Após prisão de Geddel, OAB afirma que vê “quadro de degradação moral”
A entidade máxima da advocacia no Brasil também se manifestou sobre as delações da JBS e o depoimento do ex-ministro Antonio Palocci
atualizado
Compartilhar notícia
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) apontou nesta sexta-feira (8,/9) um “quadro de degradação moral e institucional” no país. Em nota subscrita pelo presidente do Conselho Federal Claudio Lamachia, a principal entidade da advocacia alerta que “a sucessão de escândalos há três anos incorporou-se dramaticamente à rotina”.
Além disso, a OAB condena a “inoperância dos órgãos de controle do Estado”. A nota foi divulgada no dia em que a Polícia Federal prendeu novamente o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), atribuindo a ele a propriedade da fortuna de R$ 51 milhões encontrados em um apartamento no bairro da Graça, em Salvador (BA).
“Trata-se de um escândalo dentro do escândalo”, diz Lamachia sobre a prisão de Geddel. “O cidadão-contribuinte, que paga a conta de tais desmandos, não entende como quantias estratosféricas circularam no sistema bancário, com frequência e desenvoltura, sem que os órgãos incumbidos de monitorá-las tenham cumprindo esse dever elementar”, ressalta o presidente da Ordem.Na avaliação de Lamachia, se os órgãos de fiscalização tivessem cumprido sua missão “tais aberrações não teriam assumido as proporções a que assistimos, levando o país à maior crise política, econômica e moral de sua história”.
“Os mecanismos de controle existem e o correntista comum a eles se submete, enfrentando muitas vezes excessivo rigor burocrático. O mesmo, porém, não ocorreu em relação aos criminosos de colarinho-branco, como tem testemunhado a população brasileira, no curso das investigações da Lava Jato e tantas outras.”
Questionamento
A OAB indaga sobre uma possível falha do banco de onde os R$ 51 milhões saíram. A Ordem sugere que a instituição deveria ter exigido esclarecimento por causa do saque milionário. “Sabe-se que o saque bancário, além de determinado limite, exige esclarecimentos, que os titulares daquelas fortunas não prestaram. O país exige essa explicação.”
OAB aponta ainda para as revelações do ex-ministro Antônio Palocci (Fazenda e Casa Civil) que, na quarta-feira (6), interrogado pelo juiz federal Sérgio Moro entregou os ex-presidentes petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff como envolvidos em “pacto de sangue” com a empreiteira Odebrecht.
OAB também cita os áudios de Joesley Batista, delator da JBS.
“O depoimento do ex-ministro Antônio Palocci e os inacreditáveis áudios de Joesley Batista, da J&F, revelam que contaram com a cumplicidade de operadores no âmbito do Estado e do sistema financeiro”, afirma Lamachia.
“E não apenas: segundo a Procuradoria-Geral da República, sob o comando da própria Presidência da República. Nada menos que três ex-presidentes estão denunciados ao Supremo Tribunal Federal, por, entre outros delitos, corrupção passiva e formação de quadrilha. Jamais se viu nada igual!”
A nota da Ordem cobra respostas. “Sem que tudo isso se esclareça, e com urgência máxima, o manto da suspeição continuará a cobrir o conjunto das instituições do Estado, o que é trágico para a democracia brasileira.”