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Se Bolsonaro caiu numa arapuca, Lula não precisa cair em outra

A quem interessa fazer das eleições uma guerra entre o bem e o mal

atualizado

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Fábio Vieira/Metrópoles
ex-presidente Lula e fernando Haddad Aula aberta, Universidade Pública e Democracia, pelo Coletivo USP Pela Democracia, no vão da História e Geografia na Cidade Universitária, em São Paulo 4ex-presidente Lula e fernando Haddad Aula aberta, Universidade Pública e Democracia, pelo Coletivo USP Pela Democracia, no vão da História e Geografia na Cidade Universitária, em São Paulo
1 de 1 ex-presidente Lula e fernando Haddad Aula aberta, Universidade Pública e Democracia, pelo Coletivo USP Pela Democracia, no vão da História e Geografia na Cidade Universitária, em São Paulo 4ex-presidente Lula e fernando Haddad Aula aberta, Universidade Pública e Democracia, pelo Coletivo USP Pela Democracia, no vão da História e Geografia na Cidade Universitária, em São Paulo - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

Às vésperas das eleições gerais de 1990, Pedro Pedrossian, que governara o Mato Grosso uma vez e outra o Mato Grosso do Sul, resolveu tirar uma semana de férias em sua fazenda no interior do estado. Era de novo candidato ao governo do Mato Grosso do Sul e liderava com folga as pesquisas de intenção de voto.

À época fora do jornalismo, aquele seria o primeiro dos três anos em que me aventuraria como diretor da área de marketing político de uma agência de publicidade baiana. Aconselhei Pedrossian a deixar as férias para depois das eleições. Faltavam 15 dias para o primeiro turno e os adversários batiam duro nele no rádio e na tv.

“Aprenda uma lição”, ele me disse. “Não se deixe afogar por um pingo d’água”. Saiu de férias, me obrigando a informar aos jornalistas que ele viajara a São Paulo para conversas com empresários. Ao voltar, estava praticamente eleito. O fogo inimigo não lhe causara danos. Elegeu-se sem disputar o segundo turno.

Não sei, e acho que ninguém sabe, se a guerra pelo voto dos evangélicos para a qual Bolsonaro tenta atrair Lula não passa de “um pingo d’água”. Mas aprendi em cinco eleições que acompanhei de perto no Brasil, e uma em Angola, que se dá mal o candidato que acaba se submetendo a regras ditadas pelos adversários.

Tão logo Lula admitiu que poderia ser candidato à vaga de Bolsonaro, muitos disseram que ele deveria escrever uma nova Carta aos Brasileiros como a de 2002, quando se elegeu pela primeira vez. Aquela foi uma carta destinada a banqueiros e empresários que resistiam aos encantos dele. Resistem até hoje.

Lula não se elegeu por ter escrito a carta, nem por travestir-se de Lulinha Paz & Amor. A inflação sob controle que garantira a eleição e a reeleição de Fernando Henrique Cardoso voltara a crescer. O desemprego, também. O eleitor é antes de tudo um pragmático e não perdoa quem lhe melhora a vida e depois piora.

Não perdoou Dilma, embora ela tenha sido reeleita. A eleição de 2014 foi a mais apertada desde a redemocratização do país. Dilma venceu por uma diferença de apenas 3 pontos. Como prometera governar de um jeito e começou governando de outro, foi abandonada pelos que a  apoiaram, e derrubada pelo Congresso.

Uma coisa é combater as notícias falsas que podem aumentar a vantagem de Bolsonaro sobre Lula entre os evangélicos. Outra coisa muito diferente é cair na arapuca da luta do bem contra o mal. Isso só interessa a Bolsonaro e aos seus fanáticos, entre eles Michelle, a primeira-dama pastora convocada a ajudar o marido.

Um pingo d’água pode evoluir para um vendaval a depender da maneira como for encarado.

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