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No “Brazil” virtual do governo, pandemia não chegou e economia decola

Site oficial do Brasil em inglês foi abandonado pelo governo federal há dois anos, mas segue no ar com informações desatualizadas

atualizado

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1 de 1 siteabandonado (1) - Foto: Guilherme Prímola/Arte Metrópoles

O alto escalão do governo federal costuma reclamar de campanhas contra o Brasil no exterior, mas o Palácio do Planalto falha em ações básicas nessa disputa de informações: versão para o público estrangeiro da página oficial do governo, o site Brazil.gov.br está abandonado e divulga um país pré-pandemia, com a economia dando sinais de arrancada, oportunidades de investimento e turismo e o presidente Jair Bolsonaro estreitando relações com o mundo.

Procurada pelo Metrópoles, a Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto não explicou por que abandonou a comunicação em inglês, que era abrangente e incluía páginas em redes sociais como o Facebook, onde o trabalho foi abandonado no já longínquo (em termos de comunicação on-line) carnaval de 2019. Veja a última postagem:

O site Brazil.gov.br começou a ser alimentado em março de 2018, o último ano da gestão de Michel Temer (MDB) no Palácio do Planalto. Por um ano, houve volume constante de notícias sobre o Brasil em inglês. Negociações comerciais, números da economia e notícias sobre falas e atos do presidente estavam no cardápio.

A iniciativa de divulgação internacional não foi abandonada com a posse de Jair Bolsonaro. Dezenas de notícias foram publicadas no Brazil.gov.br já sob a nova gestão, sobre compromissos do presidente ao assumir, sobre cumprimentos de líderes estrangeiros (o primeiro foi o chinês Xi Jinping), sobre índices promissores na economia e sobre uma obsessão que foi maior no início do governo: tentar tirar Nicolás Maduro do poder na Venezuela.

Além de notícias, o portal internacional do governo traz um largo leque de informações sobre a economia, oportunidades de investimento para pequenos e grandes players e um guia para conseguir vistos e visitar o país. Mas está tudo desatualizado. A última postagem na aba de notícias é de 8 de março de 2019, registrando viagem de Bolsonaro para a China. Desde então, silêncio do governo brasileiro na língua mais falada no mundo.

Prejuízo para a imagem

O abandono da página sem um aviso ou sem tirar o material do ar promove uma imagem de descuido, avalia a pesquisadora Elen Cristina Geraldes, professora da Faculdade de Comunicação da UnB. “Essa é a informação que uma pessoa que não fala português e busca algo sobre o ‘Brazil com z’ encontra. E essa desatualização passa uma imagem negativa, de falta de cuidado, abandono”, avalia.

“E também de falta de transparência, afinal o Brasil figura como um dos epicentros do coronavírus no mundo e deveria prestar informações para a comunidade internacional”, analisa ela, que é mestre em comunicação pela USP e doutora em sociologia pela UnB.

A especialista chama a atenção para a continuidade ser um dos aspectos considerados para se avaliar uma política pública. “Começar algo, mesmo que muito bem, e depois interromper não é algo que atenda ao interesse público. Esse abandono mostra ainda uma falta de visão sobre a importância da comunicação, mais fundamental ainda num momento de crise como esse. Um corte no serviço que acaba comprometendo mais a imagem do país.”

Segundo a professora, a desconfiança que um site desatualizado pode despertar pode ser exemplificada pela experiência de quem busca um serviço qualquer, como um conserto de geladeira. “Se eu entro num site de assistência técnica e o último serviço que eles mostram foi prestado em 2019, vou confiar? Talvez eu até ache que fechou. Será que o ‘Brazil’ fechou?”, provoca Elen Cristina Geraldes.

De volta para o passado

O silêncio do governo brasileiro em outras línguas não é completo porque o Itamaraty mantém versões em inglês e em espanhol de seu site. As informações veiculadas ali, porém, dizem respeito às relações exteriores, não ao governo como um todo. Sobre informações atualizadas do cenário econômico, por exemplo, não há nada.

Veja exemplos do que o internauta estrangeiro encontra no Brazil.gov.br e o contraste com a realidade atual.

PIB dos sonhos

De 2018 para 2019, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil voltava a crescer após anos de recessão. Em 2020, porém, sob o terremoto da pandemia, o PIB caiu 4,1% frente a 2019, o pior resultado da série histórica anual.

Inflação dos sonhos

Em maio de 2018, última informação disponível no site, a inflação anual era de confortáveis 2,86%. A situação atual é mais grave. A inflação registrou crescimento de 0,93% em março, a taxa mais alta para o mês desde 2015, quando atingiu 1,32%. O índice acumula variação de 2,05% no ano e de 6,10% nos últimos 12 meses – ultrapassando o teto da meta estabelecida pelo Banco Central (BC).

Moro e Mandetta no primeiro escalão

O Brazil.gov.br ainda divulga a primeira versão do ministério de Bolsonaro. Há ali nomes de pessoas que já morreram, como o ex-ministro Gustavo Bebianno, e atuais adversários políticos do presidente, como os ex-ministros Sergio Moro e Luiz Henrique Mandetta, além de vários outros que foram demitidos há mais de um ano, como Ricardo Vélez Rodrigues, primeiro ministro da Educação de Bolsonaro.

É possível clicar nos nomes, com os links direcionando a biografias – também em inglês – dos ministros.

Sem resposta

Como já mencionado no início da reportagem, a Secom em português também resolveu ficar em silêncio sobre a versão em inglês de seu site oficial. O espaço para manifestações segue aberto.

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