Lula escapará sem maiores lesões à tentativa dos seus adversários de juntarem o que ele disse que pensara em fazer com Sérgio Moro à época em que ficou 580 dias preso em Curitiba, com a descoberta feita agora pela Polícia Federal de que o crime organizado planejava matar o ex-juiz e outras autoridades políticas.
Mas poderia aproveitar o episódio para refletir sobre as vantagens e desvantagens de governar em modo palanque. Seus instintos mais primitivos estavam à flor da pele quando ele dizia, do fundo da cela, o que pensava a respeito de Moro. Natural que estivessem. Sentia-se injustiçado, e injustiçado foi, segundo a Justiça.
Por que, todavia, cometer a indiscrição de, uma vez eleito e no exercício do cargo de presidente da República, reportar-se ao fato que só a ele poderia interessar? Vitimar-se? O que isso lhe acrescentaria? Seus seguidores já o tratam como vítima de Moro. Bolsonaro é que não perde a ocasião de se comportar como vítima.
Mais recato e cuidado com as palavras não faz mal a ninguém. Um presidente dispõe de muita gente para falar por ele sem necessariamente lhe fazer mal. Pode-se governar com o gogó, Fernando Henrique admitiu que o fez no seu primeiro mandato. Mas ele dispunha de um Plano Real que baixou a inflação.
Por ora, Lula, que também sempre foi muito bom de gogó, não dispõe de nada parecido. Seu terceiro mandato será muito mais difícil do que foram o primeiro e o segundo. Há um antigo ditado árabe que diz: “Palavra é prata, o silêncio é ouro”. Ensinou Sófocles, o grego: “O raciocínio e a pressa não se dão bem”.