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Filho de Cabral foi citado em conversa de Sérgio Côrtes com delator

Bate-papo entre o ex-secretário de Saúde do Rio de Janeiro e Cesar Romero embasou deflagração da Operação Fatura Exposta, nesta terça (11/4)

atualizado

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Facebook/Marco Antônio Neves Cabral/Vagner Ulisses
marco antônio cabral
1 de 1 marco antônio cabral - Foto: Facebook/Marco Antônio Neves Cabral/Vagner Ulisses

O deputado federal Marco Antônio Cabral (PMDB-RJ), filho do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), foi citado em conversa entre o ex-secretário de Saúde Sérgio Côrtes, preso nesta terça-feira (11/4), e o delator Cesar Romero, da Operação Fatura Exposta. A colaboração premiada dele embasou a deflagração da ação.

A investigação mira em fraudes no fornecimento de próteses ao Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia e em desvios da Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro, na gestão de Sérgio Cabral. O ex-governador está preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu (RJ), desde novembro do ano passado, por corrupção.

A Procuradoria da República aponta que Sérgio Côrtes tentou embaraçar as investigações e a celebração do acordo de delação de Cesar Romero.

“A tentativa de embaraço às investigações e à celebração do acordo é evidente quando levamos em conta que Sérgio Côrtes não entrava em contato com o Colaborador há meses (‘Que há muito tempo Sérgio Côrtes não entrava em contato com o Colaborador; Que a última vez que Côrtes entrou em contato com o Colaborador foi por meio de uma mensagem de WhatsApp no dia de seu aniversário em agosto de 2016; Que o Colaborador não esperava que Sérgio Côrtes o procurasse para tentar articular uma colaboração premiada conjunta’;)”, afirmou o Ministério Público Federal, no Rio de Janeiro.

“Digno de registro que, conforme narrado acima, e comprovado pelas conversas gravadas, Sérgio Côrtes se valeu de interposta pessoa (Sérgio Vianna Jr.) para procurar o Colaborador na tentativa de embaraçar as investigações, chegando até mesmo a oferecer dinheiro para pagamento de advogados.”

Confira a conversa entre Sérgio Côrtes e Cesar Romero:

Sérgio Côrtes: “Essas duas semanas aí, o próprio Marco Antônio (filho de Sérgio Cabral): “Cesar tá delatando… você tá sabendo disso, né?”. Eu falei: “Tô, tá todo mundo já falou…Cesar tá delatando…”.

Cesar Romero: “Eu não tô delatando…”

Côrtes: “Não, tô te falando, Cesar tá delatando, não sei o que, parara… tá bom… vou fazer o que… eu já tinha decidido fazer, né? Fiz essa decisão quando soube da história do Carlos. Agora, não tem jeito. Vou fazer. E você já estava fazendo…”

Romero: “Mas eu não tô fazendo delação…”

Côrtes: “Peraí, Cesar… você já estava fazendo, aí foi quando eu falei pro Júnior (Sergio Eduardo Vianna Júnior, cunhado de Côrtes e primo de Cesar Romero): “Júnior, o ideal é que pelo menos a gente tenha alguma coisa parecida… porque se ele falar de A,B,C,D e eu falar de C, D, F, G, fudeu, porque A e B eu não falei e F e G ele não falou”…

Romero: “Olha só… eu fiz uma delação premiada… dessa menina…”

Côrtes: “Você já me contou essa história, eu lembro disso…”

Romero: “Dessa menina. Agora ela foi chamada de novo nessa Força Tarefa do Rio de Janeiro pra prestar mais uns depoimentos sobre aquele Vinícius Claret que é um dos doleiros… eu acompanhei ela nesse depoimento, de forma que o que eu tenho visto, não é minha especialidade, eu conheço o cara de Curitiba que é o bam-bam-bam disso e eu vou conversar com ele, até liguei pra ele… eu acho que uma delação tem que jogar a merda toda no ventilador, porque se você ficar selecionando como o Júnior me disse, que você ia…”

Côrtes: “Não, eu pretendo colocar mais coisas…”

Romero: “Quatro fatos. Oi…não sei o quê…”

Côrtes: “Ok, tudo bem, botar no INTO o Cláudio (Cláudio Vianna, irmão de Romero) vai te pagar…”

Romero: “Meu filho, não tem como… você acha que os procuradores vão achar que você fez o que fez na Secretaria e não fez nada no INTO… você não pode ser infantil, Sérgio…”

Côrtes: “Eu sei mas o INTO, cara, é o pós secretaria, porque antes da secretaria, eu tinha uma coisa muito limitada no INTO…”

Romero: “Então tem que entregar essa coisa muito limitada, que que era só uma mesada? Era só uma mesada. Mas tem que ter alguma coisa. Os cara querem uma história verossímil. Não adianta eu contar a história da carochinha pros caras que os caras não acreditam…”

Côrtes: “Sabia que só tem uma notícia boa nessa aí… notícia boa porque eu acho, né? O Júnior me falou que o Cláudio falou: “porra cês tinham que estar com mesmo advogado que não sei o que, parara, parara…” eu tinha entendido quando tive com ele que tava tentando levar o Miguel [MIGUEL ISKIN] para fazer a colaboração… Miguel não quer fazer, disse que não vai fazer, ele se nega, não sei o que parara, parara… não sei que lá…ele falou: “Não posso fazer pra você e pro Miguel, não tem como, não sei o que” mas ele falou, que como nós dois somos delatores, é pra nós dois fazermos juntos, ele disse…”

Romero: “Sinceramente, não sei se isso é factível ou não…”

Côrtes: “Não, ele já falou…”

Romero: “Quem falou?”

Côrtes: “O Mirza (Flávio Mirza). Ele falou: “Eu posso advogar pra vocês dois porque vocês não vão contar histórias díspares… entendeu, então… vocês vão delatar a mesma coisa, as mesmas histórias, as mesmas coisas, que é o que a gente vai combinar, entendeu… de grana, não vamos dizer o que a gente recebeu… se não fudeu… porque é o que a gente tem que devolver… ele até falou:
[inaudível]”

Romero: “Vocês estão na fase de negociar benefícios, essas coisas?”

Côrtes: “Que isso, cara… A primeira vez, a primeira reunião foi hoje…. Eu não fui, foi ele com o procurador… e eu falei que pode dizer pra ele que eu tive contato com o César..”

Romero: “Dizer pra quem?”

Côrtes: “Pro procurador… “acho besteira você não ir”…”

Romero: “Qual o nome?”

Côrtes: “Leonardo (Leonardo Freitas), o chefe, que foi orientado, orientando dele no doutorado…”

Romero: “Eu acho que tem que falar tudo… tudo… porque, pelo seguinte…”

Côrtes: “Como é que eu vou falar de não sei que… César, a gente não sabe…como é que prova? Isso não é prova.”

Romero: “Tá, aí tem crime, crime da evasão… você, eu, … mas quem se fode sou eu porque eu era o gestor, né… em tese, eu que era o operador… foi feita uma licitação, a empresa pra participar da licitação… empresa nacional vinha e botava R$ 1,1 milhão…”

Côrtes: “Aham”

Romero: “Aí a empresa internacional vinha e cotava 1 milhão porque ela tinha que pegar o preço dela que custava 500 e agregar aos impostos… pra participar da licitação… ela ganhou com preço de… 1 milhão… tá….quem importou foi a Secretaria de Estado…”

Côrtes: “Aham”

Romero: “E a secretaria de Estado tinha que pagar a ela sem os impostos e pagou com os impostos… ou pagava ela com os impostos e ela trazia os equipamentos, na entrada do equipamento no país, recolhia os impostos… aqui tem crime fiscal… eu vou dizer que eu não sabia… que eu via, que passava…”

Côrtes: “Não, não. Você vai dizer, você vai falar sobre isso?”

Romero: “Não. Mas você não acha que os caras não vão perguntar?”

Côrtes: “Não vão. Como, César?! César, me explica como é que eles vão saber quais são os processos que o Miguel participou se ele não tava… acho que a gente tinha que pegar os processos sobre os caras que “participou”…”

Romero: “Ele nunca participou na secretaria…”

Côrtes: “Então. Por isso que tô entregando o Miguel (Miguel Iskin) na UPA, não sei o que, parara parara… mas como é que foi feito?… foi feito assim, assim, assado.”

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