Análise: Bolsonaro criou falsa expectativa sobre Fundo Eleitoral

Depois de criticar gastos de campanha, presidente insinua que vai sancionar gasto de R$ 2 bilhões com verba pública para eleições municipais

Eumano Silva
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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) passou a quarta-feira (01/01/2020) tentando se explicar sobre o Fundo Eleitoral. Em entrevista, no Twitter e na live do dia, o chefe do Executivo procurou palavras para justificar o que fará em relação ao valor de R$ 2 bilhões aprovado pelo Congresso.

Nos próximos dias, o chefe do Executivo terá de decidir se veta ou sanciona o texto do Parlamento. Pela lógica, deveria aceitar o valor, pois foi o governo que fixou esse patamar de gastos na eleição municipal deste ano.

Mas o capitão chegou ao Palácio do Planalto com discurso contrário aos políticos tradicionais e aos gastos de campanha. Boa parte dos seguidores do presidente acreditou na retórica de Bolsonaro e votou com a crença de que esse gasto não existiria – ou que seria bem menor.

Se não tivesse criado falsa expectativa nos seguidores, o presidente não estaria com esse problema. O Fundo Eleitoral foi criado por lei em 2017, depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu doações de empresas para o custeio de campanhas.

Como fez proselitismo sobre o assunto, o capitão agora precisa se virar para não se queimar com os seguidores – ou com o Congresso. Nas falas de ontem, Bolsonaro insinuou que vai sancionar os R$ 2 bilhões. Alegou que pode cometer crime de responsabilidade e sofrer impeachment se não concordar com a bolada para os políticos.

Nunca se falou antes nessa possibilidade. Estranhamente, esse argumento só apareceu agora, perto da tomada de decisão. Até meados de dezembro, o presidente demonstrava ignorar qualquer impedimento ao veto do Fundão. Chegou a insinuar que cortaria a despesa do orçamento.

Ao debater o tema em público, o presidente procura preparar os eleitores para a chancela do valor fixado pelo Parlamento. A menos que queira peitar deputados e senadores, todos interessados no dinheiro público para as eleições municipais.

Esse é o preço de quem, para chegar ao Palácio do Planalto, vendeu mais do que poderia entregar.

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