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Uma agonia a cada dia (por Mirian Guaraciaba)

Siricutico do mercado é preconceituoso

atualizado 22/11/2022 0:12

imagem colorida do painel da Bolsa de Valores

Nada será fácil para Lula. E não apenas em conseqüência do antilulismo doentio, exibido em atos antidemocráticos, alucinados, que já duram três semanas sem que a policia ou a Justiça interfiram, nem da ciumeira crescente dentro do próprio partido e aliados do Presidente eleito – inaceitável implicância com Simone Tebet, figura importante na eleição de Lula. Querelas inoportunas, imaturas, fora do tempo.

De mais a mais, não será uma caturrice de sua base ou hostilidade da Faria Lima que vai desviar Lula de seu principal objetivo: o resgate da cidadania plena aos que tem fome e sede de uma vida digna. São urgentes as providências, anunciadas ou não, para remir da extrema pobreza milhões de brasileiros, lutar contra o destruição da Amazônia, retomar as rédeas da educação e da saúde públicas, reconstruir pontes com setor cultural.

E será sim com o furo no teto de gastos. É hipocrisia apoiar Lula e cobrar dele uma “coerência” que não permite executar programas sociais cada vez mais prementes, nem tolera fechar as contas entre o social e o fiscal. Como defender “responsabilidade” que mata de fome milhões de brasileiros?

Sim, será com furo no teto. No Egito, onde participou da Conferência do Clima da ONU, o Presidente eleito cutucou o “mercado”: “A bolsa cai, o dólar sobe? Paciência. Isso não acontece por causa das pessoas sérias, mas por conta dos especuladores. Nós temos que cumprir meta de inflação, sim, mas temos que ter meta de crescimento, de geração de emprego, aumentar o salário mínimo acima da inflação”.

Semana passada, a jornalista e articulista Flávia Oliveira chamou o teto de gastos de “ficção fiscal, comparável à cloroquina no enfrentamento da Covid”. Em seu festejado artigo em O Globo, Flavia frisou que, desde que foi instituído, em 2016, o teto nunca foi respeitado. Nem por Temer, que o criou, nem por Bolsonaro, que fez nele um rombo gigantesco.

Só Lula foi injuriado. O preconceito falou mais alto. Chama-se aporofobia e é crime. Se não é discriminação, perseguição ou intolerância, porque não analisam os resultados de oito anos de governo Lula? Por exemplo: em dezembro de 2010, as reservas internacionais tinham passado de US$ 37,6 bilhões (janeiro de 2003) para US$ 288,57. E já que vem ao caso, Lula encerrou seu governo com 80% de aprovação.

O mercado não teve siricutico com Paulo Guedes. Olha aí o preconceito. Levantamento feito pelo economista Braulio Borges, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, os gastos acima do teto do governo – derrotado legitimamente nas urnas – foram de R$ 794,9 bilhões. O que a equipe de transição de Lula propõe é tirar do teto R$ 175 bilhões para a Bolsa Familia.

Apesar deles, e disso tudo, ainda assim, estamos caminhando para a inadiável reconstrução. Não será fácil, mas o “mercado” não paga nossas contas. E aos que não aceitam perder, cantam Hino Nacional para pneu, se ajoelham em frente aos quartéis, e falam com ETs, sessões de psicanálise diárias. Bolsonaro que cure sua erisipela, e as feridas da derrota. Acabou. Mais da metade do Brasil está feliz. Lula está feliz. O País respira aliviado.

E A COPA? Confesso zero interesse pela seleção canarinho. No Catar, então… Nada a ver com Bolsonaro. Desde os 7 a 1, perdi a graça de torcer. Esses meninos ganham muito, muito dinheiro pra nos entregar derrota tão vergonhosa, em 2014. No ensejo, recomendo duas séries sensacionais no Prime (não são documentários). “El Presidente” e “O jogo da corrupção”. Tratam dos escândalos do futebol mundial, com nome e sobrenome de cartolas de todo o mundo. Havelange, Ricardo Teixeira, e cia. O último traz Maria Fernanda Candido e Du Moscovis.

BOA NOTÍCIA – Um refresco para o Presidente eleito: a ultima pesquisa “A Cara da Democracia”, do Instituto da Democracia, encomendada pelo CNPq e Fapemig, ainda em setembro, já mostrava que a maioria dos entrevistados tem ojeriza ao Capitão e não a Lula.

Mirian Guaraciaba é jornalista