Obras roubadas de Tarsila escaparam de fogo na casa de Jean Boghici

Antes de ser alvo de roubo, coleção Jean Boghici foi parcialmente destruída em incêndio na cobertura de Copacabana onde ele morava

Fabio Brisolla
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Rio de Janeiro – O roubo de telas do acervo do marchand Jean Boghici é mais um capítulo em uma história familiar que acabou associada a perdas inestimáveis para a cultura brasileira.

Em 2012, um incêndio na cobertura de Boghici, em Copacabana, causou perplexidade diante da destruição de uma série de telas e esculturas de ícones da arte. Entre elas: “Samba”, pintura de Emiliano Di Cavalcanti, produzida em 1925.

“Estava tudo muito escuro. Eu vi o ‘Samba’, do Di Cavalcanti, completamente destruído. Consegui ver um ‘Bicho’ (escultura), da Lygia Clark, no chão”, disse na época Washington Fajardo ao jornal Folha de S.Paulo. Ele era o então secretário de Patrimônio do Rio e esteve no local logo após o incêndio.

A destruição do apartamento revelou ao público o que era de conhecimento de colecionadores e especialistas do mercado de arte: a grandiosidade do acervo de Boghici.

Além do Di Cavalcanti, o fogo destruiu uma tela de Vicente do Rêgo Monteiro, dos anos 20, outra de Joaquín Torres-García, de 1931, e duas pinturas de Alberto da Veiga Guignard.

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“Queimou. Tudo bem. Muita coisa se salvou. Outras coisas se queimaram, o que eu posso fazer?”, lamentou Boghici, em entrevista à imprensa presente na porta do prédio em Copacabana, ao sair do apartamento após a vistoria da Defesa Civil que contabilizou os estragos.

Apesar do tom resignado na declaração de Boghici, os amigos descreveram na época que o marchand havia ficado em choque diante das perdas.

Ele morreu três anos depois do incêndio, em 2015, vítima de embolia pulmonar.

Pioneiro no mercado de arte

Nascido na Romênia em 1928, ele desembarcou no Brasil em 1948. Viajou como clandestino em um navio francês, após anos em fuga ao lado de amigos judeus.

Boghici se tornou um dos pioneiros do mercado brasileiro de artes e, ao longo de sua carreira como marchand, formou sua valiosa coleção.

Após a tragédia causada pelo fogo, restou celebrar as obras que permaneceram intactas na cobertura de Boghici. Os especialistas ressaltavam, com frequência, a importância de duas das telas resgatadas: “O Sono” (1928) e “Sol Poente” (1929), ambas da autoria de Tarsila do Amaral.

Herdeira de Boghici

E, dez anos depois, as duas obras mencionadas acabam novamente listadas em uma investigação policial. As obras de Tarsila estão entre as 16 peças roubadas do apartamento da viúva de Boghici, de acordo com a investigação da Polícia Civil do Rio.

Sabine Boghici, filha do marchand, é apontada como a líder da quadrilha que promoveu um golpe contra sua própria mãe, a viúva e herdeira das obras.

Ela foi presa nesta manhã, junto com outros três suspeitos de participação no roubo do acervo do Jean Boghici.

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