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Análise: Bolsonaro se cerca de generais e esvazia cargos civis

Militares de alta patente vão assumir cargos estratégicos no Planalto e esvaziar as funções de ministros civis, como Onyx Lorenzoni

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1 de 1 Caralos-Alberto-dso-Santos-Cruz-general-brasileiro-Congo-foto-Monusco1 - Foto: Reprodução

O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), ainda não esclareceu como pretende distribuir os poderes dentro do Palácio do Planalto. Pelo visto, até agora, pode-se adiantar que generais do Exército vão preencher posições estratégicas na cúpula do governo.

Qualquer que seja o organograma, os militares vão controlar áreas ocupadas por civis desde a redemocratização. O último movimento de Bolsonaro nesse sentido foi feito nessa segunda-feira (26/11), com a indicação do general Carlos Alberto dos Santos Cruz (foto em destaque) para a Secretaria de Governo.

Nesse posto, se nada for mudado, o militar terá sob sua responsabilidade, por exemplo, as negociações políticas com o Congresso Nacional, função hoje desempenhada por Carlos Marun, deputado pelo MDB de Mato Grosso do Sul e profundo conhecedor dos meandros do Legislativo.

Ex-comandante de tropas internacionais no Haiti e no Congo, Santos Cruz ostenta um currículo de grande relevância dentro das Forças Armadas. Mas sua atuação nessas missões em nada se assemelha ao corpo a corpo do relacionamento com parlamentares, especialmente nas conversas que antecedem as votações da pauta do governo.

Ao escolher Santos Cruz para a Secretaria de Governo, aparentemente, o presidente eleito sinaliza intenção de interromper o toma lá dá cá institucionalizado nas últimas décadas entre os Poderes Legislativo e Executivo. Difícil imaginar um general do porte dele entregando cargos e verbas em troca do apoio dos congressistas.

Se o objetivo de Bolsonaro é, de fato, quebrar essa relação promíscua, deve-se prever um choque de interesses com desfecho incerto. A história recente mostra que, sem benesses do Palácio do Planalto, deputados e senadores costumam peitar o Executivo, por exemplo, com a aprovação de pautas-bombas.

Estrelados
Ao aceitar o convite para entrar no governo, Santos Cruz se junta a outros dois generais que terão assento no Planalto (veja galeria abaixo). Um é o vice-presidente eleito, Hamilton Mourão. Nas últimas semanas, ele demonstrou que exercerá poder como um comandante, não como um subalterno.

Em entrevistas concedidas a diferentes veículos, Mourão fez várias ponderações em relação a declarações de Bolsonaro que tiveram repercussão ruim – por exemplo, sobre a mudança da Embaixada do Brasil em Tel Aviv para Jerusalém e a respeito de restrições ao comércio com a China.

Mesmo cuidadoso com as palavras, o general mostrou que, pelo menos em alguns assuntos, pretende corrigir os excessos do capitão eleito para a Presidência da República. Mourão também afirmou que planeja atuar na coordenação dos ministérios, como gerente do governo. Caso isso se confirme, ele esvaziará parte das atribuições do futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

O outro representante da cúpula do Exército que terá missão relevante no Palácio do Planalto será Alberto Heleno. Também ex-comandante no Haiti, o general escalado para o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) terá ascendência em todas as áreas do governo. Ao lado de Mourão e Santos Cruz, formará o cinturão de proteção do futuro presidente.

Fora do Planalto, mas igualmente em cargo de destaque, estará o general Fernando de Azevedo e Silva. Também é possível um militar da mesma patente ser nomeado para um ministério que cuidará da Infraestrutura. Essa é uma área que, por tratar das grandes obras, concentra boa parte da corrupção entranhada na administração pública.

Ausentes do centro do poder desde o fim da ditadura, os militares cultivam imagem de legalidade e, nos últimos tempos, mostram-se críticos aos desvios de recursos públicos. Nesse sentido, a entrada deles no jogo pode ajudar a mudar as práticas de Brasília.

Mas há pelo menos duas outras hipóteses. Uma é o Congresso peitar o Palácio do Planalto e forçar a retomada do toma lá dá cá. A outra é que os dois lados permaneçam irredutíveis e empurrem o Brasil um pouco mais para o buraco.

Confira quais outros egressos das fileiras militares, além do general Santos Cruz, assumirão o comando do país ao lado de Jair Bolsonaro:

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