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Curto-circuito em ar-condicionado deu início a fogo no Museu Nacional

Câmeras de segurança ajudaram peritos da PF a identificar onde e como as chamas começaram. Resultado saiu sete meses após tragédia no RJ

atualizado

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Tânia Rego/Agência Brasil
Chamas destroem Museu Nacional , na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão
1 de 1 Chamas destroem Museu Nacional , na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão - Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

Sete meses após o trágico incêndio, a Polícia Federal concluiu que as chamas que destruíram o Museu Nacional do Rio de Janeiro, na Quinta da Boavista, foram causadas por um curto-circuito em um ar-condicionado. O aparelho estava instalado no auditório térreo do prédio do século 19. Com a tragédia, o acervo de mais de 20 milhões de itens, como coleções de geologia, paleontologia, botânica, zoologia e arqueologia, se perdeu quase que completamente.

Os primeiros indícios foram registrados por câmeras de segurança às 19h13, no segundo pavimento, de acordo com o perito da Polícia Federal Carlos Alberto Trindade. As imagens indicaram que a fumaça partiu do andar térreo. “O fogo começou no auditório e no pavimento térreo”, garantiu. Com isso, as hipóteses de raios, balão inflamável ou incêndio proposital foram completamente descartadas.

O perito da Polícia Federal José Rocha, especialista em audiovisual, detalhou que algumas câmeras do prédio registraram a fumaça. Isso permitiu aos peritos identificar o trajeto percorrido por ela dentro do museu. Com base nessas informações, eles chegaram ao foco inicial das chamas.

A investigação concentrou-se na parte elétrica do auditório e depois nos três aparelhos de ar-condicionado do local. Segundo o perito Marco Antônio Isaac, especialista em eletricidade, não foi identificada nenhuma falha provocada por agente externo ou sinal de curto na rede.

“Nós identificamos logo no início que havia o rompimento de um fio no aparelho que ficava mais próximo do palco do auditório. Típico de um evento de uma sobrecorrente, uma corrente maior do que o aparelho pode suportar sem queda do disjuntor”, detalhou.

Os equipamentos elétricos encontrados no auditório foram periciados a fim de identificar se algum deles tinha sinais de origem das chamas. Caixas de som, projetor e outros aparelhos não apresentavam nenhuma suspeita. Análises mais detalhadas passaram a ser feitas nos três equipamentos de ar-condicionado que havia na sala.

Segundo o perito, a instalação do aparelho não seguiu a recomendação do fabricante. Uma das máquinas não tinha aterramento externo e não havia disjuntor individualizado para cada um dos três aparelhos.

O superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, Ricardo Saad, não respondeu se houve ação criminosa no incêndio. Segundo ele, a investigação ainda está em curso e não há data prevista para a divulgação da conclusão do inquérito.

Acervo foi preservado
A direção do museu estima que 10% do acervo foi preservado e que as obras de reconstrução do prédio e de recuperação das peças custem, ao menos, R$ 15 milhões. Um quadro do Marechal Rondon, do início do século XX, foi resgatado chamuscado. Fragmentos do crânio de Luzia, fóssil de 12 mil anos, foram encontrados também. É o mais antigo já encontrado nas Américas.

A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), responsável pela administração do museu, estima que cerca de 1 milhão de itens da coleção guardados em anexos do prédio principal estão intactos. Há uma biblioteca, com 500 mil livros, com mais de 150 anos. Cerca de 260 peças se salvaram, pois estavam expostas no Memorial dos Povos Indígenas de Brasília, em dezembro. 

Há pelo menos cinco anos, os investimentos no órgão eram insuficientes. Entre 2013 e o ano passado, data do incêndio, os recursos aplicados no funcionamento da instituição histórico-cultural caíram 34,3%. Passaram de R$ 979,9 mil para R$ 643,5 mil, segundo a Consultoria de Orçamento da Câmara dos Deputados.

Fundado por dom João VI em 1818, o prédio foi sede da primeira Assembleia Constituinte Republicana de 1889 a 1891, antes de ser destinado ao uso do museu, em 1892. O edifício é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1938. O prédio foi residência da família real entre os anos de 1816 e 1821. Em 2 de setembro de 2018, um incêndio de seis horas destruiu a maior parcela do acervo.

Após o fogo, a Alemanha, o Ministério da Educação e deputados da bancada federal do Rio de Janeiro destinaram recursos para a reconstrução do local e restauro das obras. A instituição não tem data para reabrir as portas e tem investido em exposições virtuais para manter a memória do museu viva.

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