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Lula: “Se Justiça quer usar o meu caso para funcionar, que seja assim”

Em discurso exaltado no estacionamento do Teatro dos Bancários, ex-presidente disse querer provar inocência para ser candidato

atualizado

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Daniel Ferreira/Metrópoles
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1 de 1 lula21 - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

Um dia após ter marcado, para o dia 24 de janeiro, o julgamento de seu recurso na Operação Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou: “se a Justiça quiser usar o meu caso para funcionar, que assim seja”. Em um discurso enérgico, realizado no estacionamento do Teatro dos Bancários durante evento organizado pelo diretório do PT-DF, nesta quarta-feira (13/12), Lula reafirmou sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto. “Não quero ser candidato para me proteger, quero provar minha inocência para ser candidato”, destacou.

Lula chegou a afirmar ter passado “a vida inteira” criticando a morosidade da Justiça, mas, se for para julgar o seu caso, “só espero que os juízes leiam o processo”. “Já provei minha inocência, quero agora que eles provem minha culpa”, disse. O ato no Teatro dos Bancários marcou o fim de uma série de agendas do petista nesta quarta, em Brasília.

O ex-presidente criticou a mídia, o Ministério Público e o juiz Sérgio Moro, quem o condenou a 9 anos e 6 meses de cadeia por corrupção e lavagem de dinheiro, no caso do triplex do Guarujá (SP). “Tenho desafiado o Moro e a Lava Jato. No dia que eles provarem um crime que eu cometi, eu venho à praça pública pedir desculpas”, afirmou. Caso a decisão de Moro seja confirmada pelo TRF4, Lula corre o risco de ficar inelegível para 2018, de acordo com a Lei da Ficha Limpa.

Lotação máxima
Um forte esquema de segurança, com reforço policial e bloqueios de trânsito, foi montado para o evento no Teatro dos Bancários. Representantes de movimentos sindicais e sociais da capital formaram filas na porta do espaço, desde o início da tarde, e lotaram rapidamente o auditório. Após a exibição de um vídeo, a organização decidiu que os discursos seriam feitos do lado de fora, onde dezenas de militantes permaneceram, debaixo d’água, depois de o teatro atingir a lotação máxima. A chuva deu trégua pouco antes de Lula começar a discursar na área externa.

O ex-presidente subiu o tom ao discursar para a militância: “Eles têm que saber que estão lidando com homem, e com o único político deste país que tem coragem de abraçar o povo onde ele vai”, disse, após reforçar sua inocência e que se mantém determinado a disputar, mais uma vez, o Palácio do Planalto. “Eu quero que ladrão seja preso. Não quero é que o povo seja penalizado. Se eles não sabem como consertar esse país, eu sei”, afirmou.

Participaram do evento a presidente nacional do partido, senadora Gleisi Hoffman (PR), a dirigente do PT-DF, deputada federal Erika Kokay, os senadores Lindbergh Farias (RJ) e Fátima Bezerra (RN), e também a federal Benedita da Silva (PT-RJ). O ex-ministro Ricardo Berzoini (SP), que é bancário e já comandou a sigla nacionalmente, também esteve no ato.

GDF
Durante o evento, não foi antecipado quem será o candidato do Partido dos Trabalhadores para o Governo do Distrito Federal nas eleições 2018. Quando Luiz Inácio pediu apoio à militância, a fim de ajudar a escolher um nome para a disputa ao Buriti, os participantes gritaram “Erika”, referindo-se à atual presidente do PT-DF. “Estou percebendo que Brasília quer o nome dela”, afirmou.

Lula elogiou a parlamentar e disse que, com uma política como Kokay no diretório estadual, “o PT não fica sem candidatura ao governo”. O ex-presidente, no entanto, não confirmou a federal como a escolha para disputar o GDF pelo partido em 2018. “Vocês sabem que a deputada é um nome forte no Congresso Nacional, uma liderança importante. Não podemos correr o risco de ficar sem ela”, comentou.

Chamou atenção, no ato, a ausência de representantes da política local enrolados com a Justiça, como Wilmar Lacerda, ex-presidente do PT-DF e ex-assessor da liderança do partido no Senado. Após ter sido acusado de oferecer lanches para manter relações sexuais com uma adolescente, ele perdeu a possibilidade de assumir a titularidade do mandato de senador, em substituição a Cristovam Buarque (PPS-DF), que pretendia licenciar-se para percorrer o país em pré-campanha à Presidência.

Também não participou o ex-governador petista Agnelo Queiroz, preso em março pela Polícia Federal, durante a Operação Panatenaico, por supostamente ter recebido propina das empreiteiras responsáveis pela construção do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. Outro que não compareceu foi o ex-ministro José Dirceu, condenado na Lava Jato e, hoje, cumprindo prisão domiciliar e monitorado por tornozeleira eletrônica: ele precisa recolher-se às 19h, e o evento no Teatro dos Bancários começou após as 20h.

Defesa e ataque
“A única coisa que eu não quero é ser condenado, mesmo sendo inocente. Sei que o objetivo é tentar evitar que o PT volte ao governo”, disse o ex-presidente durante a manhã, em um encontro com parlamentares da bancada petista. Lula disparou contra a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e o Judiciário.

“É muito mais uma ação política do que jurídica. Eu não quero ser candidato se for culpado. Seria leviandade da minha parte”, continuou. Na mesma reunião, Paulo Pimenta (RS) foi escolhido novo líder da bancada do PT na Câmara, sucedendo a Carlos Zarattini (SP).

No final da manhã, Lula participou de um evento com catadores de materiais recicláveis. O ex-presidente reforçou novamente o discurso sobre as eleições de 2018, seu desejo de concorrer à Presidência da República no próximo ano e de defesa contra as acusações da Lava Jato.

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