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Análise: Santos Cruz abre divergência sobre soberania na Amazônia

Pelo Twitter, ex-ministro da Secretaria de Governo alerta para omissão do governo brasileiro nas discussões da ONU sobre a floresta

atualizado

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Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
general carlos alberto dos santos cruz
1 de 1 general carlos alberto dos santos cruz - Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A postura do presidente Jair Bolsonaro (PSL) sobre a Amazônia encontra resistência entre os militares. O general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz abriu divergência com o governo em relação à política adotada para a região.

Na opinião do militar, o Brasil se omite nas discussões sobre o futuro da floresta e, com isso, perde espaço nos foros internacionais que tratam do tema. As impressões de Santos Cruz foram divulgadas pelo Twitter nesta quarta-feira (18/09/2019).

“Amazônia – é preocupante a falta de ação brasileira para liderar a questão”, postou o general às 10h20. “Brasil fora da liderança. Inaceitável. Afeta diretamente a soberania”, acrescentou.

Nesta mensagem, ele pediu atenção do governo para documentos discutidos em foros internacionais. Um deles, produzido no dia 6 de setembro durante encontro de representantes de países da América do Sul realizado na cidade colombiana de Letícia.

O militar da reserva fez um segundo post sobre o mesmo assunto às 16h34. “Amazônia – Antes da Assembleia Geral ONU e do Sínodo o Brasil precisa divulgar urgente seu plano para a Amazônia (áreas internacional e nacional). Ações imediatas e de longo prazo. A omissão brasileira na liderança põe em risco a soberania”, reforçou.

Pelo currículo e pela patente, deve-se prestar especial atenção ao alerta do general. Ex-secretário de Governo da Presidência da República, Santos Cruz tem larga experiência no exterior. Entre 2006 e 2009, comandou as forças de paz no Haiti (Minustah) e, de 2013 a 2015, esteve à frente da missão de Paz na República Democrática do Congo (Monusco).

O general fala com a autoridade de quem participou dessas iniciativas das Nações Unidas e, também, foi ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República nos primeiros meses de Bolsonaro no Palácio do Planalto. O peso de suas palavras autoriza a conclusão de que os militares divergem em relação às atitudes sobre a Amazônia.

Santos Cruz chama a atenção para a omissão do governo no mesmo dia que se soube que o Brasil não estará entre os países que vão discursar na Cúpula do Clima, marcada para a próxima segunda-feira (23/09/2019), véspera da Assembleia Geral das Organização das Nações Unidas (ONU). Essa informação confirma a constatação do general em relação à perda de liderança do país na definição nas políticas globais para a Amazônia.

Nesse ponto, vale destacar a confusão feita por Bolsonaro na condução dos assuntos da região. Ao mesmo tempo que adotou um discurso perdulário nos aspectos relativos à preservação da floresta, o presidente recorreu a bravatas em um rumoroso debate público sobre o assunto travado com o presidente da França, Emmanuel Macron.

As observações de Santos Cruz, ao que parece, buscam resgatar o pensamento que prevaleceu nas últimas décadas nas Forças Armadas. Em vez de discursos inflamados contra supostos inimigos externos, o Brasil precisa, antes de mais nada, fazer sua parte na preservação da floresta.

Ao se omitir nas instâncias multilaterais que tratam do assunto, o país fica mais vulnerável diante das pressões internacionais. Para o bem da Amazônia e pela soberania do Brasil, Bolsonaro deveria ouvir o general.

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