Covid-19: CFM aponta falhas no app da Saúde que indicava tratamento precoce
Após análise, o órgão afirmou que a plataforma induz à automedicação e valida “drogas que não contam com reconhecimento internacional”
atualizado
Compartilhar notícia
O Conselho Federal de Medicina (CFM) analisou o aplicativo “TrateCov”, do Ministério da Saúde, e pediu que a pasta “retire imediatamente do ar” a plataforma, devido às “inconsistências” que apresenta. Antes da determinação do conselho, o programa já não estava funcionando, e o órgão confirmou que ele foi inativado após ser ativado “indevidamente”.
A plataforma do governo recomendava o “tratamento precoce” com remédios sem eficácia comprovada contra a Covid-19 a pacientes com sintomas que podem ou não ser da doença.
Em nota, o CFM disse que o aplicativo “não preserva o sigilo das informações, permite o preenchimento por profissionais não médicos, assegura a validação científica a drogas que não contam com reconhecimento internacional, induz à automedicação e não deixa claro, em nenhum momento, a finalidade do uso dos dados”.
Além do pedido do conselho federal, nessa quarta-feira (20/1), o deputado federal Marcelo Freixo (PSol-RJ) acionou a Justiça Federal para que o aplicativo fosse retirado do ar definitivamente.
A plataforma foi lançada, inicialmente, apenas para profissionais de Saúde de Manaus, mas qualquer pessoa podia acessar, preencher o cadastro e obter as recomendações. A cidade enfrenta um cenário de caos pela falta de oxigênio para pacientes – e recordes de mortes por Covid-19.
O “tratamento” indicado no aplicativo incluía medicamentos que, segundo demonstraram diferentes estudos, não funcionam contra a doença, como o antimalárico cloroquina, o vermífugo ivermectina e a azitromicina.
O uso de cloroquina e antibióticos podia ser receitado até mesmo a um recém-nascido com náuseas, diarreia e fadiga. O aplicativo recolhia dados do paciente como idade, peso, altura e comorbidades. A idade, no entanto, não interferia na pontuação de “gravidade” apresentada pelo sistema – nem, portanto, no tratamento sugerido.
Ao divulgar inicialmente a página, o Ministério da Saúde afirmou que desenvolveu o aplicativo “para auxiliar os profissionais de saúde na coleta de sintomas e sinais de pacientes visando aprimorar e agilizar os diagnósticos da Covid-19”.