Casal de hackers movimentou R$ 2 milhões em um ano

A investigação constatou que o grupo criminoso se especializou em fraudes bancárias

Estadão Conteúdo
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O grupo acusado de hackear as principais autoridades do país fraudou aproximadamente 1,5 mil contas bancárias e cartões de crédito, segundo inquérito da Polícia Federal apresentado à Justiça nessa quinta-feira (19/12/2019). A investigação constatou que o grupo criminoso se especializou em fraudes bancárias e, só depois, partiu para o crime ligado à interceptação de mensagens.

Em 177 páginas de inquérito, a PF narra com detalhes o papel de cada membro do grupo. Apenas dois dos indiciados, Gustavo Henrique Elias Santos e Suelen Priscila de Oliveira, teriam movimentado mais de R$ 2 milhões em créditos em três instituições bancárias.

Entre dezembro de 2018 a junho de 2019, pouco antes de ser preso, Gustavo movimentou R$ 1.063.955,62. Já Suelen movimentou R$ 827.555, 17 entre entre janeiro de 2018 e outubro de 2019.

O relatório aponta para o cometimento sistemático de fraudes bancárias e estelionatos eletrônicos, inclusive com a apreensão de valores em espécie e diversos cartões bancários em nome de terceiros, “além da localização de inúmeros arquivos e programas utilizados na obtenção de senhas e dados de suas vítimas, bem como ações voltadas à ocultação ou dissimulação da origem dos recursos de origem ilícita”.

Segundo o inquérito apresentado à Justiça, foi possível concluir que a expertise inicial dos integrantes do grupo consistia na prática de fraudes bancárias eletrônicas, em clonagem de cartões de crédito e furtos virtuais de contas bancárias. Para a execução de tais crimes eram empregadas diversas técnicas distintas, tais como a falsificação de documentos, o extravio de cartões bancários, a introdução de softwares maliciosos e a utilização de engenharia social, termo utilizado para descrever o uso da persuasão, muitas vezes abusando da ingenuidade ou confiança do usuário, diz a PF.

Em conversas apreendidas nos telefones dos acusados, a polícia encontrou trechos de mensagens e fotos em que o grupo ostentava dinheiro oriundo de fraude. Em um vídeo, Gustavo revela que estaria transportando grande quantia de dinheiro para Ribeirão Preto.

“É viado. Tô indo pra p. de Ribeirão Preto. Não sei nem onde…não cabe mais dinheiro. Oh, oh (sic)”, disse, exibindo maços de nota de R$ 50 reais. Em outro trecho, Gustavo diz que teria mais maços de dinheiro no banco de trás do veículo. “Não dá nem pra fechar a mão mano. Tá chapando? (sic)”

Nessa quarta, a Polícia Federal concluiu o inquérito da Operação Spoofing e apresentou, à 10ª Vara Federal em Brasília, relatório indiciando os seis investigados pelo hackeamento de dispositivos de mais de mil pessoas, entre elas autoridades como o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o ministro da Justiça, Sergio Moro, e os procuradores da Operação Lava Jato, inclusive Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa.

Segundo a PF, os indiciados respondem por integrar organização criminosa, invasão de dispositivo informático alheio e interceptação de comunicação telemática ilegal. Dentre os investigados, Suellen Oliveira foi indiciada apenas por participação em organização criminosa e Luiz Molição somente por interceptação ilegal.

A Polícia Federal decidiu ainda abrir uma nova investigação para saber se houve financiamento para que o grupo praticasse as invasões é também para apurar possível crime de obstrução de investigações. Nesta próxima etapa, os investigadores vão apurar as informações apresentadas na delação de um dos hackers, Luiz Molição.

O grupo é suspeito de ter invadido as comunicações via Telegram de Moro e Deltan no auge da Operação Lava Jato. Diálogos atribuídos ao ex-juiz federal e ao procurador indicariam suposta combinação na condução na maior operação já deflagrada no país contra a corrupção.

A investigação prendeu em julho, Gustavo Henrique Santos, o DJ de Araraquara, a mulher, Suellen Priscila de Oliveira e Danilo Cristiano Marques, além de Walter Delgatti Neto, apontado como o líder do grupo.

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