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Uma eleição exemplar (por João Bosco Rabello)

Anastasia mostrou-se uma garantia de competência e seriedade para o cargo no TCU na visão de todos os atores do processo

atualizado

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Edilson Rodrigues/Agência Senado – 14/12/2021
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1 de 1 anastasia - Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado – 14/12/2021

A aprovação de Antônio Anastasia para o Tribunal de Contas da União foi uma vitória de Gilberto Kassab, Aécio Neves e Rodrigo Pacheco – mas, sobretudo, do próprio Anastasia, cujo mandato exerceu de forma profissional e independente, conquistando seus pares.

De perfil que conjuga técnica e política, extremamente profissional e consequente, Anastasia mostrou-se uma garantia de competência e seriedade para o cargo na visão de todos os atores do processo. É do ramo, foi governador e, portanto, conhecedor da gestão pública, e como senador confirmou essas virtudes.

De início, atraente, a leitura de que sua vitória representa uma derrota para o governo se mostrou precipitada. O governo não entrou em campo, o que não é um comportamento passivo. Antes, é da dinâmica da política.

Verdade que o filho do presidente, senador Flávio Bolsonaro, declarou apoio à senadora Kátia Abreu – mais um gesto que um voto. Kátia Abreu teve por padrinho o relator da CPI da Covid, Renan Calheiros, e tem por suplente um quadro do PT, que ganharia um senador caso fosse vitoriosa.

Além disso, pesa contra a senadora sua trajetória errática desde que assumiu o ministério da Agricultura no governo de Dilma Rousseff, filiando-se, para isso, ao MDB. Com origem no DEM, passou ao PSD, depois ao MDB, está no PP e, no comando da pasta, deixou aos poucos o figurino de representante do agronegócio para vestir a camisa do governo do PT ante a ameaça de impeachment, afinal consumado.

Esteve na linha de frente contra a deposição de Dilma e tem dificuldades hoje de reeleger-se pelo Tocantins. Sua decisão de concorrer ao TCU teve essa motivação. Não constitui, portanto, uma candidatura palatável ao governo Bolsonaro. Bem que tentou e recebeu alguma garantia de que teria o apoio, mas, ao que parece, pró-forma.

Último na fila, Fernando Bezerra nunca teve chances concretas de vencer. Com problemas judiciais não era bem visto pelos ministros do TCU que, às vésperas da eleição, exigiram um atestado de ficha limpa aos candidatos. Deixou a liderança do governo em uma casa pouco amistosa com Bolsonaro.

Para o governo, melhor ficar bem com Minas. Ao se omitir, deixou espaço para capitalizar essa neutralidade. Anastasia esteve, desde sempre, eleito. O placar dilatado, com 52 votos, o dobro da soma dos votos dos adversários, fala por si mesmo.

 

João Bosco Rabello escreve no Capital Político 

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