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O dia em que João de Deus foi preso por contrabando

Documentos do extinto SNI e da Polícia Federal revelam: em 1985, o médium integrava uma quadrilha que exportava minério radioativo

atualizado

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joao de deus o silencio e uma prece 4
1 de 1 joao de deus o silencio e uma prece 4 - Foto: Divulgação

Na década de 1980, o médium João de Deus foi vigiado pelo antigo Serviço Nacional de Informações (SNI). Na época, ele já realizava curas espirituais na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, interior de Goiás. Mas pouca gente sabe que, nas horas vagas, o médium exercia outra atividade: a de contrabandista. João foi preso pela Polícia Federal em 1985, transportando 1 tonelada de autunita, um mineral radioativo, valioso e raro, extraído de um garimpo clandestino. É o que mostra reportagem da revista Veja deste fim de semana.

A carga estava sendo levada para o aeroporto de Alto Paraíso, também no interior de Goiás, onde seria embarcada. De lá, seguiria de avião até a Guiana.

Nos arquivos do SNI constam pelo menos três relatórios citando o envolvimento de João de Deus com a quadrilha. A um dos documentos, os agentes anexam o depoimento prestado pelo médium à polícia, no qual ele confessa o crime.

Um dos relatórios registra que o médium foi preso em 5 de novembro de 1985, em companhia de um sobrinho (Wagner Gonçalves) e outros três homens (Jerônimo Pereira, Benedito Oliveira e Diomar Cruz), na cidade goiana de Dianópolis, hoje no Tocantins.

 

Financiador da operação
O grupo estava bem armado e a bordo de uma caminhonete. João de Deus tinha um revólver na cintura. Ele admitiu que usava sua fazenda, em Abadiânia, para esconder a mercadoria e que também era o financiador da operação. Se a PF não tivesse feito a interceptação, João de Deus teria faturado 2,5 bilhões de cruzeiros, o equivalente hoje a cerca de R$ 3,5 milhões.

A extração de autunita era fiscalizada por órgãos do governo ligados à política de segurança nacional do regime militar, já que o minério é rico em urânio, matéria-prima para a produção de artefatos nucleares.

Após as prisões, o SNI pediu à PF que levantasse mais informações sobre os envolvidos – em especial sobre João de Deus, identificado, na época, apenas como o “indivíduo João Teixeira de Farias (sic)”.

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