantes, caso haja uma votação deliberativa.

Rumo a 2018
Para auxiliares de Temer, as pretensões eleitorais de Alckmin e Doria favorecem um entendimento deles com o Planalto neste momento. A dupla também receia que a saída do PSDB da base governista leve o partido automaticamente para a oposição, o que favoreceria o PT e deixaria o governador numa posição de isolamento político para 2018.

A ambos ainda interessaria manter Temer no cargo, ainda que com baixa popularidade, até 2018, quando um dos dois poderá ser o candidato a presidente.

No PSDB, a compreensão é de que a substituição de Temer, via eleição indireta no Congresso, poderia abrir caminho para Rodrigo Maia (DEM-RJ) ser candidato e permanecer no cargo de presidente, o que elevaria o cacife eleitoral do partido dele para 2018 e dificultaria um entendimento com os tucanos.

Até a noite de domingo (11), Doria e Alckmin trabalhavam fortemente pelas pretensões de Temer dentro do PSDB. Porém, ambos não querem tomar o carimbo de “fiador” de um presidente prestes a ser denunciado no Supremo Tribunal Federal. Por isso, a dupla aceita dar mais um crédito a Temer, mas com prazo de validade definido e sujeito a uma mudança de rumos, na dependência de eventuais “fatos novos” e decisões da Justiça.

No domingo, Alckmin manteve seu discurso: “O importante é que o PSDB vai apoiar as reformas. Se vai preservar os ministérios, não importa”. O Planalto já tem apoios do grupo do senador Aécio Neves (PSDB-MG) na Executiva, além dos quatro ministros tucanos – Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores), Bruno Araújo (Cidades), Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo) e Luislinda Valois (Direitos Humanos).

Os governistas esperam aprovar neste mês a reforma trabalhista no Senado, enquanto reorganizam as forças na Câmara. O Planalto receia que uma decisão desfavorável a Temer no PSDB, somada à repercussão da reportagem da revista Veja de que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) espionou o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo, desmobilize o Congresso.

Crise de identidade
A reunião desta segunda-feira ocorre em momento difícil na história do PSDB, fundado em 1988. Um tucano experiente lembrou uma frase do Manifesto ao Povo Brasileiro, feito pela sigla no ano da fundação: “Longe das benesses oficiais, mas perto do pulsar das ruas, nasce o novo partido”. Para ele, este é o momento de o partido decidir de qual desses lados quer chegar até o ano que vem.

O partido deve adiar mais uma vez a decisão. “A ideia é não tomar uma decisão. É muito curto o tempo entre a decisão do TSE e a reunião”, disse o secretário-geral do PSDB, deputado federal Silvio Torres (SP).

Futuro em jogo
Mesmo se o governo Temer sobreviver às denuncias, o que está em jogo agora, dizem os dirigentes tucanos, é o futuro do partido e seu papel em 2018. A avaliação recorrente é de que o PSDB já perdeu o protagonismo do desembarque e ainda queimou a largada ao prospectar a eventual candidatura de Tasso Jereissati (CE) em caso de eleição indireta.

Se desembarcar agora, o PSDB vai sozinho. Ou, como disse um cacique, “seríamos mais um PPS da vida”, em alusão ao desembarque do partido do ex-ministro da Cultura Roberto Freire.

Com o mantra da “cautela” os quatro ministros do PSDB, a maioria dos senadores e governadores, liderados por Geraldo Alckmin, Fernando Henrique Cardoso, o senador afastado Aécio Neves (MG) e o presidente interino, Jereissati, defendem a permanência.

Os grupos de Alckmin e de Aécio atuam nos bastidores para evitar a saída. A avaliação de aecistas é de que o rompimento com o governo Temer pode prejudicar o mineiro. O pensamento é de que, caso o PSDB desembarque, o PMDB atuará para que o tucano seja cassado.

“Não consta que as bases estão se manifestando. Na bancada da Câmara são 47 deputados federais. Esse grupo defende majoritariamente que o partido continue apoiando o governo e as reformas”, minimizou o senador Paulo Bauer (SC), líder do PSDB no Senado. Apesar da negativa de Bauer, porta-voz da ala pró-Temer, as bases estão em ebulição.

Nova Executiva
Diante do cenário de incertezas, parte da bancada do PSDB na Câmara articula apresentar uma “PEC Partidária” para renovar a direção executiva tucana no segundo semestre, e não em maio, quando termina o atual mandato dos dirigentes.

A ideia é eleger o senador Tasso Jereissati em caráter definitivo e tirar Aécio, que mantém o cargo de presidente afastado, do cenário partidário. “Foi um erro renovar o mandato da executiva esse ano. É possível antecipar a mudança (para antes de maio de 2018). Só é preciso encontrar uma fórmula”, disse o vice-presidente da sigla, Alberto Goldman.

Pelo estatuto, o caminho seria a realização de uma convenção partidária com os mesmos delegados que elegeram a atual direção. Assim, seria possível eleger uma nova executiva.

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