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Análise: movimentos erráticos prejudicam futuro do governo Bolsonaro

A influência do filho Carlos ofusca a autoridade do presidente, subverte a hierarquia do governo e conturba o ambiente político do país

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Daniel Ferreira/Metrópoles
Votação na Câmara dos Deputados do impeachment ao afastamento da presidenta Dilma Rousseff – Na foto o deputado Jair Bolsonaro Brasília – DF 17/04/2016
1 de 1 Votação na Câmara dos Deputados do impeachment ao afastamento da presidenta Dilma Rousseff – Na foto o deputado Jair Bolsonaro Brasília – DF 17/04/2016 - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

Recomenda-se boa dose de otimismo a quem quiser acreditar no sucesso do governo Jair Bolsonaro (PSL). Pelo visto até agora, fica mais fácil fazer previsões sombrias. Vamos aos fatos.

Desde que saiu do hospital, na última quarta-feira (13/2), o presidente debate-se com uma crise grave no núcleo central do governo. Em consequência desse desarranjo, aguarda-se, para esta segunda-feira (18), a demissão do ministro Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência da República.

Para um governo empossado há menos de dois meses, trata-se de uma perda surpreendente. Determinante na campanha vitoriosa do capitão, Bebianno parecia desfrutar de prestígio e da confiança irrestrita do chefe. Mesmo assim, em pouco tempo, tornou-se descartável.

Causou estranheza, sobretudo, o desgaste imposto ao ministro por Bolsonaro e pelo filho Carlos. Vereador do PSC no Rio de Janeiro, o “pit bull” do presidente potencializou a crise ao usar o Twitter para chamar Bebianno de “mentiroso”.

Nunca se viu antes em Brasília esse tipo de interferência familiar no Palácio do Planalto. Racionalmente, não há razões para se imaginar que atitudes dessa natureza contribuam para o bom andamento do governo.

Ao contrário. O comportamento de Carlos ajuda a diminuir a autoridade do pai. Se há descontentamento com o ministro da Secretaria-Geral, o normal seria o próprio presidente tomar a frente do processo de correção das atitudes do ministro.

Não há espaço para filhos na liturgia do poder. Muito menos quando provocam mais confusão em um ambiente de disputas políticas onde a liderança do presidente tem peso determinante no encaminhamento das políticas de governo.

A sensação de dependência em relação a Carlos enfraquece Bolsonaro diante dos congressistas que vão apreciar as medidas de interesse do Planalto. Na política brasileira, qualquer fragilidade contribuiu para aumentar a resistência do Parlamento às pretensões do presidente.

Do ponto de vista dos ministros, parece impróprio um chefe vinculado ao Twitter do filho. A queimação pública de Bebianno alerta os colegas da Esplanada sobre a efemeridade de seus cargos. Pelo visto, basta um arroubo de insatisfação do vereador em rede social para derrubar um titular do primeiro escalão. Nessas condições, ninguém trabalha tranquilo.

Fora da hierarquia militar
O jeito Bolsonaro de governar também destoa quando visto pelo lado das tradições militares. As Forças Armadas se estruturam em rígida hierarquia e as decisões são tomadas em razão das patentes dos oficiais. Nesse ambiente, chega a ser constrangedor ver o capitão comandante em chefe dividir as decisões com um filho.

Parece improvável, por exemplo, que os generais Hamilton Mourão, vice-presidente da República, Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, e Carlos Alberto dos Santos Cruz, da Secretaria de Governo, considerem normal esse modelo de tomada de decisão.

Por incrível que pareça, a rusga dos Bolsonaro com Bebianno, pelo menos em público, nada tem a ver com a denúncia inicial, relacionada ao desvio de dinheiro eleitoral durante a campanha do ano passado. O descontentamento da família se refere, supostamente, ao comportamento do ministro em contatos com setores da mídia.

Para um governo eleito com discurso de combate à corrupção, o descaso com as acusações de uso irregular das verbas de campanha evidencia a contradição entre os discursos do candidato e a prática do presidente. A tolerância com o mau uso de recursos públicos agrada aos parlamentares interessados em negociar vantagens com o governo, mas certamente contraria os eleitores que acreditaram na narrativa dos palanques e dos tuítes de Bolsonaro.

Outros focos de problemas
A turbulência na Secretaria-Geral da Presidência da República soma-se a outros focos de problemas para o governo e para os brasileiros. Na lista de fatos graves, destacam-se as suspeitas de envolvimento de outro filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), com movimentações financeiras atípicas e sua proximidade a pessoas ligadas a milícias do Rio de Janeiro.

Nas últimas semanas, também surpreenderam declarações estapafúrdias de pelo menos dois ministros. O titular do Meio Ambiente, Ricardo Salles, desprezou o papel do ambientalista Chico Mendes na área que comanda no governo.

Ministro da Educação, o colombiano Ricardo Vélez Rodriguez, afirmou em uma entrevista que brasileiros quando viajam para o exterior se comportam como “canibais”. Pela impropriedade da declaração, pode-se concluir facilmente que se trata de uma pessoa despreparada para conduzir uma das pastas mais importantes para o país.

Com tantos movimentos erráticos, o governo rapidamente ergue obstáculos para suas pretensões. Para desfazer essas arestas, o caminho mais eficiente seria o presidente usar sua credibilidade para formar consensos em torno das propostas formatadas pelos ministros. Bolsonaro, no entanto, gasta, antes da hora, a autoridade proporcionada pelas urnas.

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