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Morre mulher trans deixada em clínica que pegou fogo em SP

Marido da vítima acusa clínica de omissão e diz que equipe teria abandonado Lorena Muniz em sala com fumaça após cirurgia nos seios

atualizado

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Arquivo pessoal
Lorenna Muniz foi abandonada em sala com fumaça enquanto se recuperava de cirurgia plástica (2)
1 de 1 Lorenna Muniz foi abandonada em sala com fumaça enquanto se recuperava de cirurgia plástica (2) - Foto: Arquivo pessoal

São Paulo – Lorena Muniz morreu na madrugada deste domingo (21/2), no Hospital de Clínicas (HC), em São Paulo. Mulher trans de Recife (PE), ela estava internada em estado grave após inalar fumaça de um incêndio em uma clínica em que ela se submeteu a uma cirurgia plástica nos seios. A cirurgia fazia parte do processo de transição de gênero de Lorena Muniz.

A morte foi confirmada pelos advogados que acompanham o caso. A inalação de fumaça por um período prolongado provocou dano cerebral em Lorena, causando sua morte encefálica.

De acordo com pessoas próximas à Lorena, ela veio à São Paulo para colocar próteses de silicone nos seios. Logo após a cirurgia, que ocorreu na quinta-feira (17/2), na Clínica Saúde Aqui, na região da Liberdade, um incêndio de origem elétrica deixou a sala em que ela estava repleta de fumaça. Lorena estava sedada e foi deixada pela equipe cirúrgica para trás, afirmam amigos e parentes.

Um vídeo do momento do incêndio circula pelas redes sociais e aplicativos de mensagem. Nas imagens, é possível ouvir que uma paciente foi deixada no local.

“Todos saíram e ela ficou lá. Ela chegou a ficar sete minutos inconsciente. Isso gerou um prejuízo para o oxigênio no cérebro dela, segundo os médicos”, declarou em suas redes sociais Washington Barbosa, marido da vítima.

Segundo ativistas LGBT que estão dando apoio à família, o responsável pelo procedimento em Lorena teria sido um médico bastante conhecido pela comunidade LGBT de São Paulo. A reportagem entrou em contato com o profissional e com as clínicas onde ele atende, mas não obteve resposta.

“A vida de Lorena valeu R$ 4 mil . Eu quero justiça”, declarou o marido.

De acordo com Washington Barbosa, até agora ele não conseguiu contato com o médico que teria feito o procedimento em Lorena e, segundo ele, omitido socorro no momento do incêndio. Barbosa ainda afirma que o médico o bloqueou em redes sociais.

“A clínica sumiu. Eles estão com o dinheiro, são responsáveis pelo procedimento, agora ninguém responde. Eu preciso de um posicionamento da clínica”, afirmou o marido.

Washington Barbosa está recebendo o apoio da Casa Florescer, da equipe jurídica da vereadora Erika Hilton (PSol) e da deputada estadual Erica Maunguinho (PSol).

A reportagem entrou contato com a Clínica Saúde Aqui no sábado (20/2) e no domingo (21/2), mas até a publicação deste texto não obteve retorno. O espaço está aberto.

Comoção na comunidade LGBT

A deputada estadual Erica Malunguinho declarou que Lorena “era uma jovem mulher transexual, que estava em São Paulo para realizar um dos seus maiores sonhos.”

“Não tenho muitas palavras diante da atrocidade que é o caso ao qual Lorena foi submetida. Muitas meninas trans e travestis são vítimas de clínicas que realizam processos cirúrgicos que não garantem a segurança e qualidade dos procedimentos. Ao contrário do que pensam, isso não é um processo estético, e sim parte da luta das pessoas trans e travestis em se encontrarem no corpo de suas identidades. É um fato que, inclusive, também pode prejudicar pessoas que não são trans. É fundamental que os órgãos competentes fiscalizem esses locais”, afirmou Malunguinho em nota oficial.

Em suas redes sociais, a vereadora Erika Hilton também se manifestou. “É com pesar que recebemos a notícia do falecimento de Lorena Muniz, travesti que veio a São Paulo realizar um procedimento cirúrgico para aplicação de próteses mamárias e criminosamente abandonada em meio a um incêndio sob efeito de anestesia. Exigimos investigação e justiça.”

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