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Lupa: nove erros repetidos pelos presidenciáveis durante o 1º turno

A Lupa verificou alguns dos exageros reincidentes

atualizado

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Ao longo da campanha do primeiro turno das eleições deste ano, de 16 de agosto até 4 de outubro,  a Lupa checou 325 afirmações dos candidatos à Presidência – entre debates, sabatinas e entrevistas a jornais e à televisão. Em 45 dias, algumas informações equivocadas foram repetidas pelos candidatos.

Lupa pinçou alguns desses exageros reincidentes.  Veja:

“O Joaquim Barbosa mesmo disse, nessa época do Mensalão, que eu era o único deputado da base aliada do governo que não pegou dinheiro na Petrobras”
Jair Bolsonaro (PSL)

Jair Bolsonaro repetiu a afirmação em pelo menos cinco ocasiões: no Jornal Nacional, na Globonews, no Roda Viva, em entrevista ao jornalista Boris Casoy, da RedeTV, e em entrevista à Record, na última quarta-feira (04). Mas exagerou. Durante o julgamento do mensalão, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa disse que Bolsonaro era um dos parlamentares que votou contra a aprovação da Lei das Falências, feita em 2013.

Essa votação foi usada por Barbosa como exemplo de compra de votos no Congresso. Mas o atual candidato do PSL não foi  o único mencionado pelo magistrado. Ainda vale destacar que, em 2018, Joaquim Barbosa disse que considerava Bolsonaro “um risco para o país”.

Procurado, Jair Bolsonaro não retornou.


“[O problema são os] 17 mil quilômetros de fronteira seca que nós temos com os maiores produtores de drogas do mundo”
Geraldo Alckmin (PSDB)

Alckmin citou esse dado no evento GovTech Brasil, no Roda Viva e no debate da TV Aparecida. Os 17 mil quilômetros equivalem à fronteira terrestre total do Brasil (exatos 16.886 quilômetros), e não representa a fronteira que o país tem “grandes produtores de drogas”. Segundo relatório do Departamento de Estado dos Estados Unidos e o Relatório Mundial sobre Drogas de 2017, da ONU, três países que fazem fronteira com o Brasil são tidos como grandes produtores de cocaína: Colômbia, Peru e Bolívia. Com eles, a fronteira brasileira é de 8.062 quilômetros.

Procurado, Alckmin informou que apenas “elencou os motivos pelos quais o monitoramento das fronteiras é tão complexo: além da extensão, parte delas se dá com três países identificados internacionalmente como grandes produtores de drogas (Colômbia, Peru e Bolívia)”.


“Eu apresentei 15 projetos no Congresso Nacional visando a aumentar a taxa de crescimento e a taxa de renda e o número de empregos”
Henrique Meirelles (MDB)

Henrique Meirelles repetiu essa informação na convenção do partido e na sabatina de Folha, UOL e SBT. Em fevereiro de 2018, ministros do governo Michel Temer apresentaram 15 projetos para estimular o crescimento da economia. Deles, somente cinco foram, de fato, encaminhados pelo Poder Executivo na gestão de Meirelles. Outros nove são de autoria de congressistas e um deles, a reforma do PIS/Cofins, ainda não foi formalmente apresentado ao Congresso. Até hoje, só um desses projetos, referente à reoneração da folha de pagamento, foi aprovado e sancionado com veto parcial. Outro, sobre a extinção do fundo soberano, foi apresentado como medida provisória – que, posteriormente, foi rejeitada pelo Congresso.

Procurado, Meirelles não retornou.


“Eles [em SP] sempre foram contra [o Imposto sobre Valor Agregado, IVA]”
Ciro Gomes (PDT)

A defesa da reforma tributária foi feita por diversos candidatos ao longo da campanha. Vários, inclusive, defenderam a reunião de impostos federais sob um mesmo tributo: o IVA (Imposto sobre Valor Agregado) – Ciro Gomes entre eles. O candidato do PDT, porém, errou ao se colocar como única liderança que historicamente defendeu a medida.

Há pelo menos um líder político de São Paulo que defendeu a criação de um imposto unificado, do modo que propõe Ciro. Em 1999, o então governador de São Paulo, Mário Covas, do PSDB, defendeu a unificação de impostos sobre consumo, unindo sete tributos e criando o IVA. A fala foi repetida no debate da RedeTV e da  TV Aparecida.

Procurado, Ciro Gomes não retornou.


“[Na época das eleições de 2016,] o PT estava sozinho, na berlinda, enquanto todas as delações relativas ao PSDB, PP, PMDB estavam represadas”
Fernando Haddad (PT)

Para tentar justificar sua derrota quando concorreu à reeleição para prefeitura de São Paulo e o rendimento do PT nas eleições de 2016, Haddad disse na GloboNews e no Jornal Nacional que, naquele ano, apenas seu partido era alvo das denúncias e operações que marcaram a Operação Lava Jato. Mas, àquela altura, já havia sido divulgada a chamada “Lista do Janot” como ficou conhecido o conjunto de políticos que a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu que fossem investigados por suposto envolvimento nos esquemas descobertos na Lava Jato.

Em março de 2015, mais de um ano antes da campanha eleitoral de 2016, a PGR, comandada por Rodrigo Janot, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de inquérito contra 47 políticos, sendo sete deles do MDB, 32 do PP e um do PSDB. Ainda completavam a lista seis parlamentares do PT e um do PTB.

Procurado, Haddad não retornou.


“Ao final [do governo], a Folha de S.Paulo estampava em manchete que eu era o governador mais popular do país”
Alvaro Dias (Podemos)

Alvaro Dias disse isso no debate da Band, da RedeTV, no Roda Viva e na sabatina feita por Folha, UOL e SBT. Mas, nas capas que o jornal Folha de S.Paulo publicou de 1º de janeiro de 1990 a 30 de abril de 1991, não há manchetes sobre Dias ou sobre sua popularidade. A Lupa consultou o acervo digital da Folha e solicitou uma pesquisa ao próprio arquivo do jornal. Procurada, a assessoria do candidato enviou uma capa do jornal O Paraná, datada de 10 de março de 1988, no segundo ano de mandato de Dias. Nela há uma reportagem que diz que a aprovação do então governador era de 90%.

Procurado, Alvaro Dias não retornou.


“[O Brasil é o] Único país [onde] não existe voto impresso”
Cabo Daciolo (Patriota)

Responsável por algum dos momentos mais lembrados do primeiro turno da campanha, Cabo Daciolo participou dos debates da BandRedeTVSBTRecord. Em todos as ocasiões, mencionou alguma informação exagerada ou falsa. No caso do voto impresso, o erro foi no primerio encontro entre os presidenciáveis na TV, na Band. Mas de acordo com o Instituto Internacional para a Democracia e a Assistência Eleitoral (IDEA Internacional), 32 países usam urnas eletrônicas, como no Brasil – entre eles, Suíça, Canadá, Austrália, alguns estados dos Estados Unidos, México, Peru e Índia – a maior democracia do mundo em número de eleitores.

Procurado, Daciolo não retornou.


“[São] 6 milhões de famílias sem casa”
Guilherme Boulos (PSOL)

Durante a pré-campanha, Guilherme Boulos foi impreciso ao falar sobre a quantidade de famílias sem casa, e fez essa afirmação em sabatina promovida pelo portal Metrópoles. No primeiro encontro entre os candidatos à Presidência, o debate da Band, voltou a errar.

Mas a Fundação João Pinheiro (FJP), que fornece os dados sobre moradia ao Ministério das Cidades e é considerada a principal referência nesse assunto, não elabora “estudos ou estimativas sobre o número de pessoas sem casa”. Diz que 6,35 milhões é o tamanho do déficit habitacional no país em 2015 e que déficit habitacional não é sinônimo de “famílias sem casa” – como sugeriu Boulos. Pessoas que vivem em condições precárias estão incluídas nesse cálculo, por exemplo. Em 2017, a Fundação Getúlio Vargas usou a mesma metodologia e estimou que o déficit habitacional estaria em 7,7 milhões de domicílios – não de famílias.

Procurado, Boulos disse que “a expressão ‘famílias sem casa’ é uma explicação para o termo déficit habitacional, que é essencialmente técnico”.


“A corrupção desvia R$ 200 milhões do dinheiro brasileiro”
Marina Silva (Rede)

Marina Silva repetiu essa informação no debate da TV Aparecida, do SBT e da Record. Trata-se de um mito, uma vez que não existem dados oficiais sobre o montante de recursos desviados por corrupção no Brasil. A candidata também não fixa um período. Não há dados sobre o montante total de recursos desviados por corrupção no Brasil.

Nos últimos anos, o dado foi mencionado em algumas ocasiões por Deltan Dallagnol, procurador da República e membro da Operação Lava Jato. Em diversas ocasiões, Dallagnol afirmou que são desviados R$ 200 bilhões por ano no Brasil em escândalos de corrupção. O dado chegou a ser mencionado no filme sobre a Operação Lava Jato, lançado em setembro do ano passado. A Lupa checou a informação em 2016, e, à época, procurador afirmou que sua fonte era o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) – que nunca produziu pesquisas para calcular quanto de verba pública foi desviada pela corrupção no Brasil.

Procurada para comentar, Marina não retornou.

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