Com pandemia, nascimentos caem 24% nos primeiros dois meses de 2021

Cerca de 336,6 mil brasileiros nasceram em janeiro ou fevereiro deste ano. No mesmo período de 2020, foram 443,3 mil bebês

Tácio Lorran
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A quantidade de nascimentos caiu 24% nos primeiros dois meses de 2021 no país, mostram dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A queda ocorre cerca de nove meses após o início da crise econômica e sanitária causada pela pandemia do novo coronavírus.

Em janeiro e fevereiro deste ano, cartórios do Brasil registraram pouco mais de 336,7 mil nascimentos. Esse é o registro mais baixo para os dois meses juntos desde ao menos 2003, início da série histórica do IBGE.

No ano passado, foram registrados 443,3 mil novos brasileiros nesse mesmo período. Devido ao tempo gestacional (cerca de nove meses, em gestações sem complicações), a maior parte das crianças que nasceram em 2020 é fruto de relacionamentos de 2019.

O Metrópoles usou dados da Arpen Brasil referentes aos anos de 2021 e 2020 e da pesquisa estatística do Registro Civil do IBGE, que traz informações de 2003 a 2019. A fonte dos números é a mesma: cartórios de Registro Civil de Pessoas Naturais.

Apesar de os dados de fevereiro de 2021 serem parciais, uma vez que os pais têm até 15 dias para registrar o nascimento da criança, não deverão ocorrer incrementos significativos, explica a diretora da Arpen Andrea Gagliardi.

Foram emitidas 125,3 mil certidões de nascimento em fevereiro deste ano. “Pode, sim, haver um incremento, mas a experiência nos diz que não terá muita variação. A maioria dos registros são feitos logo nos hospitais”, diz.

“O que a gente percebe é que a pandemia afetou a vida cotidiana das pessoas, que estão decidindo adiar casamento e ter filhos. As consequências disso começam a se revelar agora”, complementa a especialista.

Pesquisa feita em março do ano passado pela empresa Famivita, especializada em produtos ligados à fertilidade, indica que uma em cada três (35%) mulheres com intenção de engravidar alterou os planos devido à pandemia.

Em outubro, a Famivita perguntou a 11,8 mil mulheres (em sua grande maioria grávidas e tentantes) que acompanham o site da empresa se pretendem engravidar nos próximos 12 meses. Resultado: 46% disseram que não.

Essa queda no número de nascimentos também tem sido registrada em outros países. Na Espanha, onde a pandemia começou pouco antes que no Brasil, a quantidade de pessoas que nasceram em dezembro e janeiro caiu 22,6% em relação aos mesmos meses dos anos anteriores.

Segundo dados publicados no jornal El País, em dezembro de 2020 e janeiro de 2021, período no qual normalmente nascem as crianças concebidas em março e abril, foram registrados quase 45 mil bebês. “São 13,1 mil crianças a menos”, diz.

O professor Fernando Sobrinho, do Departamento de Geografia da UnB, avalia que o Brasil já vem percebendo, ao longo dos últimos anos, uma queda na quantidade de nascimentos, mas a pandemia foi algo “fora da curva”, intensificando a situação.

Como é possível verificar no gráfico a seguir, 2020 registrou o menor número de nascimentos desde o início da série histórica disponibilizada pelo IBGE: 2,602 milhões novos brasileiros, quantidade 7,5% menor que em 2019.

“Além da tendência de queda, existe a questão da crise. O casal pensa: ‘Como eu vou colocar uma criança num momento em que o hospitais estão dedicados a cuidar da pandemia? E se a mulher contrair Covid?'”, ressalta o professor.

“Temos também a diminuição de renda da população, provocada pelo fechamento do comércio, e a altíssima taxa de desemprego. Então, os casais pensam muitas vezes antes de ter um filho neste momento”, complementa o geógrafo.

Sobrinho ressalta que fenômeno parecido foi registrado durante os surtos da H1N1 e da Chikungunya – nessa situação, caso a picada do mosquito ocorra no início da gestação, é possível que a criança nasça com doenças congênitas.

“A população brasileira vai continuar crescendo, em um ritmo mais lento, mais ou menos até 2038. A partir daí, a taxa de reposição geracional será entre 0 e 1 filho por mulher em idade adulta. Agora, a pandemia vai intensificar isso”, completa.

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