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Debora Diniz: cortar verbas é tentativa de amordaçar universidades

Professora licenciada da UnB, antropóloga avalia que governo teme análises e críticas das instituições que tiveram recursos contingenciados

atualizado

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Emília Silberstein/Agência UnB
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1 de 1 debora-diniz - Foto: Emília Silberstein/Agência UnB

Após o ministério da Educação (MEC), Abraham Weintraub, anunciar corte de 30% as verbas das universidades brasileiras – começando pelas de Brasília (UnB), Federal Fluminense (UFF) e Federal da Bahia (UFBA) –, a antropóloga e professora licenciada da faculdade de Direito da UnB, Debora Diniz, avaliou que o bloqueio foi uma maneira de tentar colocar uma mordaça nas instituições. A declaração foi dada durante entrevista á Época.

O ministro havia decidido cortar os recursos das três universidades por, segundo ele, não apresentarem desempenho acadêmico esperado e promoverem “balbúrdia” nos campi. Depois de sofrer diversas críticas, o MEC decidiu, na noite dessa terça (30/04/2019), estender o bloqueio a todas as universidades federais.

Para Debora, “balbúrdia”, que significa desordem, não é critério de avaliação de políticas públicas educacionais e usar tal justificativa demonstra um julgamento moral, “de incapacidade democrática de lidar com a crítica, de uma imaturidade política de lidar com o dissenso”. Ela afirmou que as universidades são espaços onde a crítica às políticas do governo de Jair Bolsonaro (PSL) são fortes, especialmente na UnB.

Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, Weintraub reclamou que as instituições de ensino estavam com “sobra de dinheiro para fazer bagunça e evento ridículo”, indicando que o corte estava ligado a questões ideológicas.

“Ele precisa comprovar quais são as evidências de atuações inócuas no ambiente universitário. Aí vamos abrir o debate sobre o que faz bem ou não à democracia e sobre quais critérios”, rebateu a professora licenciada. Para ela, as referências de Weintraub parecem “ressentimento universitário”, o que a impressiona, “porque esse ministro era um professor universitário”.

Melhores da América Latina
Apesar de o titular da Educação também afirmar que o desempenho era um dos motivos do bloqueio de recursos, a alegação não tem respaldo nos indicadores. As três instituições que perderão verba inicialmente estão entre as 50 primeiras colocadas no ranking das melhores universidades da América Latina – o levantamento é da publicação britânica Times Higher Education (THE).

A UnB passou da 19º posição no ranking em 2017 para a 16ª em 2018. A UFBA pulou da 71ª para a 30ª no mesmo período e a UFF manteve o 45ª lugar.

Debora afirmou que a indicação das três instituições não é uma coincidência. Ela lembrou que a UnB, na capital federal e próxima ao poder político federal, foi crítica à ditadura militar e “ofereceu resistência ao dia seguinte da eleição do presidente Bolsonaro”. “Especialmente sobre a UnB, diria que há um medo”, completou a antropóloga, que também citou a performance da UFBA, em crescimento nos últimos anos.

A professora licenciada também acredita que universidades com desempenhos mais modestos também deveriam ser reconhecidas, para que possam se desenvolver e melhorar seus índices. “Não significa tirar das universidades de topo, mas tomar decisões sobre a alocação de recursos que reconheçam uma promoção justa das igualdades de oportunidades para diferentes centros do país”, concluiu a Debora Diniz.

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