Ter o nome anunciado pausadamente por Geraldo Alckmin como integrante de um daqueles grupos técnicos da transição é quase a glória para o indicado. Sob holofotes, cobertura e transmissão ao vivo da imprensa, o vice-presidente anuncia com pompa os nomes dos escolhidos, duas vezes até, num palco.
Mas aí se dá início um “assédio” sem controle sobre os integrantes desses grupos. É gente pedindo emprego, enviando currículo, dando sugestões de políticas e ações a serem adotadas, pedindo audiência. Setores específicos fazem também seus lobbies.
“A partir dali, a vida da gente muda. Chove mensagens no teu celular, tem pedidos de emprego, envios de currículo, ligação de jornalista que nunca te procurou e as pessoas te chamando de ‘ministro’. Muda a vida da gente” – disse um integrante de um dos GTs do Grupo da Transição, que pediu para não ser identificado para não ter problemas.
As listas dos grupos são aguardadas com expectativa pela imprensa, que dá plantão diário, dia e noite, no Centro Cultural do Banco do Brasil, o CCBB, onde funciona o QG da transição do governo Lula. Pelo menos 70 jornalistas se concentram ao mesmo tempo durante o dia no local.
Os escolhidos pelo comando da transição – vários conhecidos e outros menos – viram alvos e ganham notoriedade da noite para o dia. Integrar o grupo já causa até inveja entre petistas. A bancada do partido na Câmara se queixou essa semana e a presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, que também coordena a transição, irá incluir alguns parlamentares, que serão anunciados por Alckmin.
Um desses escolhidos disputou e perdeu a eleição para deputado em outubro. E relata:
“O meu número de seguidores nas redes sociais, depois que fui anunciado aqui no GT, triplicou em um dia. Se fosse na eleição, eu teria sido eleito” – contou, também pedindo anonimato.
“A gente vira Deus. Todo mundo te procura” – completou.
Integrante do grupo da Indústria e Comércio, o deputado federal Marcelo Ramos (PSD-AM) conta que recebe mensagens, mas diz que as pessoas têm a clareza que o momento agora é de levantar os problemas.
“Você acaba recebendo mensagens das pessoas que são vinculadas a órgãos do estado relacionado a essa área. E como tenho uma interlocução muito grande com o setor produtivo nacional recebo mensagens. Mas o presidente Lula deixou claro e fez imagem precisa. A transição é máquina de ressonância magnética, que vai fazer o diagnóstico de imagem do paciente. Quem vai definir o tratamento e o medicamento depois serão os médicos, que são os ministros” – disse Ramos.
Essa procura também se dá muito em cima dos 41 ex-ministros dos governos do PT – de Lula e Dilma – que integram a transição. Petistas que trabalharam nos ministérios tentam voltar ao governo agora com o retorno de Lula ao Palácio do Planalto.
O deputado Neri Geller (PP-MT), que coordena do Grupo de Agricultura e já foi ministro da Agricultura, falou um pouco sobre essa relação com as pessoas após sua indicação. Ele se reúne com frequência o CCBB e sempre concede entrevistas.
“Na verdade, estou até fugindo. É muita gente ligando, mas atendo o máximo que posso. Mas o trabalho é muito técnico. As pessoas procuram, eu respondo. As coisas que não posso falar, não falo” – disse Geller.
Já passa de 300 o número de integrantes dos 31 grupos técnicos. A cada indicação, a assessoria da transição divulga um perfil biográfico. Lula e Alckmin já disseram que estar na transição não significa que o indicado será ministro ou que terá cargo no governo.