metropoles.com

CNJ: decisões judiciais travam R$ 149 bi em investimento em obras

Processos suspenderam pelo menos 48 obras públicas no país, de áreas como educação, mobilidade urbana e abastecimento de água

atualizado

Compartilhar notícia

Rafaela Felicciano/Metrópoles
Vicente-Pires-obras-7
1 de 1 Vicente-Pires-obras-7 - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

O Brasil tem pelo menos 48 obras públicas paralisadas em função de processos judiciais, o que tem travado investimentos de R$ 149 bilhões. O dado é do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que divulga, nesta terça-feira (19/11/2019), o relatório “Diagnóstico sobre Obras Paralisadas”.

Empreendimentos ligados a área de educação são grande parte no número encontrado pelo CNJ, com 11 obras. Em segundo lugar vem mobilidade urbana, com sete. Transportes e abastecimento de água disputam o terceiro lugar, com seis casos cada um.

Os 48 empreendimentos foram localizados num universo de mais de 3 mil obras paralisadas no País, a partir de levantamentos feitos pelo Tribunal de Contas da União (TCU), pela Associação dos Membros Tribunais de Contas do Brasil (Atricon), pelo organização Transparência Brasil e pelo próprio CNJ. Ou seja, desse montante, apenas 1,2% das obras têm como motivo da paralisação o Poder Judiciário.

Obras paradas
Levantamento realizado pelo TCU que identificou 14 mil empreendimentos paralisados no Brasil em 2018 já apontava para esse cenário. À época, o tribunal levantou que apenas 3% teriam como motivação questões relacionadas à Justiça. Uma das grandes causas de suspensão identificada pelo TCU é o problema técnico, com destaque para as falhas no projeto base das obras.

Mesmo que a participação da Justiça seja pequena entre os motivos de paralisação, o presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, quer dar alguma agilidade a esses processos e oferecer soluções. Um primeiro passo seria a identificação de quais obras estão paradas por questões judiciais.

“A execução desse diagnóstico possibilitará maior otimização do uso de recursos públicos, impulsionará a retomada da economia com a geração de empregos e de serviços ligados ao mercado da construção civil, assim como promoverá a cidadania e o desenvolvimento social ao entregar um bem à sociedade e contribuir para a melhoria da condição de vida dos cidadãos”, afirma o ministro na apresentação do estudo.

Por isso, o CNJ já instituiu entre as metas nacionais do Judiciário para 2020 a “identificação e impulsão dos processos relacionados às grandes obras públicas, inclusive, e em especial, aquelas relacionadas às creches e escolas, diante da importância incontestável do assunto”. Segundo o presidente do órgão, o objetivo é fazer com que os tribunais identifiquem a “melhor forma de atuar na resolução” dos conflitos, como por exemplo a realização de mutirões.

As causas da paralisação
No estudo, o CNJ se dedicou a olhar com mais profundidade três dos 48 empreendimentos, que, para o órgão, mostram como as origens da paralisação ligadas ao Judiciário têm causas diversas. Um deles é o processo do Aeroporto de Cargas de Anápolis, em Goiás. A obra teve início em 2012, com previsão de entrega em 2014, tendo sido orçada em aproximadamente R$ 321 milhões.

O imbróglio no caso foi gerado por uma ação apresentada pelo Ministério Público do Estado, que resultou em decisão que suspendeu parcialmente a execução das obras. Essa determinação chegou a ser revertida em seis meses, mas a obra ainda não foi retomada, segundo o CNJ. O órgão aponta que esse período é “suficiente para gerar problemas irreparáveis à construção”.

Um dos gargalos, aponta o CNJ, é que vários desses processos judiciais vão se ramificando em outros problemas e provocando embargos na continuidade das obras. “A partir de então (da judicialização), diversos problemas foram se acumulando e a paralisação da obra se arrastou durante anos”, observa o órgão.

Outro projeto travado que foi olhado com lupa pelo CNJ é o do centro administrativo do Distrito Federal. A judicialização surgiu de um relatório de impacto de Trânsito que impedia a obtenção da carta “Habite-se”. Com isso, foi editado um decreto pelo governo do DF em 2014 para tentar manobrar esse entrave. O ato do Executivo, no entanto, foi questionado judicialmente no Tribunal de Justiça do Distrito Federal, em ação proposta pelo Ministério Público do DF, que obteve então uma vitória. Em 2015, o caso voltou à Justiça.

A terceira obra analisada é de um centro de educação infantil em Campo Grande (MS). Em 2014, uma denúncia do Ministério Público Federal cobrou providências quanto à fiscalização do contrato e, após fiscalização da CGU, foram constatadas irregularidades no edital de licitação.

Uma nova licitação foi aberta para a retomada das obras, mas a entrada de uma ação na Justiça pela empresa que executou o empreendimento fez com que o caso parecesse na Justiça. Ou seja, o processo judicial no caso não foi o causador da paralisação da obra, mas uma consequência dos problemas relacionados à execução do empreendimento.

Falta de informação
O desafio da falta de informações centralizadas e padronizadas que o TCU enfrentou para fazer seu levantamento no ano passado também foi enfrentado pelo CNJ. Segundo o órgão, não existe pesquisa ou diagnóstico que tenha sido realizado anteriormente sobre o assunto. Além disso, os tribunais não têm à disposição uma maneira fácil de filtrar os projetos relacionados a obras paradas.

“Constatou-se, por meio dos contatos realizados pelos Tribunais ao CNJ, que grande parte dos órgãos não possui ferramentas de mineração de dados nem repositório consolidado de documentos que permitisse a busca de decisões judiciais que possam ter culminado numa paralisação de obra”, observa o estudo.

Para tentar combater essa falha, o CNJ informou que já iniciou estudo para que seja feito um acompanhamento melhor dos processos judiciais que tratem de grandes obras públicas paralisadas.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?