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Venezuela de Maduro – Lula dá uma no cravo e outra na ferradura

O truque das duas falas que não engana ninguém

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Marco Bello/Getty Images
Manifestantes com os rostos cobertos sentam-se na rua enquanto protestam contra o governo de Nicolás Maduro em 2 de fevereiro de 2019 em Caracas, Venezuela - Metrópoles
1 de 1 Manifestantes com os rostos cobertos sentam-se na rua enquanto protestam contra o governo de Nicolás Maduro em 2 de fevereiro de 2019 em Caracas, Venezuela - Metrópoles - Foto: Marco Bello/Getty Images

Literalmente, a expressão “dar uma no cravo e outra na ferradura” significa: para fixar a ferradura em cavalos sem os machucar ou assustá-los, o ferreiro bate alternadamente com o martelo ora no cravo (prego), ora na ferradura.

Na política, a expressão significa: manter-se numa posição dúbia ou ficar em cima do muro, onde, por sinal, continua o governo Lula desde as eleições fraudadas da Venezuela em 28 de julho último. Nicolás Maduro, derrotado, proclamou sua vitória.

O governo Lula falou ontem duas vezes sobre a decisão da justiça venezuelana, controlada por Maduro, de autorizar a prisão do embaixador Edmundo González, o candidato da oposição cuja vitória não foi e nem será reconhecida por Maduro e seus asseclas.

A primeira fala foi pela boca do ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, assessor especial de Lula para assuntos internacionais, em entrevista à agência inglesa de notícias Reuters. O que ele disse:

“Não há como negar que há uma escalada autoritária na Venezuela. Não sentimos abertura para o diálogo, há uma reação muito forte a qualquer comentário, temos notícias de várias prisões — o próprio governo anunciou mais de 2 mil prisões, não sei se para intimidar. Não há dúvida que há um autoritarismo”.

E disse mais:

“Alguns dizem que pode ser ingenuidade, talvez até seja mesmo, mas temos ainda esperança de uma solução negociada para a Venezuela. Nós não queremos salvar o Maduro, queremos salvar a Venezuela. Nós não aceitamos a existência de presos políticos”.

A segunda fala foi por meio de uma nota oficial conjunta assinada pelos governos do Brasil e da Colômbia, que tentam intermediar um acordo entre Maduro e Gonzáles para a formação de um governo de unidade nacional ou a realização de novas eleições.

Diz a nota:

“Os governos de Brasil e Colômbia manifestam profunda preocupação com a ordem de apreensão emitida pela Justiça venezuelana contra o candidato presidencial Edmundo Gonzáles Urrutia. Esta medida judicial afeta gravemente os compromissos assumidos pelo governo venezuelano no âmbito dos Acordos de Barbados, em que governo e oposição reafirmaram seu compromisso com o fortalecimento da democracia e a promoção de uma cultura de tolerância e convivência. Dificulta, ademais, a busca por solução pacífica, com base no diálogo entre as principais forças políticas venezuelanas”.

A fala de Amorim e a nota destinam-se a dois tipos de público: o interno e o externo. Internamente, o governo Lula se desgasta a cada dia que passa por contemporizar com o governo do ditador Maduro, e é alvo de críticas da direita e da esquerda.

Foi para os brasileiros que Amorim falou grosso. A nota foi uma espécie de fala para o mundo de dois tronos, o do Brasil e o da Colômbia, que ainda não perderam a esperança em um acordo. A nota chama de “apreensão” o que Amorim chamou de prisão.

O truque das duas falas diminuirá o desgaste interno do governo Lula? Em um país tão polarizado como o Brasil, dificilmente. Vida que segue, enquanto Lula celebra o crescimento da economia no segundo trimestre deste ano que superou todas as expectativas.

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