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Brasil, o país do futuro que nunca chega

Um dos campeões da desigualdade social

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Menino de uniforme azul, de costas, com mochila vermelha, caminhando em escola
1 de 1 Menino de uniforme azul, de costas, com mochila vermelha, caminhando em escola - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Daqui a mais um tempo, a tragédia de São Sebastião, no litoral paulista, só será lembrada por suas vítimas ou parentes delas. Ou então quando repetir-se em outro lugar. Dela se dirá: foi um evento extremo, um dilúvio como nunca se viu, culpa da natureza.

Culpa também da humanidade que agride a natureza como se ela fosse inesgotável e incapaz de reagir. Culpa da omissão e da inépcia dos administradores públicos indiferentes ao que possa acontecer com as camadas mais pobres dos brasileiros.

Dirão os esperançosos: mas um dia o morro vai descer e cobrará seu preço. Vejo o morro descer a cada carnaval para o desfile de escolas de samba e de blocos de rua, e quase todas as vezes limita-se a servir aos que se divertem e arrumar uns trocados, é só.

Resiliência dessas pessoas ou conformidade? As duas coisas. Enquanto a conformidade prevalecer, porém, nada mudará no país que está entre os maiores e mais ricos do mundo, mas onde a fome ainda flagela um expressivo percentual de sua população.

Está no artigo 3º da Constituição em vigor, também conhecida como Constituição Cidadã, que os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil são:

 I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II – garantir o desenvolvimento nacional;

III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.

Impecável como carta de boas intenções. Uma vergonha ao se comparar o escrito com a realidade. Em uma sociedade livre, justa e solidária, ninguém pode passar fome, e aqui mais de 33 milhões passam; ninguém pode ficar ao desalento por falta de abrigo.

Não é solidária uma sociedade onde os ricos constroem casas em áreas seguras, e os pobres as áreas sujeitas a desabamentos. Está muito longe de ser justa uma sociedade onde poucos podem assegurar aos filhos uma educação de boa qualidade.

Reproduzimos ou aprofundamos a desigualdade a cada geração. A pedido do jornal O Estado de S. Paulo, o Instituto de Ensino e Pesquisa produziu um relatório sobre os gastos das famílias brasileiras com a educação dos filhos até os 18 anos.

Para as famílias que integram a classe C, com renda familiar mensal de R$ 5.281 até R$ 13,2 mil, o gasto varia entre R$ 480 mil e R$ 1,2 milhão. Na classe B (entre R$ 13.201 e R$ 26,4 mil de renda mensal), o gasto vai de R$ 1,2 milhão até R$ 2,4 milhões.

Já na classe A, o gasto estimado parte de R$ 3,6 milhões e continua a subir em função da renda familiar. O estudo foi conduzido por Juliana Inhasz, professoras e coordenadora do curso de economia do instituto, que observa:

“Falamos muito sobre a distribuição de renda, mas dá para entender por que isso se perpetua. É muito difícil colocar alguém da classe D ou E para competir com alguém da classe A. A diferença de investimento nos filhos é absurda”.

O Brasil faz parte do bloco dos 10 países mais desiguais do mundo. Há alguns anos, havia saído do Mapa da Fome, mas recentemente voltou. Aumentou a extrema pobreza, e por tabela, a concentração de renda. Parece condenado a ser para sempre o país do futuro.

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