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Um presidente lúcido requer ministros que não digam idiotices

Ainda falta um dia para terminar a semana onde vozes do governo deram a exata medida dos tempos bizarros que o país vive

atualizado

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Igo Estrela/Metrópoles
Demonstração operativa dos fuzileiros militares exercito navais da operação Formosa durante agenda do presidente bolsonaro 13
1 de 1 Demonstração operativa dos fuzileiros militares exercito navais da operação Formosa durante agenda do presidente bolsonaro 13 - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Se o raro momento de lucidez de Bolsonaro, ao dizer que há muita gente mais competente do que ele para ocupar seu cargo, resistir à passagem de pelo menos uma semana, talvez fosse o caso de a tropa que o serve com tanto desvelo reciclar o que pensa e fala.

A semana que acaba amanhã começou com o rufar de tambores tocados pelo general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional. Em entrevista à rádio Jovem Pan, sempre ela, Heleno disse sobre um possível golpe militar:

“Não acredito numa intervenção no momento. Essa intervenção poderia acontecer num caso muito grave”.

Isso não é coisa que diga auxiliar de um presidente da República que joga dentro das quatro linhas da Constituição e que promete continuar jogando. E que despacha bombeiros para apagar o incêndio que ele mesmo tocou em suas relações com a Justiça.

O gabinete de Heleno só tinha importância quando o ministro mandava na Agência Brasileira de Inteligência. Deixou de mandar desde quando o novo chefe da agência, o delegado Alexandre Ramagem, passou a despachar direto com Bolsonaro.

A semana avançou com a declaração do general Braga Neto, ministro da Defesa, de que não houve ditadura no Brasil entre 1964 e 1985. Um regime de força, taokey. Mas, ditadura, não. Em socorro de Braga saiu o general Luiz Eduardo Ramos:

“Ditadura é uma questão de semântica”.

O regime de força dos dois generais matou e fez desaparecer no mínimo 434 pessoas, torturou, cassou mandatos de parlamentares e de ministros de tribunais superiores, fechou o Congresso, suspendeu o direito ao habeas corpus e censurou a imprensa.

Por que não chamar as coisas por seus próprios nomes? Democracia relativa não existe. Como democracia à moda do Brasil, também não. Sobral Pinto, corajoso advogado de presos políticos desde a ditadura de Getúlio Vargas nos anos 30, ensinou:

“À brasileira, só peru.”

Quem sabe empenhados em dar sua contribuição ao rápido esquecimento da derrota do governo no caso do voto impresso, os ministros da Saúde e da Educação apressaram-se em vomitar frases que os marcarão para sempre, e também ao seu chefe.

O cardiologista Marcelo Queiroga disse ser contra o uso obrigatório da máscara contra a Covid-19 e suas variantes. Por quê? Porque os brasileiros não têm o costume de respeitar as leis. Convenhamos: é uma pérola da sabedoria desses tristes tempos.

O professor e pastor Milton Ribeiro foi taxativo:

“Nós temos 1,3 milhão de crianças com deficiência que estudam nas escolas públicas. Desse total, 12% têm um grau de deficiência em que é impossível a convivência”.

Ribeiro é o quarto ministro da (des)Educação de Bolsonaro. O primeiro, o filósofo Ricardo Vélez, falava português com sotaque. O segundo, Abraham Weintraub, fugiu do Brasil para não ser preso. O terceiro, Carlos Decotelli, tinha um falso currículo.

Um presidente lúcido e, agora, humilde pode dar um jeito em sua equipe.

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