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Número de alunos entrando no ensino superior público caiu em 2019

Enquanto isso, a quantidade de estudantes em cursos privados de terceiro grau aumentou 7,3% entre 2018 e o ano passado

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
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1 de 1 UnB - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

O número de alunos entrando em universidades públicas em 2019 foi de 559 mil, uma queda de 3,7% em comparação à quantidade de estudantes que iniciaram o ensino superior em uma instituição federal, estadual ou municipal em 2018. Ao todo, 3,6 milhões de pessoas ingressaram na faculdade no ano passado ante 3,4 milhões em 2018, uma alta de 5,4%.

O crescimento se deve às universidades privadas, que aumentaram em 7,3% o total de ingressos em 2019 ao passar de 2,9 milhões para 3,1 milhões. As informações são do Censo da Educação Superior de 2019, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e divulgado nesta sexta-feira (23/10).

A retração no número de ingressantes em universidades públicas dificulta ainda mais o cumprimento da meta 12 do Plano Nacional de Educação (PNE). A medida prevê que, até 2024, 50% do total de jovens entre 18 e 24 anos no Brasil deve estar estudando em universidades. De acordo com o texto aprovado em 2014, 40% das novas matrículas deverão ser feitas no setor público.

Segundo com o Observatório do PNE, mantido pelo Todos Pela Educação, em 2019 o total de matrículas no ensino superior representava 44,4% do total de jovens entre 18 e 24 anos no país. Faltando cinco anos para chegar ao fim do período estabelecido pelo plano, o indicador ainda precisa avançar 5,6 pontos percentuais.

Pode parecer fácil já que entre 2015  e 2019 o avanço foi de 7,5 pontos percentuais, mas essa não é a realidade projetada pelo presidente da Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Edward Madureira. A maior dificuldade está em expandir a oferta de cursos públicos.

“Nesses últimos anos, o principal problema que a gente tem enfrentado é a questão orçamentária. Com verba restrita — estrangulada mesmo — as universidades federais não têm conseguido ampliar vagas em cursos de graduação”, prosseguiu.

Com a pandemia, a situação orçamentária se agravou. “Aumentou a necessidade de limpar o ambiente escolar e de comprar equipamentos de proteção individuais. Isso aumenta os custos de operação. Mas, o Projeto de Lei Orçamentária de 2021 prevê 17,5% de verba a menos para as universidades federais. Não tem como pensar em expansão”, avaliou Madureira.

Entre 2015, primeiro ano em vigor do PNE, e 2019, o número de matrículas cresceu 7,1% ao passar de 8,027 milhões para 8,603 milhões. Do total de 576,5 mil matrículas, 128 mil (ou 22%) vieram de instituições públicas. O gráfico a seguir mostra a quantidade de estudantes no ensino superior desde 2009 por categoria administrativa:

Evasão escolar

Além de não expandir o número de pessoas ingressando em seus cursos, outro desafio enfrentado pelas instituições de ensino superior é a evasão. O Censo Educacional calculou que apenas 40% das pessoas que se matricularam na graduação em 2010 concluíram seus estudos até 2019.

“Nas categorias administrativas, a rede estadual apresentou os melhores índices de conclusão dos ingressantes de 2010 durante sua trajetória no seu curso de inicial. Como consequência, apresentou também as menores taxas de desistência no período”, apontou o censo educacional.

Essas instituições são as únicas que tem a maioria dos alunos concluindo o curso em que entraram, com 52%. Em seguida vem instituições federais, com 46%, e as privadas, com 37%.

“A evasão é um dos maiores problemas da educação brasileira. No setor privado, é muitíssimo grave e no setor público também é complicado”, avaliou o presidente da Andifes. De acordo com o especialista, esse é um fenômeno complexo, com muitas causas diferentes. Entre elas estão a “possibilidade de permanência”, o que no caso do setor público significa assistência estudantil. “Se não tem recurso, restaurante universitário, residência estudantil ou auxilio moradia, o aluno não fica”, apontou.

“Nas universidades federais, os professores percebem a dificuldade de alguns grupos em acompanhar o curso. Há alunos que não conseguem seguir o ritmo de aprendizado da turma, por conta de problemas na educação básica”, continuou. Um terceiro fator é a perspectiva profissional após a conclusão da graduação. “Nas licenciaturas nota-se evasão muito alta por conta disso”, disse.

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou que o “PNE é um sonho, é um objetivo que colocamos lá em cima nas estrelas. “Nós temos um foco para buscar aqueles parâmetros do PNE, o MEC está envolvido corpo e alma nessa busca”, disse.

Para combater a evasão e aumentar a participação do ensino público no crescimento de matriculas no ensino superior, o MEC está desenvolvendo um programa piloto que usa a inteligência artificial para identificar alunos que podem abandonar o curso. “O projeto já está em andamento e a ideia é implantar na rede federal e disponibilizar a tecnologia e o aprendizado para a rede privado”, explicou o secretário de Educação Superior do MEC, Wagner Vilas Boas.

Outro ponto que a pasta pretende atuar é na ampliação de cursos a distância na rede federal de ensino superior. “Essa tendência já é muito forte no setor privado e iniciamos dois grupos de trabalho em duas portarias publicadas hoje no Diário Oficial, com representantes de instituições que entendem a educação digital”, apontou.

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