Análise: cocaína em avião agrava imagem negativa do Brasil no exterior

Prisão na Espanha de sargento da aeronave presidencial se soma à sequência de fatos que, nos últimos anos, expuseram os problemas do país

Eumano Silva
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A prisão nesta quarta-feira (26/06/2019), na Espanha, de um sargento da Aeronáutica com 39 quilos de cocaína teve imediata repercussão fora do país. O transporte desta quantidade de droga por um avião da comitiva presidencial ajuda a prejudicar, um pouco mais, a imagem do Brasil no exterior.

O fato agrega constrangimento ao novo status do país na comunidade internacional. Desde as manifestações violentas de 2013, os estrangeiros acompanham o desarranjo político, econômico e social dentro de nossas fronteiras.

Neste período, os brasileiros deram vexame na organização da Copa e das Olimpíadas. Também assustaram o mundo com as denúncias de corrupção em torno da Petrobras, a polarização política e a crise econômica que levaram ao impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).

O governo Michel Temer (MDB), com o escândalo da JBS – principalmente –, projetou um pouco mais da lama brasileira para fora do país. Assim, o antigo estereótipo de país do futebol e do samba, em poucos anos, deteriorou-se com a exposição dos nossos defeitos. Se havia alguma dúvida sobre essa decadência, foi dissipada simbolicamente pela derrota por 7 a 1 para a Alemanha no Mineirão em 2014. Junte a isso, um ex-presidente preso e outro que passou alguns dias na cadeia.

Há duas semanas, a divulgação de diálogos atribuídos ao então juiz Sergio Moro e a integrantes da Operação Lava Jato provocou mais um solavanco na República. Se, para os brasileiros, está difícil acompanhar e entender tudo o que se passa na política nacional, não se pode exigir que no exterior se compreenda a realidade daqui.

Mas, desde as eleições de 2018, o Brasil chama a atenção do mundo também por ter escolhido um presidente de extrema direita, alinhado com grupos radicais e governos populistas de outros cantos do planeta, como Estados Unidos e Hungria. Os sinais emitidos em relação ao meio ambiente e aos direitos humanos, especificamente, provocam reações contrárias ao presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Nesta quarta-feira, a chanceler da Alemanha (mesmo país do 7 a 1), Angela Merkel, chamou a atenção para a agenda do atual governo nessas áreas. “Vejo com grande preocupação a questão da atuação do novo presidente brasileiro. Vejo como dramático o que está acontecendo no Brasil”, afirmou Merkel, representante da centro-direita europeia.

A chanceler alemã pretende discutir as questões relacionadas ao Brasil durante a reunião do G20 desta semana no Japão. Foi justamente na viagem para este encontro de cúpula que o avião presidencial reserva levou o sargento preso por transportar cocaína.

A descoberta de 39 quilos de droga em uma aeronave oficial flagrou um crime internacional e, também, alertou para riscos na segurança da comitiva do presidente. Com alguma ironia, o episódio ainda expõe de forma surpreendente a fragilidade do discurso de combate ao tráfico de entorpecentes do atual governo. Enquanto ministros acusam as universidades de fazer balbúrdia e abrigar “maconheiros”, a estrutura oficial é usada para transportar pó.

Se até aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) carregam mala de cocaína, pode-se deduzir a dificuldade para se coibir o tráfico de drogas e armas pelas fronteiras e pela costa. Difícil, também, imaginar como a imagem do país vai melhorar nessas condições.

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