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Deputados vão às Bahamas em busca de brasileiros desaparecidos

Parlamentares da comissão externa da Câmara suspeitam de naufrágio do barco no mar do Caribe ou assassinato dos 19 imigrantes

atualizado

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Bahamas aerial ilhas
1 de 1 Bahamas aerial ilhas - Foto: istock

Deputados que integram a comissão externa da Câmara, criada para investigar as circunstâncias do desaparecimento de 16 brasileiros nas Bahamas no fim do ano passado, embarcam hoje (2/9) para o país caribenho em busca de informações sobre o paradeiro dos imigrantes.

Desde 6 de novembro do ano passado, um grupo de 19 imigrantes (entre brasileiros, dominicanos e cubanos) é considerado desaparecido depois de tentativa de travessia marítima ilegal das Bahamas para os Estados Unidos. Dez meses depois, o caso ainda está sem resolução, e pode nunca vir a apresentar uma resposta definitiva.

A comitiva formada por três parlamentares viajou acompanhada de representantes do Itamaraty e da Polícia Federal (PF). Além das Bahamas, o grupo deve passar pela República Dominicana e pela cidade de Miami, nos Estados Unidos.

Segundo o relator do caso na Câmara, deputado Aluízio Mendes (PODE-MA), o objetivo da viagem é passar pelos locais onde atuam os coiotes (traficantes de pessoas) pelos migrantes, e tentar coletar com autoridades locais novas informações sobre o caso.

“São duas vertentes que serão investigadas: a possibilidade de naufrágio e a de que essas pessoas terem sido assassinadas, no intuito de subtrair os pertences que elas tinham durante a viagem. Eu acho que são as duas possibilidades que a comissão irá analisar, investigar, e acreditamos que, dentro das possibilidades, essas são as mais viáveis de terem acontecido”, afirmou Mendes.

O deputado adiantou à reportagem que já tem audiência marcada com o chefe da AIC (American Immigration Council), agência americana de combate à imigração ilegal, e com o comandante da guarda costeira na Flórida, que acompanhou as buscas, além de um representante do FBI (Federal Bureau of Investigation).

Nas Bahamas, os deputados têm reunião prevista com o ministro de assuntos estrangeiros, o chefe de polícia do país e diplomatas brasileiro que atuam na região. Eles voltam ao Brasil na próxima quarta-feira (6/9).

Para o relator, que também é policial, o Brasil demorou muito para tomar uma providência, e não foi tão diligente na investigação do caso. “Nós achamos que houve uma letargia do governo brasileiro em responder a esse episódio, o que pode ter comprometido muito a elucidação do caso e, talvez, até a localização ainda com vida desses brasileiros”, disse Mendes.

Mendes reconhece que, como já se passou muito tempo, as chances dos migrantes estarem vivos é “tênue”. Mas, ele espera que a missão possa resultar em alguma informação positiva para os familiares das vítimas.

Parentes
Entre os desaparecidos, estão migrantes dos estados de Minas Gerais, Rondônia, do Pará e Tocantins. Desde o desaparecimento, os parentes tentam manter contato com policiais de seus estados, e aguardam respostas para o caso.

Marta Gonçalves, mãe de Diego Gonçalves Araújo, um dos brasileiros que integram a lista de desaparecidos, disse à reportagem que na última conversa que teve com o delegado responsável pela investigação, recebeu a informação de que a polícia tem considerado o naufrágio como hipótese mais provável.

O último contato que ela teve com o filho foi em 5 de novembro do ano passado, um dia antes da data prevista para o embarque do grupo nas Bahamas em direção à costa da Flórida. Ela relata que tem conversado diariamente com parentes de outros desaparecidos e que mantém a esperança de uma notícia melhor.

Na verdade, não há muito o que esperar [da viagem dos deputados], mas, de repente, a gente pode ter uma surpresa, né! Às vezes, a gente pensa que não vai resolver muita coisa, mas Deus pode nos surpreender e eles podem sim conseguir uma informação boa e útil. Eu continuo com muita esperança de que eles estão vivos, eu creio que ainda pode ser descoberta alguma coisa, eu não concordo com naufrágio

Marta Gonçalves, mãe de Diego, um dos desaparecidos

O desaparecimento só foi amplamente divulgado quase um mês depois do último contato feito pelo grupo, devido ao medo das famílias em expor a ação ilegal. Na época, o Itamaraty soltou nota em que informou ter acionado a Polícia Federal e as autoridades migratórias e policiais das Bahamas e dos Estados Unidos.

Em audiência pública na Câmara, representantes do Itamaraty chegaram a sinalizar que o barco poderia ter naufragado durante a travessia, dado as condições climáticas da região. Delegadas que participaram da investigação do caso relataram também em audiência na Câmara que a Polícia Federal (PF) recebeu provas de que o grupo teria embarcado, o que descarta a hipótese de que eles poderiam estar presos nas Bahamas.

Em janeiro deste ano, a PF fez uma operação em três estados, onde residiam alguns dos desaparecidos. A operação resultou na detenção de pelo menos três suspeitos de integrar a quadrilha de traficantes de pessoas que intermediou a viagem. Os desdobramentos das ações não foram divulgados, pois a investigação corre sob sigilo.

Enquanto não surge uma resolução para o caso, o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), que também integra a comissão externa da Câmara, disse à reportagem que o colegiado recebeu informação de que os grupos de traficantes continuam atuando e já houve registros de mortes durante a travessia ilegal depois da divulgação do caso do grupo desaparecido.

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