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Advogada algemada em fórum ganha ato de apoio em Duque de Caxias

Valéria dos Santos foi detida e algemada, dentro do fórum, enquanto exercia sua profissão, a pedido de uma juíza. A cena foi gravada

atualizado

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Fernando Frazão/Agência Brasil
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1 de 1 ffraz_abr_20180917_1623 - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A advogada Valéria Lúcia dos Santos (foto em destaque) foi o centro das atenções de um ato de desagravo, em frente ao Fórum de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. A mobilização realizada na tarde desta segunda-feira (17/9) contou com dezenas de pessoas, inclusive o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cláudio Lamachia.

Valéria, que é negra, foi detida e algemada no último dia 10, dentro do fórum, durante uma audiência, a pedido de uma juíza. A cena foi gravada e causou indignação por todo o país.

A manifestação na tarde desta segunda atraiu advogados e militantes defensores das causas raciais e dos direitos das mulheres. Embora o ato tenha sido pacífico desde o início, o fórum teve as portas fechadas, o que deixou os advogados ainda mais inconformados. Lamachia criticou o ambiente de extremismo no qual o país vive e disse que a OAB investigará o fato.

“Este caso terá vários desdobramentos, na corregedoria estadual, no CNJ [Conselho Nacional de Justiça] e no âmbito da OAB. Porque a colega, juíza leiga que determinou que Valéria fosse algemada, é uma advogada. Portanto, a sua ação também será examinada sob o prisma ético-disciplinar”, afirmou Lamachia. “Mas o que mais fica deste momento é se nós estamos agindo bem com esta linha de extremismos, de intolerância e de violência, que vimos esta colega sofrer”, disse.

Segundo ele, o fato atentou contra o próprio Estado Democrático de Direito: “Algemar uma advogada, dentro de uma sala de audiência, no exercício de sua profissão, é algo inaceitável, sob qualquer aspecto. O meu sentimento é que, naquele momento, a democracia brasileira foi algemada”.

Busca por diálogo
Apesar do trauma que o fato lhe deixou, com exposição de imagens compartilhadas por todo o país, Valéria disse que sua atitude será a de conversar com a juíza responsável pela ordem para que ela fosse algemada.

“Eu me sinto muito acolhida, tanto pela OAB quanto pela sociedade civil. Sobre minha colega [juíza leiga], nós duas temos que sentar e conversar. Não é jogar pedra. Para a gente evoluir como pessoa. A gente não pode se dividir, temos de nos unir. Não importa a cor da pele. O que eu quero é que nunca mais isto aconteça. Nunca mais”, disse Valéria.

A advogada relatou que, no momento em que foi algemada, se sentiu muito mal e ofendida em sua dignidade. “Eu me senti muito ferida. Depois fui para casa e chorei sozinha. Me feriram, mas eu não fui vencida. Olha o que mobilizou o país. O Brasil respondeu. A gente precisa construir um país melhor para os nossos netos”, disse ela.

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), que comanda o sistema de Justiça estadual do qual faz parte o Fórum de Duque de Caxias, se limitou a responder em nota que os fatos estão sendo apurados: “Em relação aos fatos ocorridos na audiência na semana passada, estão sendo apurados. O TJ vai se manifestar na conclusão da apuração”.

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