Para ser aprovado em sabatina, Janot aproximou-se de caciques do PMDB

Livro “Nada menos que tudo” contará como o então indicado para a PGR se articulou para "romper isolamento" da instituição

Carlos Estênio Brasilino
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No livro “Nada menos que tudo”, prestes a ser lançado e no qual promete revelar, em 256 páginas, os “bastidores da operação [Lava Jato] que colocou o sistema político em xeque”, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot conta o trajeto que percorreu até tomar posse no cargo, após ser indicado pela presidente Dilma Rousseff (PT). “Meu caminho rumo ao inferno”, relembra.

No percurso, estava a sabatina a que deveria ser submetido na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, num momento em que, devido ao episódio do Mensalão, as relações entre o Ministério Público e a classe política estavam bem esgarçadas.

Para Janot, era preciso defender o diálogo institucional para romper o isolamento da PGR. “Fui criticado como se tivesse querendo me aproximar dos políticos”, relembra. “Mas retrucava: ‘Você precisa manter o diálogo para não asfixiar a instituição'”. Para ser aprovado na sabatina, foi aconselhado a se aproximar de grupos de senadores, entre eles, o comandado pelo então PMDB de Renan Calheiros (AL) e Álvaro Jucá (RR).

Segundo o ex-PGR, os ânimos com o “complicado mundo político” foram acirrados graças a algumas decisões de seu antecessor, Roberto Gurgel. Sem querer tecer críticas diretas ao colega, Janot diz que o problema de Gurgel foi o “timing”: às vésperas da eleição para a presidência do Senado, o então procurador-geral denunciou o candidato Renan Calheiros por peculato, falsidade ideológica e uso de documentos falsos no caso do romance com a jornalista Mônica Veloso, que teria as despesas pagas pela construtura Mendes Júnior.

A ponte para os caciques do PMDB foi feita, segundo o livro, pelo senador Vital do Rêgo Filho, da Paraíba, que presidia a CCJ. “Expliquei a ele que minha atuação na PGR seria estritamente institucional”, conta Janot. “Disse que eu não hesitaria se tivesse que denunciar algum político, mas garanti que minhas ações não teriam viés partidário ou qualquer conotação de perseguição política”.

Atenuar resistências
De acordo com o ex-procurador-geral, Rêgo Filho começou a fazer costuras internas no Senado para “atenuar resistências”. O grupo do PMDB era formado por, além de Calheiros e Jucá, Eunício Oliveira (CE), Jáder Barbalho (PA), Edison Loão (MA) e Valdir Raupp (RO). Todos viriam a ser, posteriormente, investigados na Lava Jato por Janot, que tornou-se inimigo figadal de Calheiros.

O então indicado à PGR relata que o diálogo com os senadores se deu nos mesmos termos da conversa com Rêgo Filho: cada argumento de que a PGR deveria trabalhar sem perseguição política era rebatido com a promessa de que a nova gestão da instituição seria estritamente técnica. “Senadores, se houver crime, a gente vai atrás. Se não houver, a gente não vai. Ninguém vai criar nada”, teria dito Janot.

Fio do bigode
Nesse trecho do livro, o ex-procurador-geral desfila uma série de elogios a Jucá, “o mais articulado do grupo, que impressionava pelo profissionalismo e pela educação”. Janot lembra que o parlamentar, embota tenha sido alvo de vários inquéritos da PGR, jamais o hostilizou e sempre lidou com o assunto de forma institucional.

“Não resvalava no ‘toma-lá-dá-cá’ e sempre respeitava os acordos sofridos na base do fio do bigode”, relembra. “Entendi porque Jucá se tornara uma espécie de sempiterno líder do governo no Congresso”.

Tiro e suicídio
No livro, o ex-procurador-geral conta que esteve por um fio de dar um tiro no ministro do Supremo Tribunal federal (STF) Gilmar Mendes. Janot ainda disse que, após cometer o ato tresloucado, pretendia cometer suicídio.

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