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Bolsonaristas repetem roteiro de apoiadores de Trump ao invadirem sedes dos Três Poderes

Dois anos após invasão do Capitólio, nos EUA, vândalos bolsonaristas repetiram roteiro e destruíram prédios dos Três Poderes em Brasília

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Imagem colorida de bolsonaristas em cima do Congresso Nacional
1 de 1 Imagem colorida de bolsonaristas em cima do Congresso Nacional - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Dois anos e dois dias após a invasão do Capitólio, prédio que abriga a sede do Congresso dos Estados Unidos, o Brasil enfrenta o próprio episódio de tentativa de derrubar um governo legitimamente eleito. No domingo (8/1), apoiadores extremistas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) invadiram e depredaram os prédios do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília.

Na tentativa de frear os ataques, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), alvo das manifestações, decretou intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal por meio da Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Na prática, a determinação permite que as Forças Armadas atuem na capital federal para a retomada da ordem pública.

Entenda o que significa a intervenção federal na segurança pública do DF decretada por Lula

Os bolsonaristas furaram bloqueios, ultrapassaram barreiras de segurança e depredaram o patrimônio público. Por volta das 14h40, vândalos entraram no Congresso Nacional sob uma chuva de bombas de gás lacrimogênio. Um carro da Polícia Militar do DF (PMDF), inclusive, caiu no espelho d’agua do local. Extemistas destruíram gabinetes, estrutura e mobiliário de edifícios na Esplanada dos Ministérios.

A invasão norte-americana, em 6 de janeiro de 2021, foi conduzida por simpatizantes do candidato derrotado nas urnas, Donald Trump (Republicano), que alegavam fraude nas urnas e não aceitavam o a vitória do democrata Joe Biden nas eleições. A mesma motivação conduziu apoiadores Bolsonaro — aliado de Trump —, à sede Três dos Poderes no Brasil.

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O risco de uma tentativa de caráter golpista nos mesmos moldes pairava em território brasileiro há meses. Bolsonaro repetiu táticas trumpistas ao questionar a confiabilidade das urnas, enviar um documento que alegava suposto favorecimento das autoridades brasileiras a Lula, e incitar o ataque a adversários eleitorais. O ex-presidente também não reconheceu a derrota nas urnas.

Nos últimos meses, milhares de bolsonaristas se mobilizaram em bloqueios de rodovias e acamparam, há mais de 60 dias, em frente a quartéis-generais do Exército em várias cidades pedindo uma “intervenção militar”.

Em 12 de dezembro, apoiadores de Bolsonaro também lideraram atos de vandalismo no centro do DF. A ação foi uma forma de protesto contra a detenção do cacique José Acácio Tserere Xavante, responsável por ameaças ao STF. Em razão dos atos, o ministro Alexandre de Moraes emitiu 32 mandados de busca e apreensão sobre o caso. Nessa sexta (6), 11 pessoas tiveram a prisão temporária convertida em preventiva (sem prazo determinado para acabar).

Somente na semana que antecedeu a posse presidencial, 12 ameaças de bomba foram identificadas em diversos pontos da capital federal.

Roteiro pronto

Em 2021, a invasão ocorreu durante uma sessão da Câmara dos EUA. Por conta do ataque, os deputados fugiram e se esconderam nos porões do prédio. O vice de Trump, Mike Pence, estava no local e também ficou em perigo durante a invasão por ter aceitado a declaração de Biden como novo presidente, sendo visto como um “traidor” pelos manifestantes.

Os terroristas conseguiram entrar no Capitólio, destruir objetos históricos que o prédio abrigava e até ameaçar de morte congressistas. Câmeras de segurança flagraram os invasores portando barras de ferro e sprays químicos. Pelo menos dois invasores e três policiais morreram, e outras 140 pessoas ficaram feridas. Meses depois, quatro agentes de segurança que protegiam o edifício se suicidaram.

Dois anos após o episódio, a polícia federal americana ainda procura cerca de 350 pessoas que teriam participado do ato — dos quais 250 são suspeitos de agredir agentes de segurança. O suspeito de ter implantado uma bomba perto da sede do Congresso norte-americano um dia após o ataque também segue foragido. Pelo menos 900 pessoas foram presas pelo ataque nos EUA, e 192 condenadas à prisão.

A invasão às sede dos Três Poderes em Brasília, dois anos depois, aconteceu em um domingo. Os edifícios contavam com efetivo reduzido, e eram ocupados apenas por servidores plantonistas. O presidente da República, Lula, estava em viagem oficial a Araraquara, no interior de São Paulo.

Segundo o Ministro da Justiça e Segurança Pública (MJSP), Flávio Dino, mais de 200 pessoas foram presas por invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, até às 20h30 desse domingo (8). A Polícia Legislativa deteve outras 39 pessoas pela invasão ao Congresso Nacional.

“Tragédia anunciada”

Os cientistas políticos consultados pelo Metrópoles convergem sobre semelhanças e diferenças entre os dois episódios terroristas. Entre as similaridades, os atos foram “movimentos organizados”, impulsionados por uma direita populista insuflada nos EUA por Trump, e no Brasil, por Bolsonaro.

De acordo com Márcio Coimbra, da Fundação Liberdade Econômica, “os dois têm o mesmo método de populismo de exercício do poder”.

“No caso de Washington, centenas de pessoas partiram de diferentes lugares com objetivo de tumultuar o referendo da eleição norte-americana. No Brasil, chegaram ao DF nos últimos dias mais de 100 caravanas bolsonaristas. Todas as pessoas sabiam que o intuito era causar baderna”, frisou o especialista.

Leonardo Paz, cientista político especialista em prospecção internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV), reitera que o episódio se trata de uma “tragédia anunciada”, após uma escalada de violência diante do cenário de instabilidade política que toma conta do país há meses.

“Lamentavelmente, o Brasil conseguiu ter uma invasão de Capitólio para chamar de sua. A simbologia é muito parecida. Mas, o problema no Brasil é mais grave que nos EUA. Lá, você tinha uma instituição de forças de segurança mais estruturada para lidar com os atos. No Brasil, é ao contrário. Elas estão apoiando esses terroristas”, frisa.

De acordo com os profissionais, a polícia norte-americana agiu de forma rápida e objetiva para evitar que a manifestação se espalhasse. Em Brasília, “por conta da passividade das forças de segurança, chegaram ao STF. Foi a diferença da atuação tímida das forças segurança no Brasil para as do EUA”, emendou Coimbra.

Valdir Pucci, também cientista político, reitera que a questão da segurança pública é um ponto central nas discussões sobre os atos terroristas desse domingo. “O que assistimos no DF é, na verdade, a última tentativa do bolsonarismo de conseguir reverter algo que é fato. Esse é o apagar das luzes do bolsonarismo”, afirmou.

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