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Mayra Pinheiro acusa jornalista de extrair dados que já eram públicos

Código-fonte do aplicativo TrateCov, no site do Ministério da Saúde, era público e disponível a qualquer usuário com acesso à internet

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Jefferson Rudy/Agência Senado
Mayra Pinheiro
1 de 1 Mayra Pinheiro - Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Nesta terça-feira (25/5), Mayra Pinheiro, conhecida como “Capitã Cloroquina”, reafirmou na CPI da Covid, a exemplo do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que a plataforma TrateCov foi invadida antes de seu lançamento. A secretária de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde, do Ministério da Saúde, foi questionada sobre quem seria o autor da invasão.

Então, citou o nome do especialista em jornalismo de dados Rodrigo Menegat. Entretanto, o que o profissional fez não é crime nem foi “extração indevida de dados”, como apontou Pinheiro. A médica ainda tentou destacar que não estava acusando ninguém de ser hacker, mas a “extração indevida de dados” é um tipo de hackeamento.

Lançado em janeiro deste ano com a proposta de ajudar médicos a diagnosticar pacientes com sinais de Covid-19, o aplicativo sugeria medicamentos sem comprovação científica contra o coronavírus, como a hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina.

Menegat, na ocasião, analisou o código-fonte do aplicativo e demonstrou que, em qualquer hipótese de quadro clínico, a receita de remédios não eficazes contra a Covid era a mesma.

O jornalista utilizou o recurso de inspeção de sites, comum em navegadores da internet, que possibilita ao usuário visualizar os códigos compartilhados pelos servidores para exibir páginas na web. Para isso, basta que qualquer usuário clique com o botão direito do mouse em algum lugar de uma página e vá em “Inspecionar” ou “Inspecionar o elemento”.

Ele também pode ser acessado digitando a tecla F12 do teclado ou as teclas Crtl + U no Google Chrome. Abaixo, uma simulação de como isso é feito, utilizando o site do Metrópoles como exemplo.

Exemplo de como inspecionar o código o código-fonte de um site
Exemplo de como inspecionar o código-fonte de um site

Em suas observações, Menegat mostrou que, independentemente de qualquer sintoma e histórico clínico do paciente, a plataforma indicava a medicação precoce contra a Covid-19.

“As únicas funções e objetos visíveis, além de coisas como os cálculos de idade e IMC do paciente, existem para exibir a indicação e posologia das seguintes drogas: ivermectina, cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina, sulfato de zinco, doxiciclina, zinco e dexametasona”, diz o jornalista.

Jornalista Rodrigo Menegat
Jornalista Rodrigo Menegat analisou o código-fonte do aplicativo TrateCov, e descobriu que, em qualquer situação, a recomendação de tratamento precoce para pacientes com suspeita de Covid-19 era a mesma.
Dados públicos

O jornalista publicou o código-fonte do aplicativo em um repositório de códigos, para acesso ao público. O site também está arquivado no Internet Archive, o que permite a visualização de como ele funcionava antes de sair do ar.

O trabalho de análise realizado por Rodrigo Menegat não é ato de um “hacker” e tampouco criminoso, segundo afirma Yasodara Córdova, especialista em tecnologias para a Internet e Fellow no centro para Governança Democrática e Inovação, na Kennedy School, em Harvard.

“O jornalista não hackeou ninguém, ele só usou informação que está pública e disponível para todo mundo. E ela é pública pela própria arquitetura técnica da web”, explica.

Para Córdova, a motivação para chamar o trabalho do jornalista de “hacker” vem do desconhecimento sobre o uso de tecnologias por parte das autoridades públicas. “A ignorância de entender como tudo funciona faz com que qualquer trabalho na área tecnológica e de programação seja visto como “mágica”. Não é”, afirma a especialista.

Ela complementa: “Em vez de procurarem pessoas capazes, preferem falar essas coisas. Isso só demonstra como nosso governo não está preparado para lidar com tecnologia”.

Simulador

O aplicativo TrateCov foi retirado do ar em 21 de janeiro. Na ocasião, o Ministério da Saúde afirmou que a plataforma “não estava funcionando oficialmente” e era apenas um simulador. A pasta afirmou também que “o sistema foi invadido e ativado indevidamente – o que provocou a retirada do ar, que será momentânea”.

A plataforma estreou em 11 de janeiro, e no lançamento não houve menções de que a ferramenta era apenas um simulador. Segundo reportagem veiculada pela TV Brasil, o aplicativo era divulgado no momento em que aumentavam casos da Covid-19 em Manaus.

Veja a reportagem feita da TV Brasil:

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