Mantega repassava dados privilegiados a bancos, afirma Palocci

Ex-ministro da Fazenda — que está preso — contou em negociação por delação premiada que seu sucessor pedia, em troca, apoio ao PT

Douglas Carvalho
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O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega montou uma espécie de central de venda de informações privilegiadas para o setor financeiro durante os governos dos petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. A acusação foi feita por seu antecessor na pasta, Antonio Palocci, em negociação para firmar acordo de delação premiada no âmbito da Lava Jato.

De acordo com Palocci, a sede seria o prédio do Ministério da Fazenda em São Paulo, na Avenida Paulista. No local, Mantega — que antes havia chefiado o Planejamento, Orçamento e Gestão — costumava despachar às sextas-feiras. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.

Palocci acrescentou que o sucessor antecipava, por exemplo, informações sobre juros e edição de medidas provisórias, que eram de interesse de bancos. Em troca, o ex-chefe da Fazenda pedia apoio das instituições ao PT. Palocci contou, ainda, que agentes do sistema financeiro se preparavam e se protegiam diante de medidas que afetariam o setor.

Por meio de seu advogado, Fábio Tofic Simantob, Mantega declarou que avalia a acusação com “estranheza”. “Qualquer caixa de agência bancária do país sabe que quem representava os interesses do mercado financeiro era o próprio Palocci”, alegou o defensor.

“Guido Mantega, pelo contrário, assumiu sempre posições que desagradavam os bancos, a ponto de ser demonizado. Não houve pessoa mais execrada pelo mercado do que Mantega. A informação, por isso, não faz sentido”, rebateu. O advogado se referiu a divergências entre o ex-ministro e os bancos no período em que ele comandou a economia do país, de março de 2006 a janeiro de 2015.

Segundo Palocci, o esquema teria começado no governo Lula, em 2006, e seguido durante a gestão de Dilma (2011-2016), enquanto Mantega chefiou a Fazenda, até 2015.

Condenação
O juiz federal Sergio Moro, condutor das investigações da Operação Lava Jato em Curitiba (PR), sentenciou Palocci a 12 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, envolvendo contratos com a Odebrecht na construção das sondas da Sete Brasil e o Estaleiro Enseada do Paraguaçu. Ele está preso desde 2006 e tem se dedicado a formar os anexos de sua proposta de acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR).

Já Mantega é apenas investigado na ação. No ano passado, ele teve prisão preventiva decretada, acusado de ter pedido ao empresário Eike Batista R$ 5 milhões para saldar dívidas de campanha eleitoral do PT. O ex-ministro, porém, foi liberado.

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