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Como distinguir o que é fato do que não passa de flor de recesso

Só Lula sabe

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
O presidente eleito Lula acena ao chegar no CCBB, sede do governo de transição, pela primeira vez - Metrópoles
1 de 1 O presidente eleito Lula acena ao chegar no CCBB, sede do governo de transição, pela primeira vez - Metrópoles - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

É inevitável: com o Congresso e a Justiça de férias, só as flores do recesso são capazes de preencher o vazio de fatos. Foi o deputado Thales Ramalho (PE), Secretário-Geral do MDB à época da ditadura militar, que cunhou a expressão “flores do recesso”.

São palpites, impressões, desejos postos a circular, geralmente tratados como se  fossem fatos, enquanto deputados, senadores e juízes desfrutam do merecido descanso. As flores murcham depois do retorno deles ao trabalho. E a vida real se impõe outra vez.

Já existiram especialistas na plantação de flores de vida curta. Um deputado gaúcho, nos anos 1980, estava sempre de prontidão aos domingos para socorrer jornalistas sem notícias. E quase sempre em off, quando provocado, dava asas à imaginação e ao que ouvia.

Uma flor do recesso, nos anos 1970, sobreviveu por muitos meses: foi a pretensa abertura de diálogo entre os militares e a oposição ao regime. Ela nasceu num domingo, quando um jornalista aflito perguntou a respeito ao deputado Fernando Lyra (MDB-PE).

“Eu não tinha ainda pensado sobre isso, mas pode ser”, respondeu Lyra. O jornal estampou na capa do dia seguinte: “Lyra propõe a abertura de diálogo com os militares”. Foi um auê.  Militares nacionalistas disseram que seria possível. Deu em nada.

Em fim de ano eleitoral, com a montagem de novos governos, fica mais difícil distinguir o que é fato do que é flor do recesso. E sempre se poderá dizer depois que as flores, a certa altura, eram fatos de verdade que acabaram sendo superados por outros.

Lula já disse que Alckmin não será ministro. O próprio Alckmin negou que acumulará a vice-presidência com um ministério. Mas, o que importa? Lê-se  que ele será ministro da Economia, embora não se deva desprezar a hipótese de ser ministro da Defesa.

E Fernando Haddad (PT)? É nome mais do que certo na Educação, contra sua vontade, é claro, que prefere o Planejamento, ministério a ser recriado. Ele não recusaria, porém, o Itamaraty, também ambicionado pelo senador Jaques Wagner (PT-BA). Ou não?

É certo que Wagner, Rui Costa (PT), ex-governador da Bahia, e o senador Otto Alencar (PSD), reeleito e amigo de Lula, poderão ser ministros. Mas três ministros só para a Bahia? A Bahia tem lá seus encantos, mas Lula tem muita gente para empregar.

Fato, fato mesmo: se depender de Lula, e depende dele, e a levar-se em conta como procedeu das vezes que se elegeu, só ele sabe, e não diz, quem irá para o governo, e aonde. E ele só fará isso depois da Copa do Mundo. A não ser… A não ser que queira fazer antes.

Quem tem prazo não tem pressa, ensinou Marco Antônio Maciel, vice-presidente nos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da Câmara dos Deputados e ex-governador de Pernambuco. O prazo de Lula acaba em 31 de dezembro.

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