Conta a lenda que a mãe de dom Hélder Câmara, ex-arcebispo de Olinda e Recife e a caminho de ser beatificado pela Igreja Católica, era especialista em adivinhar o sexo dos bebês ainda na barriga das mães. Ela morava em Fortaleza no início do século passado. Sua casa vivia repleta de grávidas em busca de uma única resposta: menino ou menina?
A mãe de dom Hélder entrevistava cada mulher em separado. Perguntava se era sua primeira gravidez, quando engravidara, se tinha filhos, qual o sexo deles, e se queria ter um menino ou menina. Por fim, acariciava a barriga da mulher, rezava em voz baixa para Nossa Senhora do Bom Parto e decretava: “Será menino (ou menina).”
Em uma grossa e puída caderneta de capa preta, anotava com sua letra miudinha e irregular o nome da mulher, a data da consulta e o vaticínio sobre o sexo do bebê. É claro que ela só acertava metade das previsões. As mães satisfeitas se encarregavam de propagar a fama de adivinha da mãe de dom Hélder.
Mas algumas, frustradas, a procuravam para se queixar. Ela perguntava então o nome da mulher. Consultava a caderneta. E localizava ali o nome dela, a data da consulta e o vaticínio sobre o sexo. Bingo! Acertara mais uma vez. A mulher é que ouvira errado. Esperta, a mãe de dom Hélder. Espertíssima.
Sempre registrava na caderneta o contrário do que dizia. Se dizia: “Menino”, anotava: “Menina”. Resultado: quando errava tinha como provar que acertara. E quando acertava não precisava provar nada. De certo modo, ela foi precursora do exame de sexagem fetal.