Ex-governador de MS preso lavava dinheiro com livros do filho, diz PF
Instituto de ensino de direto também é investigado em fraude de R$ 235 milhões. André Puccinelli e o filho foram presos nesta terça
atualizado
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O ex-governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), utilizou a venda de livros de direito constitucional de seu filho, o advogado André Puccinelli Júnior, para lavar dinheiro de um esquema de corrupção que movimentou cerca de R$ 235 milhões, segundo a Polícia Federal (PF). Os dois foram presos preventivamente, na manhã desta terça-feira (14/11), como parte da Operação Papiros de Lama. A informação é do jornal O Globo.
“Entende-se que o ex-governador comandava, tinha operadores e era beneficiário do esquema de lavagem que perdura até hoje”, declarou o delegado da PF e diretor regional de combate ao crime organizado Cleo Mazziotti.
A Operação Papiros de Lama, 5ª fase da Lama Asfáltica deflagrada esta manhã, foi realizada pela Polícia Federal utilizando como base a delação do pecuarista Ivanildo da Cunha Miranda, que foi operador de André Puccinelli entre 2006 a 2013 e é apontado como operador do empresário Joesley Batista, da JBS, em Mato Grosso do Sul.
Alvo de fases anteriores da operação, Ivanildo foi o único a procurar as autoridades para negociar um acordo de delação, segundo Mazziotti.O esquema revelado pelo delator, ainda segundo a PF, envolvia o uso dos direitos autorais da venda de livros de direito escritos por André Puccinelli Júnior e o repasse de valores pelo Instituto Ícone, voltado para o ensino jurídico e do qual Puccinelli Júnior é sócio.
Segundo o delegado, Ivanildo recebia 30% dos valores repassados em propina no desvio de obras públicas do estado.”O senhor Ivanildo pegava esse dinheiro, muitas vezes em espécie, e recebia uma quantia por ser operador do esquema. Foram repassados R$ 20 milhões na época da campanha no último período de governo. Só pela JBS foi repassado R$ 1,2 milhão ao Instituto Ícone”, Mazziotti ao O Globo.
Audiência de custódia
No fim da tarde desta terça, em audiência de custódia realizada na 3ª Vara Federal de Campo Grande, o juiz Ney Gustavo Paes de Andrade rejeitou pedido da defesa dos Puccinelli para substituir a prisão preventiva por medidas cautelares. Segundo o advogado da família, Renê Siufi, “nada foi encontrado” nas residências de seus respectivos clientes durante o processo de busca e apreensão realizado pela manhã.
Mais cedo, a PF divulgou em nota que a operação apura desvios de recursos públicos por meio do direcionamento de licitações, superfaturamento de obras, aquisição fictícia ou ilícita de produtos, financiamento de atividades privadas sem relação com a atividade-fim de empresas estatais, concessão de créditos tributários com vistas ao recebimento de propina e corrupção de agentes públicos.
Foram executados dois mandados de prisão preventiva, contra Puccinelli e seu filho; dois de prisão temporária e outros seis de condução coercitiva, 24 de busca e apreensão em Campo Grande (MS), Nioaque (MS), Aquidauana (MS) e São Paulo (SP). A Justiça também determinou sequestros de bens e valores de até R$ 160 milhões dos suspeitos.
O ex-governador já tinha sido alvo de buscas em maio deste ano no âmbito da mesma operação e, em 2016, em outra investigação batizada de Fazendas da Lama. Procurada, a defesa de Ivanildo Miranda não foi localizada.