Funaro diz que ministros do PT frequentavam casa de Joesley Batista

Informação foi prestada em CPI de Mato Grosso. Segundo o delator, Guido Mantega e Palloci "abriam portas" ao empresário

Guilherme Waltenberg
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A casa do empresário Joesley Batista, em São Paulo, foi alvo da peregrinação de ministros da Fazenda na época em que o PT estava na Presidência da República. 

Quem conta a história é o operador financeiro e delator Lúcio Funaro, que, recentemente, foi convidado a prestar esclarecimentos a portas fechadas em uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT). O Metrópoles teve acesso aos áudios do depoimento. 

“Eu posso dizer que eu estive em almoços e jantares na casa do Joesley com a presença de Guido Mantega, [Antonio] Palocci e governadores de estado”, disse Funaro ao ser questionado quem eram os “sócios” do empresário na Presidência. 

Quem disparou as perguntas foi o deputado estadual Wilson Santos (PSDB), que prosseguiu: “Esses ministros frequentavam a casa dele?”. 

“Sim, em São Paulo. Vi várias vezes”, prosseguiu. “E era até uma situação constrangedora, porque existia uma briga entre o PMDB e o PT, e todo mundo sabia que eu era representante da bancada do Eduardo Cunha e que o Eduardo Cunha era contra o PT”, prosseguiu.

Ainda segundo Funaro, esses contatos eram importantes para que o empresário conseguisse abrir portas com o governo. “Algumas entradas ele não tinha. O poder dele era grande, mas não era total”, prosseguiu.

Mantega
Em abril, o ex-ministro Guido Mantega foi confrontado, durante a CPI que investiga empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com um vídeo gravado durante o depoimento do empresário Joesley Batista à Polícia Federal.

Na gravação, o empresário afirma que pagava ao então ministro, por meio de um de seus funcionários, denominado Victor, 4% de propina para conseguir liberar financiamentos do BNDES para seus empreendimentos na empresa alimentícia JBS.

Mantega respondeu que o empresário mentiu para a polícia. “Isso que ele está dizendo é mentira. Isso não aconteceu”, disse o ministro.

Mantega ainda defendeu que as operações de crédito realizadas pelo BNDES beneficiaram a JBS e não foram prejudiciais ao país. “O BNDES nunca perdeu um tostão com esta empresa. De fato, ela tinha um plano bom, que era controlar o mercado de proteínas”, contou.

Frigoríficos
Funaro foi instado a falar sobre benefícios fiscais a frigoríficos de Mato Grosso. Segundo ele, o grupo Bertin foi um dos escolhidos pelo ex-presidente Lula para ser uma das “campeãs nacionais”, como parte do programa que forneceu crédito subsidiado do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a algumas empresas escolhidas.

Com a chegada da crise econômica de 2008, porém, o Grupo Bertin teria ficado fragilizado e o Grupo JBS tomou financiamentos para adquirir o grupo.

Segundo Funaro, o empresário Joesley Batista pegou um empréstimo de R$ 12 bilhões do BNDES, mas pagou, inicialmente, R$ 350 milhões pelo grupo, que queria R$ 700 milhões. Funaro disse que foi chamado para negociar com os Batista e os donos do Bertin e disse ter garantido novos pagamentos, mas não detalhou. “A maior parte ficou com o próprio Joesley”, ponderou.

Questionado pelo deputado estadual Wilson Santos sobre a ilicitude ou não de tais negócios, o doleiro disse que houve o pagamento de propina com dinheiro de financiamentos públicos.

“A partir do momento em que um empresário pega recursos públicos para pagar propina, fechar concorrentes, tentar implantar monopólio num país do tamanho do Brasil – que tem no agronegócio uma de suas potências –, eu acho isso um verdadeiro absurdo”, concluiu Funaro.

CPI em Mato Grosso
Lúcio Funaro tornou-se alvo de uma CPI da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) em função de um depoimento prestado por ele durante a CPI do BNDES, a mesma que questionou Mantega.

Na ocasião, ele disse que Joesley Batista teria omitido, em sua delação premiada, fraudes no pagamento de ICMS, um imposto estadual. O estado seria um dos lesados.

O operador financeiro foi questionado sobre a sua relação com políticos da região. Ele confirmou os vínculos com o ex-presidente da ALMT José Geraldo Riva, condenado a mais de 50 anos em diversos processos por corrupção. 

Segundo Funaro, a última vez que fez contato com o ex-cacique do MDB no estado foi na eleição para liderança do partido, em 2013. Cunha queria ajuda para convencer o deputado federal Carlos Bezerra (MDB-MT) a votar nele.

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