Política equatoriana se reorganiza após “morte cruzada” e eleições
Presidente Guillermo Lasso anunciou que não disputará pleito em agosto
atualizado
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Os partidos de oposição, que reuniam legendas à direita e à esquerda, tinham um adversário comum, o presidente Guillermo Lasso. Com a “morte cruzada” decretada por Lasso reconhecida pela Justiça do país, a dissolução do Congresso e as novas eleições marcadas para 20 de agosto, o cenário político se transforma. As fraturas dessa união temporária são expostas, os interesses e ideologias partidárias se impõem. A instabilidade política no Equador não cessa.
O UNES (União pela Esperança), que era chamado Revolução Cidadã e também conhecido por correísmo, com sua ligação com o ex-presidente Rafael Correa, vê a oportunidade de retomar parte do espaço perdido nas últimas eleições. O candidato presidencial é uma incógnita, e a sigla deve apostar em aumentar suas cadeiras no Legislativo, já que o recado das urnas foi claro.
Em 2021, no primeiro turno, o candidato correísta Andrés Arauz foi o candidato mais votado com 32,7%, seguido por Lasso, com 19,7% e Yaku Pérez, do Movimento de Unidade Plurinacional Pachakutik, com 19,4%. A virada improvável aconteceu no segundo turno: Lasso 52,5% x 47,5% Arauz. Após dois mandatos exitosos e a decepção com Lenín Moreno (2017-2021), aparentemente o eleitorado não dará mais carta branca ao correísmo.
Enquanto o Pachakutik, o PSC (Partido Social Cristão) e outros partidos da oposição tentaram impedir a “morte cruzada”, a UNES adotou o discurso legalista. Criticou a decisão de Lasso, mas considerou-a constitucionalmente aceitável. Quer eleições.
Como lembra a newsletter Giro Latino, o Pachakutik, movimento político ligado ao Conae (Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador) teme perder as conquistas das eleições passadas, com a boa votação de seu candidato presidencial e a bancada mais representativa de sua história, com 24 parlamentares. Considera Lasso um péssimo mandatário, mas não vê no correísmo um aliado imediato, com sua política de exploração de minérios que desrespeita seus princípios fundamentais. O PSC já anunciou o lema “nem Lasso, nem Correa”.
Lasso e seu grupo político, o Criando Oportunidades, que tinha apenas treze congressistas, elegeram Rafael Correa como inimigo. Em entrevista à CNN, o presidente afirmou que o processo de impeachment foi “um plano macabro para assumir o controle das instituições estatais”, que visa permitir o “regresso de um presidente condenado por corrupção pelo Tribunal Nacional de Justiça e que não quer cumprir uma sentença estabelecida de oito anos”. Aguarda-se como a legenda reagirá, com candidato próprio ou apoiará um nome.
Se em 20 de agosto um candidato não conseguir a maioria dos votos, o segundo turno ocorrerá no dia 15 de outubro. Nos próximos seis meses, Lasso governa o país por decretos. Seu primeiro foi fortalecer a economia familiar, com a redução de impostos para empresas populares, taxistas e artesãos.