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Crivella diz que crimes nas areias do Rio cresceram. Verdade?

No Facebook, prefeito conta ter pedido a Temer prioridade aos projetos que deixou no Senado

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1 de 1 crivella1 - Foto: DIVULGAÇÃO

Alvo de críticas por conta de sua viagem de Carnaval, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, gravou um vídeo no Facebook no início desta semana para justificar ida à Europa. Segundo ele, a viagem foi com a intenção de buscar recursos que pudessem auxiliar o Estado do Rio no combate à violência. No entanto, errou ao analisar alguns dados.

“Temos que vigiar as areias agora (…) está ocorrendo furto nas areias”
Marcelo Crivella, prefeito do Rio, em vídeo postado no Facebook no dia 19 de fevereiro

Entre 2016 e 2017, os furtos caíram 10% nos bairros em que estão as principais praias cariocas. Além disso, não é possível distinguir quantos desses crimes ocorreram nas “areias” e quantos fora delas.

Em 2016, nas oito delegacias que atendem aos bairros do Flamengo, Botafogo, Urca, Copacabana, Leme, Ipanema, Leblon, São Conrado, Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes, foram registrados 28.181 furtos, contra 25.220 em 2017.

Mas roubos de rua, somatório das ocorrências de roubos a transeuntes, de celular e em coletivos, cresceram quase 30%. Saltaram de 5.742 para 7.415 no mesmo período e na mesma área. Roubos são casos em que há contato direto com a vítima, enquanto furtos são crimes onde não há encontro entre o infrator e o proprietário do objeto subtraído.

Para concluir esta checagem, a Lupa ainda contatou o Instituto de Segurança Pública (ISP) para saber se havia alguma forma de precisar se os crimes cometidos no município do Rio haviam crescido “nas areias”. De acordo com o órgão, ligado à Secretaria de Segurança Pública do estado, existe uma ferramenta que aprofunda a análise das ocorrências registradas em território fluminense, mas essas informações são de uso interno e exclusivo das polícias.

Chamado de ISPGeo, a ferramenta foi desenvolvida em parceria com o Instituto Igarapé e permite a criação de mapas de calor do crime, bem como a edição desses mapas – sempre por parte dos policiais. Além disso, os dados também podem ser usados para alocar pessoal e viaturas das polícias em todo estado.

Procurado para comentar esta checagem, Crivella informou que se referiu aos “casos notórios de violência” nas areias da orla flagrados durante o Carnaval.

“Nas calçadas, nas ruas, o crime caiu muito”
Marcelo Crivella, prefeito do Rio, em vídeo postado no Facebook no dia 19 de fevereiro

Entre 2016 e 2017, todos os indicadores estratégicos de criminalidade observados pelo ISP cresceram na capital fluminense. O número de casos de letalidade violenta, índice que engloba o total de homicídios dolosos, lesões corporais seguidas de morte, latrocínio e homicídios decorrentes de intervenção policial registrados, saiu de 1.909 ocorrências em 2016 para 2.125 em 2017, representando aumento de 11%.

Os roubos de rua, somatório das ocorrências de roubos a transeuntes, de celular e em coletivos, cresceram 10%. Foram de 62.197 casos, em 2016, para 67.971, em 2017.

A situação é ainda pior no índice de roubos de veículos, que aumentou 34% entre os dois anos. Um total de 19.314 ocorrências foi registrado em 2016. No ano passado, 25.895.

Segundo Crivella informou, em nota, ele se referiu aos roubos e furtos nas areias durante o Carnaval deste ano, “exibidos em reportagens como um dos exemplos da escalada de insegurança na cidade, o que motivou a intervenção federal”.

“Tenho muitos projetos em Brasília, e eu já conversei com o presidente Michel Temer, que vão ser priorizados porque o Rio precisa sair dessa grave crise”
Marcelo Crivella, prefeito do Rio, em vídeo postado no Facebook no dia 19 de fevereiro

Crivella de fato esteve com o presidente Michel Temer no sábado (17) para tratar da intervenção decretada na segurança pública do Rio. E enquanto senador (de 2002 a 2016), o atual prefeito realmente apresentou projetos com justificativas referentes à situação de violência do Rio de Janeiro. Vários deles ainda tramitam no Senado.

Mas não é Temer quem dita as “prioridades” na Casa – e sim o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), que nesta quarta (21) defendeu a autonomia do Legislativo em relação ao Planalto. Segundo ele, uma das matérias com prioridade agora é a da senadora Ana Amélia (PP-RS), que tenta proibir o congelamento do dinheiro do fundo penitenciário.

Ao menos um projeto apresentado por Crivella relacionado à área de segurança está pronto para ser votado. O texto propõe que apenas a Justiça Federal julgue crimes cometidos por organizações paramilitares e milícias. O argumento é de que as investigações desses casos têm de ser feitas pela Polícia Federal, por conta do envolvimento das polícias estaduais nesses grupos. Não há previsão de data para a votação.

O atual prefeito também apresentou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para “permitir que guardas municipais atuem no combate ao crime organizado na região das fronteiras interestaduais”. A ideia é autorizar os municípios a constituírem guardas municipais para, em convênio com a Polícia Federal, agir nas divisas dos estados. À época, Crivella justificou a proposta falando da “guerra civil que tem vitimado o Rio de Janeiro”.

O texto chegou a ser arquivado e está parado na Comissão de Constituição e Justiça. Assim como todas as PECs, esta não poderá ser votada enquanto houver intervenção no Rio de Janeiro.

Procurado para comentar quais os projetos de sua autoria seriam priorizados, Crivella informou que articulou com o governo federal a construção de cinco mil unidades do programa Minha Casa Minha Vida, em reunião realizada na quarta-feira (21) com o ministro das Cidades, Alexandre Baldy. Nesse encontro, segundo a nota, o prefeito também acertou a ampliação do corredor expresso de ônibus Transbrasil, cujas obras foram retomadas no ano passado, e ainda defendeu a construção de reservatórios na cabeceira dos rios Pavuna e Acari, na Zona Norte, como forma de conter a água da chuva.

“Não tivemos greves de garis [durante o Carnaval]”
Marcelo Crivella, prefeito do Rio, em vídeo postado no Facebook no dia 19 de fevereiro

Ao contrário do que aconteceu durante o Carnaval de 2014, quando a prefeitura estava nas mãos de Eduardo Paes (MDB), a edição deste ano realmente não registrou nenhuma paralisação da categoria. Entre a sexta-feira (9) e o último domingo (18), a Comlurb recolheu 1.076 toneladas de lixo na cidade do Rio, entre blocos de rua, entornos do Sambódromo e na Avenida Intendente Magalhães, por onde desfilaram as escolas de samba.

*Com reportagem de Leandro Resende

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