As eleições decretaram a vitória de Lula há três semanas e a extrema-direita não desiste de fazer barulho. O bolsonarismo segue animando sua claque com o silêncio do presidente, os abraços aos quartéis e declarações falsas ou ambíguas dos principais líderes. Uma força que une militares, políticos e empresários que desejam golpear a democracia e impedir a posse de Lula, com o argumento tresloucado de afastar o comunismo no país. Mas isso vai até quando?
Podemos esperar que a Copa do Mundo arrefeça os acampamentos militares, mas a posse de Lula e seus primeiros meses de governo prometem ser tensos. Serão muitos apitos de cachorros (dog whistle), expressão norte-americana para mensagens cifradas de líderes políticos enviadas para seu grupo de apoio. No Brasil, evidentemente, usamos a analogia do berrante para o gado bolsonarista.
E são apitos contínuos. Walter Braga Netto, vice na chapa derrotada, disse para apoiadores na última sexta-feira: “Vocês não percam a fé, é só o que eu posso falar para vocês agora”. E não explicou mais nada. Em vídeo publicado no sábado, o general André Luiz Allão, comandante da 10ª Região Militar do Exército, em Fortaleza (CE), disse à tropa que protegerá os participantes e tentou normalizar esses atos.
Só os militares são golpistas? Valdemar Costa Neto, presidente do PL, divulgou vídeo questionando mais uma vez a legitimidade das urnas. Toda classe política bolsonarista, Bia Kicis, Carla Zambelli, os filhos do atual presidente, entre tantos, usam suas redes sociais incansavelmente com mensagens contra a democracia.
Mas só militares e políticos? E os empresários que ajudam a bancar os acampamentos e as fake news nas redes sociais são o quê? Basta lembrar do grupo de empresários que virou alvo de mandados de busca e apreensão em agosto deste ano, determinados pelo ministro Alexandre de Moraes. Nas mensagens, eles defenderam um golpe de Estado no Brasil caso Lula vencesse as eleições. Luciano Hang, os representantes das empresas Coco Bambu, Mormaii, Tecnisa foram citados. Há 4 dias Moraes determinou o bloqueio das contas bancárias de 43 pessoas físicas e empresas suspeitas de financiar os atos que contestaram a vitória de Lula.
Mais que emular o discurso de 64, a extrema-direita mantém o tripé que sustentou o golpe e a ditadura civil-militar que governou o país por cerca de duas décadas. Excetua-se apenas o apoio maciço da imprensa na época, já que hoje em dia, os algoritmos fazem parte de sua base de sustentação.
O lugar comum costuma associar o golpe de 1964 aos fardados. Mas é preciso sublinhar que militares, políticos e empresários estão todos juntos contra a democracia, em sua versão 2022. É um fio ideológico que ficou submerso até a segunda vitória de Dilma e que tão cedo não deixará nosso cenário político. A ameaça à democracia permanecerá e sua defesa não pode depender apenas da Justiça ou das decisões do STF.