Finalmente a oposição ao governo de Jair Bolsonaro na Câmara acordou e resolveu trabalhar. Isso obrigou o deputado Arthur Lira (PP-AL) a adiar a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que aplica calote no pagamento de dívidas judiciais vencidas (precatórios) e abre espaço no Orçamento para mais gastos do governo em ano eleitoral.
A PEC foi aprovada há quase uma semana em comissão especial da Câmara. Seria votada, ontem, pelo plenário, onde precisa de 308 de um total de 513 votos para ser remetida ao Senado. Aí partidos da oposição, antes dispostos a apoiá-la, mudaram de lado. Ao mesmo tempo, cresceu no Senado a resistência a aprová-la. Então, Lira resolveu refazer suas contas.
Talvez seja votada hoje. Talvez fique para amanhã. A pretexto de garantir o pagamento de um auxílio de 400 reais por mês aos brasileiros mais pobres, a proposta permite que o governo amplie seus gastos no próximo ano em R$ 83 bilhões. Será uma festa para Bolsonaro, interessado em comprar votos no varejo e no atacado e em tentar recuperar parte da popularidade perdida.
Pegou mal para a oposição junto ao mercado financeiro a posição inicial de apoiar a reforma por causa do auxílio que ela admitia passar de 400 para 600 reais ou até mais. Lula chegou a dizer: é dinheiro do povo, que ao povo retornará. Ocorre que acabaria sendo retomado, porque vai implicar mais inflação, juros altos, recessão, desemprego e fuga de investidores.
“Isso vai criar uma bola de neve. Os precatórios têm de ser pagos”, diz o vice-líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP). “Essa ideia é fiscalmente irresponsável”, faz coro o líder da oposição, Alessandro Molon (PSB-RJ). “As incertezas até a aprovação do texto vão continuar, mas nesta quarta-feira teremos um texto aprovado ou não”, prometeu Lira. A conferir logo mais.