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Especialistas avaliam eleições 2020, as primeiras sem coligações

Nomes muito populares, partidos estruturados e grupos temáticos devem ganhar força com novo modelo

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Urna eletrônica
1 de 1 Urna eletrônica - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Pela primeira vez sem coligações para os pleitos proporcionais, as eleições deste ano, segundo especialistas ouvidos pelo Metrópoles, podem favorecer candidaturas personalistas e partidos com capilaridade e estruturas mais consolidadas. Como consequência da mudança de regra, o Brasil também deve assistir a uma pulverização da disputa, com número recorde de candidaturas.

“Vai ser uma eleição inchada por conta do fim das coligações, o que deve fazer com que partidos com mais estrutura, dinheiro e mobilização de base consigam colocar mais nomes na urna do que os outros”, aponta o mestre em Ciência Polícia e sócio da consultoria Arko, Lucas de Aragão.

Além dos maiores partidos e dos nomes muitos populares, ele aposta que terão vantagem grupos identificados com pautas específicas. “Grupos temáticos — evangélicos, membros da bancada da bala, agropecuária etc. — já têm narrativa pronta e mais facilidade de chegar ao seu público-alvo.”

“Nós vamos testar o fim das coligações. Do ponto de vista do fim das alianças, pode significar um número muito maior de gente na disputa — há quem estime que tenhamos 1 milhão de candidatos. Pode haver uma pulverização e virar uma guerra interna nos partidos”, destacou o cientista político Humberto Dantas.

Polarização Bolsonaro e Lula

Comentando a polarização, em nível nacional, entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o PT, representado principalmente pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, eles apostam que a tendência é que esse cenário esquerda x direita seja visto mais fortemente apenas em cidades maiores.

“São mais de 5,5 mil cidades no país, então a gente não vai assistir uma reprodução dessa polarização nos municípios porque eles têm suas próprias características”, destacou Humberto.

Ele chama atenção para o fato de que as disputas nos municípios costumam envolver realidades locais que, muitas vezes, aliás, independem de partidos. “Normalmente, nelas, grupos fortes não se restringem a uma legenda, são grupos que controlam a política local e vão dominar esses partidos de acordo com uma lógica própria.”

“Nem sempre o futuro de uma eleição federal pode ser previsto a partir da municipal. Em 2016, o PSDB teve uma grande vitória eleitoral e isso não se traduziu em força em 2018, tanto que o Geraldo Alckmin (ex-governador de São Paulo) teve uma votação muito ruim (4,76% dos votos válidos)”, concordou Lucas. Ainda assim, destacou, “algumas cidades são chave para a eleição federal”.

Esquerda: “momento decisivo”

Outra avaliação de Lucas é de que a próxima eleição será o “momento de definição” para a esquerda brasileira. “No ano passado, o Lula conseguiu transferir seu capital político. Agora, ele vai ser testado: sua capacidade de mobilização causa dúvidas; as bases históricas do partido têm perdido força; há outras siglas de esquerda criticando o Lula, membros do PT fazendo autocrítica, se afastando da retórica tradicional e tendo uma postura pragmática”, destacou.

“A gente pode ter o PT num resultado melhor do ponto de vista numérico, mas não do ponto de vista de qualidade. Vão ter dificuldades em capitais, vejo o partido pouco competitivo — o melhor desempenho deve ser no Nordeste”, completou.

A leitura de Humberto é de que o Partido dos Trabalhadores, ainda que tenha ido para o segundo turno em 2018, “não ofereceu nenhuma grande reflexão acerca da sua agenda”. Ele vê um potencial de crescimento do PSol, que deve disputar com o deputado federal Marcelo Freixo a Prefeitura do Rio de Janeiro. “Tem aparecido bem, mas tem limitações, especialmente de estrutura e dinheiro.”

Por outro lado, Lucas avalia que, mesmo que o PSol saia fortalecido, a consolidação desse processo dependeria do sucesso da gestão de Freixo. “O PRB, por exemplo, que elegeu o Marcelo Crivella (atual prefeito do Rio), vinha de um crescimento do número de prefeitos, tinha uma boa organização entre os evangélicos, mas o fato de a gestão de Crivella ser impopular e criticada, acabou virando um problema”.

“Por outro lado, o Novo, por exemplo, pegou um estado quebrado, que é Minas Gerais, com o Romeu Zema, e ele está indo bem. É uma oportunidade, mas um risco também”, apontou.

Bolsonaro

O presidente terminou 2019 com um plano ousado, depois de romper com o partido pelo qual foi eleito em 2018: viabilizar a criação de uma nova legenda, a Aliança pelo Brasil. Os especialistas classificam o movimento como “arriscado”. “Ele vai ser muito questionado porque, para conseguir criá-lo a tempo, ele vai ter que manobrar”, pontuou Humberto.

Soma-se à questão eleitoral o fato de que, na avaliação de Humberto, Bolsonaro sequer dá a devida importância às eleições municipais. “Ele nunca foi um deputado de atendimento de bases, mas, sim, de causas, as dos militares. O presidente é, na verdade, um antimunicipalista, ele não tem visão estratégica dessas eleições”, defendeu.

Já o PSL, sem o presidente e com um racha interno, não deve repetir o mesmo desempenho eleitoral do ano passado.

MDB

Maior partido do Brasil em número de filiados e de prefeituras, a estrutura do MDB pode favorecê-lo — o mesmo não se pode dizer, contudo, da imagem pública dos integrantes, afetados especialmente pela Operação Lava Jato.

Nos últimos anos, foram alvos desde o ex-presidente Michel Temer; passando pelo senador Renan Calheiros, que presidiu por quatro vezes o Senado Federal; o ex-senador Romero Jucá; o ex-ministro da Moreira Franco; entre outros.

“É a eleição dele, o MDB não dorme em eleição municipal, tem noção da importância desse pleito. É o mais estruturado, é quem mais tem diretórios no país, mas é um partido velho”, apontou. Para Lucas, a perspectiva é de que o MDB “sofra, mas se mantenha grande”.

PSDB

Em 2016, o PSDB estava no céu: capitalizando o sentimento antipetista e na dianteira do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). O partido foi o que mais cresceu, em comparação com o pleito anterior. Eles saíram de 695 prefeitos em 2012 para 793 vitórias naquele ano.

Agora, os especialistas são unânimes em dizer que o resultado dificilmente se repetirá. “O partido vem de uma série de acusações e, além disso, em 2016 não existia a onda bolsonarista. Muitos dos antigos eleitores tucanos migraram para o presidente”, pontuou Lucas.

“E outra: muitos que votaram no Bolsonaro não votaram para elegê-lo, votaram para impedir o outro lado. E o antipetismo estava na mão do PSDB, mas não está mais.”

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