Batalha por verbas publicitárias ajudou a derrubar Santos Cruz

General era contra aumentar o investimento na campanha pela reforma da Previdência. Guedes e Wejngarten foram contrariados

Guilherme Waltenberg ,
Larissa Rodrigues
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O modelo de administração do ex-ministro da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, trouxe uma brecha que, em poucos meses, tornou-se responsável pela sua queda. Econômico por natureza, ele quis levar o ajuste fiscal, proposto pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL), até a sua principal pauta: a reforma da Previdência.

Acontece que a reforma da Previdência é considerada pelo governo, sobretudo pelo ministro mais forte de Bolsonaro, Paulo Guedes, como uma “guerra” a ser vencida.

A expressão não é apenas uma metáfora. A ideia é usar parte das estratégias de guerra para atingir o objetivo, que é aprovar uma reforma próxima àquela enviada pelo governo, não uma “reforminha“, termo usado por Guedes para tentar garantir uma economia próxima a R$ 1 trilhão. E uma parte desse processo envolve, na visão tanto de Guedes quanto do secretário de Comunicação, Fábio Wejngarten, aumento das verbas publicitárias para meios de comunicação e redes sociais com foco na reforma.

Alguns cálculos do governo apontam que sindicatos e associações contrárias às mudanças nas aposentadorias estariam gastando aproximadamente R$ 100 milhões. Santos Cruz, inicialmente, queria que o valor ficasse em R$ 30 milhões. Ele avaliava que, se o governo está promovendo um ajuste, nada mais certo do que ele fazer o mesmo em sua área. Mas nem todos concordaram.

Em uma das primeiras batalhas entre Santos Cruz e Wejngarten – que é alinhado ao filho do presidente Carlos Bolsonaro – a verba cresceu para R$ 40 milhões. Daí por diante, o ex-ministro não cedeu novamente. A ideia que Guedes e Wejngarten compartilhavam era a de que seria necessário ao menos igualar o que gastam os sindicatos. Isso significaria praticamente triplicar o valor determinado até então. Pode parecer muito, mas Michel Temer, ao longo de 14 meses, gastou R$ 110 milhões na sua campanha. E não foi bem-sucedido.

A partir daí, a relação entre ambos azedou. Wejngarten, segundo fontes do Palácio, chegou a levar a Bolsonaro um suposto print de uma conversa de Santos Cruz na qual ele criticaria o presidente. A veracidade da mensagem foi questionada e nunca assumida pelo general.

“O general Santos Cruz sempre falou o que pensava ao PR [presidente da República], nunca foi desleal nem realizou coisas por trás, como o vazamento de notícias falsas divulgando mensagens atribuídas ao general no WhatsApp, e que geraram as críticas do Olavo de Carvalho“, contou uma fonte próxima.

Greve
O jeito direto de Santos Cruz deflagou o último grande embate que ele teve no governo. Enquanto o núcleo duro do Planalto acredita em um fiasco da greve desta sexta-feira (14/06/2019), Santos Cruz estava batendo na tecla de que era preciso ficar atento aos movimentos. Ele chegou a mandar a sua equipe monitorar e tentar um contra-ataque, mas os demais ministros não queriam. Houve, então, uma discussão com o presidente e o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM). Isso ocorreu no dia anterior à sua demissão.

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