metropoles.com

ONU estima 5 bilhões vivendo em risco de escassez hídrica até 2050

Relatório alerta que apenas investimento em infraestrutura não vai resolver o problema e recomenda soluções baseadas na natureza

atualizado

Compartilhar notícia

Arindam Dey/ AFP
TOPSHOT-INDIA-SOCIETY
1 de 1 TOPSHOT-INDIA-SOCIETY - Foto: Arindam Dey/ AFP

A demanda mundial por água tem aumentado a uma taxa de 1% por ano, em razão do crescimento da população e de mudanças nos padrões de consumo. Por outro lado, cenários de secas e cheias têm ficado cada vez mais extremos e estima-se que o número de pessoas que vivem em áreas com potencial de apresentar escassez hídrica ao menos uma vez por ano pode saltar dos atuais 3,6 bilhões para algo entre 4,8 bilhões e 5,7 bilhões até 2050.

É o que alerta o relatório mundial que a Organização das Nações Unidas lança nesta segunda-feira (19/3), sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos, no Fórum Mundial da Água, que é realizado em Brasília. A recomendação da ONU é que, diante desse quadro, é preciso buscar saídas para a gestão da água nas chamadas “soluções baseadas na natureza” (SbN).

“Nós precisamos de novas soluções para a gestão dos recursos hídricos, para enfrentarmos os desafios emergentes relativos à segurança hídrica originados pelo crescimento demográfico e pela mudança climática. Até 2050, se não fizermos nada, cerca de cinco bilhões de pessoas viverão em áreas com baixo acesso à água”, disse em comunicado à imprensa Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco, organização que coordenou o relatório.

“É um desafio importante que devemos enfrentar todos juntos com uma abordagem virtuosa para prevenir conflitos relacionados à água”, complementou.

O quadro geral do planeta vem piorando. De acordo com o relatório, no começo dos anos 2010, 1,9 bilhão de pessoas (27% da população mundial) viviam em áreas com potencial de serem gravemente afetadas pela escassez hídrica. Hoje já se estima que é quase o dobro o total que vive em áreas potencialmente escassas em água pelo menos durante um mês por ano.

O documento aponta que as captações de água para irrigação são a principal causa da redução dos níveis das águas subterrâneas em todo o mundo. E que até 2050 as captações podem crescer 39% em relação aos níveis atuais. Mas hoje, ⅓ dos maiores sistemas mundiais de águas subterrâneas já está em situação de perigo, lembra a ONU.

A organização também lembra que secas e inundações causam perdas econômicas anuais em todo o mundo na faixa de US$ 40 bilhões. Valor que pode subir para US$ 200 bilhões a US$ 400 bilhões, segundo algumas estimativas citadas no documento.

Infraestrutura verde
Em vez de tentar resolver os problemas somente com infraestrutura cinza, como grandes obras de saneamento e captação de água ou construção de diques, a proposta é se inspirar e se apoiar na natureza para melhor a qualidade da água, do abastecimento e também proteger contra desastres naturais. Isso passa por conservar ou recuperar os ecossistemas naturais ou criar modelos que simulam os processos naturais.

“Abordagens tradicionais não permitem que a segurança hídrica sustentável seja alcançada. As SbN trabalham com a natureza, não contra ela e por isso oferecem meios essenciais para ir além das abordagens tradicionais para aumentar os ganhos em eficiência social, econômica e hidrológica, no que diz respeito à gestão da água”, aponta o relatório.

“As SbN são especialmente promissoras na obtenção de progressos em direção à produção alimentar sustentável, à melhora dos assentamentos humanos, ao acesso ao fornecimento de água potável e aos serviços de saneamento, e à redução de riscos de desastres relacionados à água. Elas também podem ajudar na resposta aos impactos causados pela mudança climática sobre os recursos hídricos”, continua o documento.

Não é algo novo – projetos de recuperação de nascentes com mata nativa, por exemplo, trabalham exatamente com esse conceito de que uma vegetação preservada melhora a produção de água. Vai nessa mesma linha preservar um mangue para evitar danos causados pelo aumento do nível do mar. Ele é um amortecedor para ressacas melhor que muito dique.

Mas são iniciativas ainda muito incipientes. De acordo com o relatório, apesar de terem crescido os investimentos em SbN no mundo, eles ainda correspondem a menos de 1% do investimento total em infraestrutura para a gestão dos recursos hídricos.

O trabalho sugere, porém, que uma expansão desses projetos pode beneficiar bilhões. Um estudo citado indica que atividades de conservação e/ou restauração da terra (como a proteção de florestas, o reflorestamento e o uso de culturas de cobertura na agricultura) podem levar a uma redução de pelo menos 10% nos sedimentos em bacias hidrográficas que atualmente abrangem 37% da superfície terrestre que não está coberta por gelo.

Segundo o trabalho, mais de 1,7 bilhão de pessoas – mais da metade da população urbana mundial – poderiam se beneficiar dessa melhora na qualidade da água se aquele tipo de solução fosse aplicada a à bacia hidrográfica de onde vivem.

Um outro trabalho sobre um estudo de caso específico revelou que um investimento de US$ 10 milhões em recomposição de matas ciliares, reflorestamento e implementação de melhores práticas agrícolas, poderia gerar um retorno estimado de US$ 21,5 milhões em benefícios econômicos durante um período de 30 anos.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?