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Entidades repudiam ação da PM na Chapada: “Morreram por indiferença”

Ação aconteceu na última quinta-feira (20/1) e terminou com quatro pessoas mortas. PMs atiraram 58 vezes contra grupo com fuzis e pistolas

atualizado

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@viladesaojorgechapadaveadeiros
manifestação chapada veadeiros pm mortos goias
1 de 1 manifestação chapada veadeiros pm mortos goias - Foto: @viladesaojorgechapadaveadeiros

Goiânia – Após a ação da Polícia Militar de Goiás que culminou na morte de quatro pessoas em Cavalcante, na região da Chapada dos Veadeiros, no nordeste goiano, 134 entidades da sociedade civil organizada e de movimentos sociais assinaram uma nota de repúdio. O documento que intitula a ação da PM como “chacina”, denuncia supostas ilegalidades cometidas durante a abordagem.

As mortes aconteceram durante a manhã da última quinta-feira (20/1), em uma fazenda na divisa entre os municípios de Cavalcante e Colinas do Sul. No local havia uma plantação de maconha, que seria o motivo da operação policial.

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De acordo com a PMGO, o grupo era suspeito de tráfico de drogas. Os militares envolvidos na ação foram afastados das atividades, e a Polícia Civil investiga o caso.

Repúdio às mortes

De acordo com a nota de repúdio, “a Polícia Militar de Goiás invadiu sem mandado de prisão ou investigação prévia”. “Os policiais alegam que receberam uma denúncia anônima da existência de ‘tráfico de drogas’ e ao chegarem no local, teriam sido recebidos à bala. Entretanto, nenhum policial ou viatura foram alvejados ou feridos. As vítimas foram mortas por 58 tiros, sendo que 40 disparos foram feitos por fuzis”, diz o documento.

“Salviano, Chico, Jacaré e Alan eram conhecidos por todos da comunidade e muitos possuem estórias pra contar dos momentos vividos juntos. Não eram pessoas violentas, não andavam armados. Eram pacíficos. Morreram por causa da indiferença com a vida de uma guerra insana, que condena e mata de forma seletiva uma parte da população que é preta e pobre, em verdadeiros tribunais de rua”, diz outro trecho da nota.

As entidades questionam a ação da PMGO e falam ainda sobre o histórico de denúncias de operações violentas envolvendo a polícia e o uso desproporcional da força. “Nos últimos anos, diversas entidades da sociedade civil vêm apresentando inúmeras denúncias de casos emblemáticos de violência policial, abuso de autoridade, abordagens ilegais, formação de grupos de extermínio, tortura e desaparecimentos forçados protagonizados pela polícia militar.”

“São Jorge e a Chapada dos Veadeiros, símbolos de resistência e diversidade, não verão a história de seus filhos e filhas serem manchadas pela impunidade e pela violência do Estado”, finaliza a nota, que é pública e pode ser assinada por pessoas físicas.

Manifestações

Familiares e amigos das vítimas estão cobrando providências e afirmam que a ação policial promoveu uma verdadeira chacina e que os mortos não tiveram sequer chance de defesa. No último domingo (23/1), moradores de São Jorge fizeram uma passeata exigindo apuração do caso. O clima é de revolta (veja fotos e vídeo abaixo).

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“Matou porque quis”

Uma testemunha da operação policial relatou em áudio que não houve reação por parte das vítimas no momento da abordagem. A esposa de uma das vítimas, que está grávida, estava na fazenda no momento da operação policial e ela contou o que presenciou.

“Falaram para os meninos deitar. Os meninos deitaram. Falaram que os meninos correram para o mato, mas os meninos não correram. Em momento algum os meninos reagiram. Até porque nem arma eles tinham. As armas todas, você sabe que foram plantadas. Já estavam com os meninos todos praticamente presos. Eles mataram porque quiseram, não porque os meninos reagiram. Em momento algum eles reagiram”, afirmou a testemunha em áudio ao qual o Metrópoles teve acesso.

Investigação

Essa mulher grávida teria chegado a conversar com policiais que faziam parte da operação, depois que os quatro teriam sido rendidos. Ela disse que estava em uma casa vizinha da construção onde os quatro teriam sido mortos. Os militares teriam permitido que ela fugisse.

Morreram na operação Alan Pereira de Soares, de 27 anos, Antônio da Cunha dos Santos, de 35, Ozanir Batista da Silva, de 46, e Salviano Souza Conceição, de 63.

O motivo da operação, a plantação de maconha, foi queimada pelos próprios militares pouco depois das mortes. Os PMs afirmaram no boletim de ocorrência que havia cerca de 2 mil pés, mas algumas horas depois corrigiram o cálculo para entre 500 e 600. Também de acordo com a corporação, a ação aconteceu após uma denúncia anônima.

O Ministério Público informou que está acompanhando a investigação em Cavalcante, onde a Polícia Civil apura as mortes, e que foi instaurada uma investigação em Niquelândia, cidade de onde saíram os policiais que participaram da operação. Segundo o MP, o núcleo de controle externo da polícia foi acionado e uma investigação própria poderá ser realizada.

As autoridades não comentaram sobre a legalidade na queima da plantação. As quatro vítimas foram levadas para o hospital de Colinas, pois não havia sinal de telefone na chácara, segundo a PM. Eles já chegaram sem vida à unidade de saúde.

A Secretaria de Segurança Pública de Goiás e a Polícia Civil não se manifestaram sobre a operação policial. O Governo de Goiás também segue sem se posicionar a respeito do assunto.

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